No Chile, Gabriel Boric promete ordem na economia e nomeação rápida de gabinete

O esquerdista chileno Gabriel Boric prometeu nesta segunda-feira (20) manter uma “economia ordenada” e avançar rapidamente na nomeação de seu gabinete, um dia depois de uma grande vitória eleitoral o levar a se tornar o mais jovem presidente democraticamente eleito do Chile.

Boric, um ex-líder do movimento estudantil que lidera uma coalizão de esquerda e prometeu reformular o modelo econômico do Chile, derrotou com firmeza o rival de extrema direita José Antonio Kast, que logo admitiu a derrota, ajudando a dar certeza ao resultado.

A vitória marcou um novo avanço para a esquerda da América Latina e reforçou as conversas sobre uma nova “maré rosa” na região, à medida que a pobreza crescente, alimentada pela pandemia do coronavírus, direciona os eleitores para aqueles que prometem um governo maior e com mais gastos sociais.

A ascensão de Boric —e a polarização mais ampla do voto— abalou os mercados do Chile e assustou as mineradoras, preocupadas com sua retórica de “enterrar” o modelo econômico do país, voltado para o mercado, aumentar os impostos e endurecer a regulamentação ambiental.

Boric, um ex-estudante de direito de 35 anos, prometia enterrar o modelo econômico “neoliberal” do Chile, mas, nas últimas semanas, suavizou o tom em um aparente aceno para eleitores mais centristas.

“Isso é algo que discutimos com nossa equipe acadêmica de assessoria econômica, é algo que mantenho, não foi apenas uma estratégia eleitoral, mas sim uma convicção”, disse Boric. “O Chile precisa de contas transparentes, uma economia ordenada, porque, do contrário, as reformas que fizermos podem acabar sendo revertidas.”

Ele disse que se esforçaria para nomear um gabinete dentro de um mês.

No discurso da vitória no domingo, ele abordou direitos indígenas, igualdade de gênero e meio ambiente, mas também falou sobre responsabilidade fiscal e disse que cuidaria da economia. O presidente recém-eleito criticou, no entanto, projetos de mineração que prejudicam o meio ambiente.

“Temos um desafio enorme. Sei que nos próximos anos está em jogo o futuro do nosso país, por isso garanto que serei um presidente que se preocupa com a democracia e que não a arrisca”, afirmou.

“Lutarei com firmeza contra os privilégios de poucos e trabalharei todos os dias pela qualidade da família chilena.”

Os progressistas chilenos festejaram até a madrugada desta segunda-feira, com milhares tomando as ruas com bandeiras e faixas na capital Santiago para comemorar a vitória eleitoral.

“Estou muito animado porque esta é uma conquista do povo. Foram muitos anos de abusos e precisamos de uma renovação dentro da política”, disse a apoiadora do Boric, Patricia Garrido, em meio a uma multidão que festeja nas ruas da capital. “Tenho muita fé e esperança na juventude.”

Líderes de esquerda em toda a região aplaudiram sua vitória: Alberto Fernandez na Argentina, Luis Arce na Bolívia, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Pedro Castillo, que se tornou presidente do Peru em julho.

“É espetacular. Em um ponto, pensamos que ia ser mais perto. Felizmente o fascismo não venceu com a extrema direita atual”, disse Andres Rodriguez, outro apoiador do Boric. “Há um grande projeto por trás do que estamos propondo: queremos unificar o sistema e igualar um pouco as coisas.”

Apesar de uma campanha que às vezes esquentava entre os dois candidatos opostos, Kast logo reconheceu a vitória, parabenizando Boric e pedindo que o resultado seja respeitado, importante em um momento em que o país tenta se curar e unificar.

“Estou super empolgado”, disse Cristian Aburto, um apoiador de Boric que trabalhava em uma seção eleitoral. “Acho que o mais importante é ver as pessoas aqui juntas. Todos nós queremos que as pessoas estejam unidas.”