Ciclone faz Índia e Paquistão evacuarem dezenas de milhares de pessoas
Ciclone Biparjoy deve atingir o sul do Paquistão e o oeste da Índia nesta quinta-feira (15) com ventos de 150 km/h, equivalentes a um furacão de categoria 1, colocando milhares de vidas humanas em risco
Dezenas de milhares de pessoas estão sendo evacuadas enquanto a Índia e o Paquistão se preparam para o impacto do ciclone Biparjoy, que deve atingir áreas densamente povoadas do subcontinente na quinta-feira (15), colocando milhões de vidas em risco.
O Biparjoy tem atravessado o nordeste do Mar da Arábia, indo em direção ao sul do Paquistão e ao oeste da Índia desde o final da semana passada, com ventos de 160 km/h e rajadas de até 195 km/h. Ele enfraqueceu ligeiramente desde terça-feira, sustentando ventos de 150 km/h, equivalentes a um furacão de categoria 1.
A chegada do ciclone é esperado na tarde de quinta-feira, horário local, trazendo a tripla ameaça de chuva forte, ventos prejudiciais e tempestades costeiras em toda a região, de acordo com o Departamento Meteorológico da Índia.
As evacuações em massa começaram na província de Sindh, no Paquistão, com cerca de 60 mil pessoas enviadas para abrigos temporários, segundo as autoridades locais. Nuvens de poeira envolveram algumas partes da província, reduzindo a visibilidade e afetando a respiração de muitos.
A capital da província, Karachi, a maior cidade do Paquistão, com uma população de 22 milhões de pessoas, fechou shoppings e empresas ao longo da costa.
A companhia aérea nacional do Paquistão, PIA, implementou uma série de medidas de precaução, incluindo segurança operacional 24 horas por dia para minimizar qualquer risco potencial para vidas ou equipamentos.
“Nunca vi ventos como este na minha vida antes. As pessoas estão com muito medo”, disse Leela Ram Kohli, moradora de Sindh no distrito de Badin.
No estado indiano de Gujarat, cerca de 45 mil pessoas foram evacuadas das áreas costeiras, disseram autoridades na quarta-feira (14). O gado também foi transferido para terrenos mais altos, algumas escolas foram fechadas e a pesca suspensa.
Avisos de chuva forte estão em vigor na região norte de Gujarat, onde a precipitação total pode chegar a 25,5 centímetros, levando a enchentes e deslizamentos de terra.
No estado vizinho de Maharashtra, lar de cerca de 27 milhões de pessoas e uma comunidade de pescadores considerável, ventos fortes devem atingir partes da capital financeira de Mumbai. Ondas altas atingiram estradas costeiras esta semana, transformando-as em rios.
Quatro meninos morreram afogados na costa de Mumbai na segunda-feira, disse Rashmi Lokhande, funcionário sênior de desastres do órgão administrativo regional, à CNN.
Desde os afogamentos, as autoridades locais mobilizaram policiais e salva-vidas ao longo das praias para impedir que as pessoas entrem no mar.
As autoridades de ambos os países alertaram os residentes a procurar abrigo e ficar seguros.
A ministra da Mudança Climática do Paquistão, Sherry Rehman, alertou sobre baixar a guarda com o leve enfraquecimento da tempestade, dizendo no Twitter “é altamente imprevisível, então, por favor, não leve isso de forma casual”.
Uma ameaça crescente
O ciclone Biparjoy ocorre menos de um ano após a chuva recorde de monções e o derretimento de geleiras devastarem áreas do Paquistão, ceifando a vida de quase 1.600 pessoas.
Naquela ocasião, a força da enchente arrasou casas, deixando dezenas de milhares de pessoas presas na estrada sem comida ou água potável e vulneráveis a doenças transmitidas pela água.
Uma análise das inundações do ano passado pela iniciativa World Weather Attribution descobriu que a crise climática desempenhou um papel importante. Ele disse que a crise pode ter aumentado a intensidade das chuvas em até 50%, em relação a uma chuva de cinco dias que atingiu as províncias de Sindh e Baluchistão.
A análise também descobriu que a probabilidade dessas inundações era de 1 em 100 anos, o que significa que há 1% de chance de chuvas igualmente fortes a cada ano.
Um estudo publicado em 2021 na Frontiers in Earth Science por pesquisadores do Instituto de Inovação Meteorológica de Shenzhen e da Universidade Chinesa de Hong Kong, descobriu que os ciclones tropicais na Ásia podem ter o dobro do poder destrutivo até o final do século, com cientistas dizendo que a crise climática causada pelo homem já os está tornando mais fortes.
Naquele ano, o ciclone tropical Tauktae, uma das tempestades mais fortes já registradas, atingiu a costa oeste da Índia, matando pelo menos 26 pessoas em cinco estados.
Os ciclones tropicais estão entre os desastres naturais mais perigosos. Nos últimos 50 anos, esses ciclones causaram quase 780 mil mortes e cerca de US$ 1,4 bilhão em perdas econômicas em todo o mundo, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial.