Chilenos escolhem independentes para reescrever Constituição do país
Coalizão governista não consegue garantir um terço dos assentos no organismo que redigirá nova Carta do país e terá dificuldade para impedir mudanças radicais
A coalizão governista de centro-direita do Chile sofreu uma derrota na noite de domingo (16), quando foi incapaz de garantir um terço dos assentos no organismo que redigirá a nova Constituição do país.
Com mais de 90% dos votos apurados, os candidatos apoiados pela coalizão Chile Vamos, do presidente Sebastián Piñera, só haviam obtido um quinto das vagas, enquanto os independentes estavam com a maioria.
Novas propostas exigirão uma aprovação de dois terços dos membros da Constituinte, e sem um terço dos delegados o governo terá dificuldade para impedir mudanças radicais na Constituição a menos que consiga forjar novas alianças.
O resultado e as derrotas dos candidatos governistas em eleições municipais e estaduais realizadas ao mesmo tempo são um mau sinal para Piñera e seus aliados nas eleições gerais e presidenciais de novembro.
A votação para escolher 155 cidadãos para reescreverem a Constituição surgiu dos protestos intensos contra a desigualdade e o elitismo que irromperam em outubro de 2019.
Muitos chilenos consideram que a Constituição atual, redigida durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), privilegia os grandes negócios em detrimento dos cidadãos comuns.
Até recentemente, o governo tinha confiança de que seus candidatos conquistariam ao menos um terço das vagas.
Piñera disse que seu governo e outros partidos políticos tradicionais deveriam ouvir o recado “alto e claro” de que não responderam adequadamente às necessidades dos cidadãos.
A nova Constituinte chilena será a primeira do mundo a estipular um número aproximadamente igual de homens e mulheres como delegados.
População terá que aprovar nova Carta
Uma vez formado, o grupo de constituintes tem um prazo de nove a 12 meses para formular o texto que deverá substituir a atual Constituição.
As alterações propostas deverão ser aprovadas por ao menos dois terços dos integrantes, número que, se não alcançado, anula a proposta e mantém a Carta atual.
Uma vez finalizado, o texto aprovado deverá ainda passar pelo crivo dos chilenos, por meio de um referendo a ser realizado na sequência. Se aprovada, a nova Constituição entrará em vigor imediatamente.