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    China e Rússia criticam Israel enquanto divisões com Ocidente se agravam

    Líderes mundiais compartilham visão de nova ordem internacional sem os Estados Unidos

    Simone McCarthyda CNN

    O líder da China, Xi Jinping, deu as boas-vindas ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Pequim, nesta terça-feira (17), para o início de uma visita que deverá enfatizar a visão compartilhada dos dois líderes para uma nova ordem internacional, que não seja mais dominada pelos Estados Unidos e pelos seus aliados democráticos.

    O encontro entre os dois autocratas mais poderosos do mundo ocorre em um momento em que as divisões geopolíticas se agravam a nível global – primeiro após a opressiva invasão da Ucrânia pela Rússia, lançada apenas três semanas após a última reunião dos líderes na capital chinesa em 2022 – e agora com a guerra de Israel contra militantes palestinos.

    O grupo radical islâmico Hamas ameaça transformar em um conflito mais amplo que poderá destruir a estabilidade no Oriente Médio.

    Tanto Pequim quanto Moscou criticaram as ações de Israel e pediram por um cessar-fogo, na mais recente demonstração dos esforços das duas potências para intensificar a liderança alternativa em relação ao dos EUA, o que afirma o direito contínuo de Israel de retaliar.

    A visita de Putin a Pequim ocorre no momento em que o presidente dos EUA, Joe Biden, prepara-se para viajar a Israel na quarta-feira (18).

    Espera-se que Biden dê uma demonstração de apoio de alto nível a Israel com este tentando eliminar o Hamas, enquanto os EUA pressionam por formas de aliviar o sofrimento humanitário na Faixa de Gaza e alertam outros países da região sobre um maior envolvimento no conflito.

    Espera-se que Xi e Putin discutam a situação em Gaza durante uma reunião bilateral na quarta, antes da cerimônia de abertura do Fórum do Cinturão e Rota em Pequim – uma viagem ao exterior excepcionalmente rara para o líder diplomaticamente isolado, que é tratado em Pequim como convidado de honra.

    Espera-se que os chefes de Estado, representantes e delegações de mais de 140 países participem no emblemático evento diplomático de dois dias da China, que começa esta terça-feira, que marca dez anos desde o início da campanha de financiamento global de infraestruturas de Xi, e apresenta ao líder chinês uma oportunidade de projetar as crescentes ambições globais de Pequim.

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    Pressão pela paz?

    O fórum organizado em Pequim, em um momento em que Israel sinaliza que pode lançar uma invasão terrestre na Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, apresenta a Putin a oportunidade de desviar a atenção global da guerra na Ucrânia, dizem os analistas.

    A Rússia apresentou uma resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidos (ONU) pedindo um cessar-fogo. A moção, que não condenava o Hamas, foi apoiada pela China, mas rejeitada pelos EUA, Reino Unido, França e Japão na segunda-feira.

    O enviado da Rússia na ONU comparou, na última sexta-feira, o bombardeio diário de Gaza – controlado pelo Hamas – por Israel ao cerco brutal de Leningrado durante a Segunda Guerra Mundial.

    No outro extremo do espectro histórico, o presidente dos EUA, Joe Biden, descreveu este fim de semana o ataque terrorista do Hamas como o pior massacre de judeus desde o Holocausto.

    A China disse que mandará um diplomata ao Oriente Médio para encorajar conversas e condenou “todos os atos que prejudicam civis”, mas não direcionou, explicitamente, essa condenação ao Hamas, nem nomeou o grupo nas suas declarações.

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    Durante uma enxurrada de ligações diplomáticas nos últimos dias, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse que as ações de Israel “ultrapassaram o âmbito da autodefesa”.

    As declarações de ambos os países contrastam com as dos EUA, que deixaram claro o seu firme apoio a Israel – e sinalizaram que não consideram que esse seja o momento apropriado para um cessar-fogo.

    O conflito provavelmente aparecerá na próxima reunião de Xi e Putin, segundo o Kremlin. A guerra da Rússia na Ucrânia também deverá ser discutida pelos dois líderes.

    Também nesse conflito, a China tentou se posicionar como um potencial mediador.

    Mas quando surge o interesse da China em pressionar o líder russo a pôr fim na invasão, Xi pode ser cauteloso para não tomar qualquer medida que possa prejudicar as relações.

