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    Chefe de polícia diz que ações de Chauvin contra George Floyd foram inadequadas

    Medaria Arradondo afirma que manter o joelho sobre o pescoço de uma pessoa por mais de 9 minutos não faz parte da ética e dos valores dos agentes de Minneapolis

    Derek Chauvin violou as regras do Departamento de Polícia de Minneapolis e seu código de ética sobre o respeito à “santidade da vida” durante a prisão que resultou na morte de George Floyd em maio, afirmou o chefe de polícia da cidade ao depor no julgamento do ex-policial na segunda-feira (5).

    “Não faz parte do nosso treinamento e certamente não faz parte da nossa ética e dos nossos valores”, disse Medaria Arradondo, referindo-se a como Chauvin, que é branco, manteve o joelho no pescoço de Floyd, um negro de 46 anos, por mais de nove minutos. 

    Chefe da polícia de Minneapolis, Medaria Arradondo, no julgamento de Chauvin
    Chefe da polícia de Minneapolis, Medaria Arradondo, no julgamento de Derek Chauvin
    Foto: Reuters – 5.abr.2021

     

    A divulgação na internet do vídeo feito por um pedestre que testemunhou a morte de Floyd gerou protestos globais contra a brutalidade policial.

    Ao longo de mais de 3 horas de testemunho, Arradondo contestou a alegação da defesa de que Chauvin, que se declarou inocente das acusações de homicídio e agressão, estava seguindo o treinamento que recebeu em seus 19 anos na polícia.

    De acordo com especialistas em lei que acompanham processos policiais, é bastante incomum que um oficial sênior da polícia declare que um de seus ex-subordinados usou força excessiva. Chauvin, que junto com três outros policiais foi demitido por Arradondo um dia após a morte de Floyd, estava sentado no tribunal fazendo anotações.

    Em declarações de abertura do julgamento, na semana passada, um promotor disse ao júri que ouviria Arradondo e que ele não “mediria palavras”. 

    No ano passado, o chefe da polícia divulgou um comunicado criticando Chauvin: “Isso foi assassinato – não foi falta de treinamento”, declarou, à época.

    Na segunda-feira, Arradondo apareceu vestido com um uniforme azul, colocou seu chapéu de chefe em uma saliência à sua frente com seu distintivo dourado visível para o júri, e falou com as mãos cruzadas à sua frente.

    “Discordo veementemente que esse foi o uso apropriado da força para aquela situação em 25 de maio”, disse ele.

    Cena da gravação que mostra abordagem policial a George Floyd
    Cena da gravação que mostra abordagem policial a George Floyd
    Foto: Reprodução (25.mai.2020)

    Arradondo afirmou que os policiais são treinados para tratar as pessoas com dignidade e juraram defender a “santidade da vida”. Eles são treinados em primeiros socorros básicos e recebem cursos de atualização anuais, seja para amarrar um torniquete em uma vítima de tiro que sangra ou usar um inalador de naloxona para reverter uma overdose de opioide.

    Chauvin falhou em seguir seu treinamento em vários aspectos, disse Arradondo. Ele percebeu pelas caretas de Floyd que Chauvin estava usando mais do que a pressão “leve a moderada” máxima que um oficial pode usar no pescoço de alguém.

    O ex-policial também não cedeu em usar força letal, mesmo quando Floyd ficou inconsciente e não forneceu os primeiros socorros obrigatórios para uma vítima agonizante, disse Arradondo.

    “É contrário ao nosso treinamento colocar indefinidamente o joelho em um indivíduo caído e algemado por um período indefinido de tempo”, disse ele, ecoando o depoimento do investigador de homicídios mais experiente do departamento, que considerou o uso da força de Chauvin “totalmente inaceitável”.

    No interrogatório, Eric Nelson, o principal advogado de Chauvin, fez Arradondo dizer que fazia “muitos anos” desde que ele próprio fizera uma prisão.

    “Não estou tentando ser indiferente”, disse Nelson. Ele também fez o chefe da polícia concordar que o uso da força por um policial muitas vezes “não é atraente”.

    ‘Você já viu o vídeo?’

    Arradondo estava em casa na noite da morte de Floyd quando um subchefe ligou para ele para dizer que uma situação “crítica” parecia ter se desenrolado no cruzamento em frente a uma loja de alimentos onde Floyd foi preso por suspeita de usar uma nota falsificada de US$ 20 para comprar cigarros.

    O fato de Floyd ter sido levado sob custódia era incomum, disse Arradondo, visto que foi uma contravenção não violenta. 

    Ele disse que ligou para a agência estadual que investiga qualquer caso em que a polícia mata alguém. E que ligou para o prefeito Jacob Frey, que em 2017 nomeou Arradondo como o primeiro negro a chefiar a polícia da cidade, e dirigiu-se ao centro da cidade para seu escritório na Prefeitura.

    O primeiro vídeo que viu, uma tomada de longa distância com uma câmera de vigilância da cidade do outro lado da rua, não mostrou muito. Mas, pouco antes da meia-noite, ele recebeu um telefonema de “alguém da comunidade”.

    “Eles disseram quase literalmente: ‘Você viu o vídeo do seu oficial estrangulando e matando aquele homem na rua 38?’”, lembrou Arradondo. “Eventualmente, poucos minutos depois disso, eu vi pela primeira vez o que agora é conhecido como o vídeo da testemunha.”

    O chefe da polícia afirmou que pode ver quanto tempo Chauvin havia mantido Floyd de cara para baixo e concluiu que isso violava os “princípios e valores” de seu departamento.

    “Muitas vezes somos a primeira face do governo que nossa comunidade verá e, frequentemente, os encontraremos em seus piores momentos”, disse Arradondo ao júri quando questionado por um promotor para descrever o significado do distintivo que cerca de 700 oficiais juramentados da cidade usam. 

    “Isso tem que contar para alguma coisa.”

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