Chefe do Hezbollah para a América Latina recrutou no Brasil, diz ministra argentina
Forças de segurança identificaram homem que estaria por trás de atentados na década de 1990
A ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, afirmou durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira (25) que o libanês Hussein Ahmad Karaki é o chefe de operações do Hezbollah na América Latina e que ele recrutou pessoas no Brasil.
Bullrich também alegou que ele tem relação com as organizações criminosas brasileiras Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) e que esteve no Brasil, Paraguai e Argentina entre os anos de 1990 e 1991.
Segundo as investigações, o suspeito entrou na Argentina em 1992 com um documento colombiano e comprou o carro-bomba que explodiu contra a embaixada israelense em Buenos Aires no mesmo ano. O veículo foi adquirido com uma identidade brasileira falsa, de acordo com autoridades argentinas.
Bullrich afirmou ainda que Karaki também recrutou Hussein Suleiman no Brasil para contrabando de explosivos na década de 1990.
A Argentina pediu a captura internacional de Suleiman em 2015 por supostamente ser agente do Hezbollah e ter entrado no país com os explosivos utilizados no atentado à embaixada de Israel.
Relação com facções criminosas do Brasil
Durante a coletiva, a ministra pontuou que Karaki fugiu para Foz do Iguaçu após o atentado de 1992 e que, a partir de então, passou a ter relação com as facções criminosas brasileiras.
“Dos anos 1990 aos 2000, ele se manteve como uma célula adormecida, passou dos atentados diretos na Argentina para a modalidade da relação entre o Hezbollah e organizações criminosas, o PCC e o Comando Vermelho”, afirmou.
Questionada pela CNN após a coletiva sobre essa relação com as organizações criminosas brasileiras, ela disse que o vínculo era para “recrutamento” e mencionou a Operação Trapiche, deflagrada pela Polícia Federal no Brasil em 2023, para evitar atos terroristas.
Karaki também teria, segundo a ministra, planejado um ataque com um carro-bomba para derrubar um edifício na Bolívia, mas o atentado foi frustrado.
Atualmente, Karaki está vivo e se encontra no Líbano, ainda de acordo com Bullrich.
A Argentina está pedindo “alerta vermelho” de maneira imediata para a Interpol e disse esperar que o Brasil e o Paraguai façam o mesmo. Segundo ela, a troca de informações sobre as investigações com o ministério da Segurança do Brasil é permanente.
Atentados de 1992 e 1994
Em 1994, um ataque a bomba contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) matou 85 pessoas e deixou centenas de feridos.
Em abril de 2024, juízes argentinos decidiram que o ataque foi realizado pelo Hezbollah e respondeu “a um projeto político e estratégico” do Irã.
Promotores também acusaram autoridades iranianas graduadas e membros do Hezbollah de ordenar o atentado, bem como um ataque em 1992 contra a embaixada israelense na Argentina, que matou 22 pessoas.
Não há presos ou condenados por nenhum dos dois atentados.
Entenda a escalada nos conflitos do Oriente Médio
O ataque com mísseis do Irã a Israel no dia 1º de outubro marcou uma nova etapa do conflito regional no Oriente Médio. De um lado da guerra está Israel, com apoio dos Estados Unidos. Do outro, o Eixo da Resistência, que recebe apoio financeiro e militar do Irã e que conta com uma série de grupos paramilitares.
São sete frentes de conflito abertas atualmente: a República Islâmica do Irã; o Hamas, na Faixa de Gaza; o Hezbollah, no Líbano; o governo Sírio e as milícias que atuam no país; os Houthis, no Iêmen; grupos xiitas no Iraque; e diferentes organizações militantes na Cisjordânia.
Israel tem soldados em três dessas frentes: Líbano, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Nas outras quatro, realiza bombardeios aéreos.
O Exército israelense iniciou uma “operação terrestre limitada” no Líbano no dia 30 de setembro, dias depois de Israel matar o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um bombardeio ao quartel-general do grupo, no subúrbio de Beirute.
As Forças de Defesa de Israel afirmam que mataram praticamente toda a cadeia de comando do Hezbollah em bombardeios semelhantes realizados nas últimas semanas.No dia 23 de setembro, o Líbano teve o dia mais mortal desde a guerra de 2006, com mais de 500 vítimas fatais.
Ao menos dois adolescentes brasileiros morreram nos ataques. O Itamaraty condenou a situação e pediu o fim das hostilidades.
Com o aumento das hostilidades, o governo brasileiro anunciou uma operação para repatriar brasileiros no Líbano.
Na Cisjordânia, os militares israelenses tentam desarticular grupos contrários à ocupação de Israel ao território palestino.
Já na Faixa de Gaza, Israel busca erradicar o Hamas, responsável pelo ataque de 7 de outubro que deixou mais de 1.200 mortos, segundo informações do governo israelense. A operação israelense matou mais de 40 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas.
O líder do Hamas, Yahya Sinwar, foi morto pelo Exército israelense no dia 16 de outubro, na cidade de Rafah.