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    Charlie Hebdo republica caricaturas polêmicas que motivaram atentados de 2015

    Capa chega às bancas no mesmo dia em que 14 suspeitos de envolvimento nos ataques serão julgados

    Flores e velas foram colocados do lado de fora do antigo escritório do Charlie Hebdo para homenagear as vítimas
    Flores e velas foram colocados do lado de fora do antigo escritório do Charlie Hebdo para homenagear as vítimas Foto: Gonzalo Fuentes - 07.jan.2020 / Reuters

    Fabrizio Neitzke*,

    da CNN, em São Paulo

    O jornal satírico francês Charlie Hebdo, que ficou conhecido internacionalmente após os atentados de 2015 em Paris, decidiu republicar as charges sobre religião muçulmana que geraram polêmica e desencadearam os ataques terroristas. 

    A nova capa com os antigos desenhos foi divulgada nessa terça-feira (1º) e chega às bancas nesta quarta (2), mesmo dia do julgamento de 14 pessoas suspeitas de envolvimento nos atentados.

    “Tudo isso por isso”, menciona o jornal em letras garrafais, em uma edição especial em memória às 17 vítimas dos ataques cometidos em janeiro de 2015 na França. Além da sede do Charlie Hebdo, os agressores também atacaram um mercado judaico.

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    A edição traz um compilado do que aconteceu no dia do atentado, quando os irmãos Chérif e Saïd Kouachi invadiram a redação do Charlie Hebdo e mataram 12 pessoas, além de entrevistas com familiares e uma pesquisa sobre liberdade de expressão.

    Julgamento dos suspeitos

    A Justiça francesa inicia hoje o julgamento de 14 acusados de financiar, participar e fornecer armas a grupos terroristas. Na época, a Al-Qaeda e o Estado Islâmico reivindicaram a autoria dos atentados.

    Dentre os indiciados, três serão julgados in absentia (em ausência) e podem já ter sido mortos. As autoridades acreditam que Hayat Boumedienne e os irmãos Mohamed e Mehdi Belhoucine viajaram à Síria sob o domínio do Estado Islâmico pouco antes dos ataques. Os outros 11 podem ser sentenciados à prisão perpétua.

    Nessa segunda (31), em entrevista a uma emissora de TV francesa, o ex-procurador da República François Molins, um dos primeiros a chegar à cena do crime, lembrou o momento. “Era um ambiente surreal. Havia um silêncio muito forte, um cheiro de sangue e pólvora em todo o prédio”. 

    Molins, que participou de toda a investigação, também falou sobre o cenário. “Na redação, era uma carnificina. Aquilo não era mais uma cena de crime, era uma zona de guerra, com corpos amontoados. Foi aterrorizante”, completou.

    Polêmicas

    A nova edição relembra a capa do número 1177 do jornal, publicado no dia do atentado, trazia uma caricatura do caricaturista e editor-chefe Stéphane “Charb” Charbonnier, satirizando o livro Submissão, que retratava uma “França muçulmana”. 

    A charge, considerada “islamofóbica”, recebeu o título de “Ainda sem atentados na França”, mostrando um terrorista supostamente islâmico armado e com os dizeres: “Esperem! Ainda temos até o fim de janeiro para realizar seus desejos”.

    O Charlie Hebdo possui histórico de publicações polêmicas. Em uma edição de 2011, um muçulmano foi retratado na primeira página beijando um cartunista da revista. Já em julho de 2013, a capa estampava a frase “O Corão é uma m****, ele não para as balas”, pouco após um ataque no Egito contra muçulmanos que deixou mais de 50 mortos.

    Ataques terroristas de 2015

    Imagens feitas por cinegrafistas amadores na época rodaram o mundo. Em uma delas, um dos irmãos agressores grita que vingou o profeta Maomé, após deixar o prédio. 

    A situação reacendeu o debate sobre liberdade de expressão e de imprensa, além da relação entre sátiras e religião. No editorial desta quarta, o Charlie Hebdo afirma que “nunca irá descansar e nem desistir”, mencionando a morte dos jornalistas como uma tentativa de destruir suas “convicções, culturas e talento”. 

    No dia seguinte ao ataque à redação do jornal, no centro de Paris, Amedy Coulibaly, um terrorista próximo dos irmãos Kouachi, matou uma policial na cidade de Montrouge, região metropolitana da capital. 

    Na mesma semana, ele invadiu um mercado judeu e fez 20 reféns. A ação, que durou quatro horas, culminou na morte de cinco pessoas, dentre elas o terrorista. Outras nove ficaram feridas, sendo três policiais.

    Após o atentado, Chérif e Saïd Kouachi se esconderam em uma gráfica na cidade de Dammartin-en-Goële, a 30 km da sede da revista, de onde tentariam partir para Bruxelas, na Bélgica. 

    A identidade dos autores do crime foi descoberta após uma perícia no carro em que eles usaram durante a fuga, quando Saïd perdeu seu documento de identidade. Os dois foram mortos enquanto tentavam escapar do cerco realizado pela polícia à gráfica. 

    * Sob supervisão de Giovanna Bronze e Julyanne Jucá

    (Com informações da Reuters)