Chanceler da Argentina diz que chineses “são todos iguais” e gera polêmica
Diana Mondino negou que houve intenção ou conteúdo discriminatório nas suas declarações
A ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, gerou polêmica ao dizer que uma inspeção que o governo realizou na base espacial que a China tem na província argentina de Neuquén não conseguiu apontar se ela incluía militares, uma vez que “eles são chineses, são todos iguais”.
A fala aconteceu na quinta-feira (2). Posteriormente, ela negou que houvesse qualquer intenção discriminatória em suas palavras.
Mondino fez a declaração em entrevista ao jornal Clarín, poucos dias depois de ter feito uma visita oficial ao país asiático, onde se encontrou com o chanceler Wang Yi.
A ministra argentina afirmou que ambos concordaram em “fortalecer e expandir a cooperação”. Antes da viagem, Wang havia destacado a Argentina como um “parceiro estratégico”.
Em Paris, onde estava para uma reunião da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a ministra foi consultada sobre a fiscalização, uma vez que o governo tinha indicado que ia garantir que as atividades na base são civis, e não militares, conforme indicado no acordo assinado entre os países.
“Ninguém detectou que havia militares lá […], quem investigou não identificou que havia militares. São chineses, são todos iguais”, respondeu ao Clarín.
Oposição critica fala de Mondino
Pouco depois, a oposição criticou publicamente suas declarações e as classificou como discriminatórias.
“Suas falas seriam repugnantes se ela fosse uma simples cidadã, mas como chanceler adquirem uma gravidade incomum”, avaliou o líder social Juan Grabois, que foi candidato presidencial em 2023 pela Unión por la Patria, no X.
O ex-embaixador para a França Eric Calcagno escreveu na mesma rede social que Mondino “insulta a China” e que a sua frase “despreza uma civilização com 5 mil anos”.
Por sua vez, a deputada da Frente de Esquerda Myriam Bregman comentou ironicamente: “Graças a Deus ela é a diplomata…”.
O governo chinês não se pronunciou sobre o assunto e a CNN entrou em contato com a embaixada chinesa, mas não teve resposta.
Esclarecimento de Mondino
Nesta sexta-feira (3), Mondino concedeu entrevista à Rádio Mitre e garantiu que “de forma alguma” houve intenção ou conteúdo discriminatório nas suas declarações.
“Os que participaram são todos iguais, são todos civis. Estamos falando da visita à estação espacial chinesa de Neuquén, que aconteceu há poucos dias e destaquei o caráter civil do pessoal, que não havia uniforme. Os argentinos também eram todos iguais, nenhum deles estava uniformizado”, pontuou.
“Estávamos todos na mesma qualidade que os civis. O argumento me surpreende, mas não importa”, acrescentou, ressaltando que a frase poderia ter sido tirada do contexto.
Por sua vez, o porta-voz presidencial Manuel Adorni afirmou em coletiva de imprensa que “foi uma interpretação errada, ou uma expressão que talvez não tenha sido entendida como deveria”. Além disso, disse que “a discriminação não está na alma” de Mondino.
A chanceler argentina possui vasta experiência no setor privado em avaliação de riscos e análise de mercado. O cargo de ministra é o primeiro no setor público.
A passagem de Mondino pela China foi seguida de perto, entre outros temas, por uma possível negociação sobre os próximos vencimentos que a Argentina deverá enfrentar para o swap cambial, empréstimo decorrente de acordo entre os bancos centrais dos dois países em 2009.
Embora Milei, após tomar posse como presidente, tenha moderado seu discurso feito na campanha em relação à China, já há um declínio nos laços comerciais.
A China deixou de ser o segundo parceiro comercial da Argentina, de acordo com o último relatório comercial argentino divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), lista liderada pelo Brasil.
Agora, o segundo lugar pertence à União Europeia, enquanto a China é o terceiro.