    Isso acontece, especialmente, porque ele está assistindo a uma potencial mudança nas posições globais sobre o conflito, apesar de sinais de mudança de atitudes, pelo menos em algumas partes da Europa – e uma próxima eleição nos Estados Unidos no próximo ano poderá desencadear uma mudança significativa no apoio norte-americano à Ucrânia.

    “Até agora, não vemos qualquer sinal de que a China esteja disposta a usar a sua vantagem [para pressionar a Rússia]”, disse Li Mingjiang, professor associado de relações internacionais na Universidade de Tecnologia de Nanyang, em Singapura.

    “Os políticos chineses não querem ver o menor nível de desconfiança entre Pequim e Moscou.”

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    Uma rara viagem

    Putin, que raramente deixou o bloco das antigas nações soviéticas desde o início da guerra, é rejeitado pelo Ocidente e procurado por um tribunal internacional por alegados crimes de guerra.

    Especialistas dizem que ele também não está disposto a viajar para qualquer lugar onde sinta que a segurança pessoal não pode ser absolutamente garantida. Ele fez a primeira viagem conhecida do ano fora do território controlado pela Rússia na semana passada, com uma visita ao Quirguistão.

    Porém, apesar das mudanças nas circunstâncias de Putin desde a última visita a Pequim, os dois líderes têm se tornado cada vez mais alinhados na apresentação de uma visão do mundo alternativa à oferecida pelo Ocidente – à medida que procuram trazer mais países para o lado dos próprios esforços para alterar o equilíbrio global de poder que sentem estar contra eles.

    Em uma entrevista à emissora estatal da China antes do evento, Putin elogiou Xi, chamando o presidente chinês de “firme, calmo, pragmático e confiável – um verdadeiro líder mundial” e elogiando a “abordagem única de lidar com outros países” que não demonstrou imposição ou coerção, mas antes proporcionou oportunidades a outros.

    Os dois líderes, que frequentemente se referem à estreita amizade, já se encontraram 41 vezes na última década, incluindo três desde o início da guerra na Ucrânia, incluindo esta semana.

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    Durante a reunião anterior em Pequim, Xi e Putin divulgaram uma declaração conjunta de 5 mil palavras, declarando uma parceria “sem limites” e sublinhando o seu profundo alinhamento contra o Ocidente.

    Participar no fórum será uma importante oportunidade para Putin “alcançar exposição internacional (…) e mostrar que a Rússia ainda tem um amigo forte na China”, disse Li em Singapura.

    “E para a China, ter um ator internacional importante como Putin para se juntar no Fórum do Cinturão e Rota, também é politicamente importante”, acrescentou. Caso contrário, espera-se que o fórum – o evento culminante do ano diplomático de Xi – inclua líderes de países de menor influência e de rendimento médio.

    ‘Sem limites’ não mais?

    A invasão da Ucrânia pela Rússia colocou à prova a crescente relação entre China e Rússia como nenhum outro evento na história recente, colocando Pequim sob forte escrutínio das nações ocidentais pelos laços estreitos com o vizinho do norte e levantando questões sobre se Xi tinha conhecimento prévio do plano de Putin.

    Desde então, Pequim reivindica neutralidade no conflito e pediu pela paz, intensificando nos últimos meses esforços para ser visto como um potencial mediador da paz, uma vez que as preocupações com os laços estreitos com a Rússia prejudicaram ainda mais as relações com a Europa e os Estados Unidos.

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    Mas a segunda maior economia do mundo também se tornou uma salvação fundamental para uma Rússia dominada por sanções, que agora depende dela para compras de bens e energia, e os dois países aprofundaram as interações, em uma série de áreas desde o início da guerra.

    No ano passado, a Rússia e a China registaram um comércio recorde, que continuou crescendo em 2023. Expandiram a cooperação em segurança por meio de mais exercícios militares conjuntos e de um diálogo oficial robusto, dizem os especialistas, e continuam aprofundando os laços diplomáticos – incluindo os de Putin e Xi que, no início deste ano, escolheu uma visita de Estado a Moscou como a primeira viagem ao estrangeiro simbolicamente significativa do seu terceiro mandato como presidente da China.

    “A China tenta, retórica e simbolicamente, colocar uma certa distância entre ela e a Rússia quando se trata de falar com o público ocidental”, disse Alex Gabuev, diretor do grupo de reflexão Carnegie Russia Eurasia Center, em Berlim.

    “[Mas] mesmo que não seja oficialmente apelidada de ‘parceria sem limites’, [a relação entre China e Rússia] tornou-se, em termos reais, mais sólida, robusta e profunda”, disse.

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