Caso Breonna Taylor: o que se sabe até agora sobre a mulher negra morta nos EUA
Três policiais participaram da ação que culminou na morte da norte-americana, mas apenas um deles foi indiciado
Há mais de seis meses, policiais de Louisville, no Kentucky, entraram na casa de Breonna Taylor e mataram a tiros a mulher de 26 anos. O caso desencadeou protestos contra o racismo e a violência policial nos Estados Unidos.
A decisão da Justiça de indiciar somente um dos agentes envolvidos no crime aumentou as tensões na cidade, e dois policiais foram baleados em uma manifestação após a divulgação do veredicto.
O caso levou à aprovação da “Lei Breonna”, em junho, banindo a invasão de casas em operações de buscas, e à admissão de uma chefe de polícia interina em Louisville.
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O que aconteceu com Breonna Taylor?
No dia 12 de março, um juiz do Tribunal do Circuito do Condado de Jefferson aprovou cinco mandados de busca para endereços ligados ao ex-namorado de Taylor, Jamarcus Glover, suspeito de tráfico de drogas. Um deles era a casa da norte-americana. A polícia disse que Glover havia usado recentemente o local como “endereço residencial atual”.
Na madrugada de 13 de março, os agentes chegaram ao apartamento de Taylor e começaram a bater na porta, segundo um policial. Ela dormia ao lado do namorado, Kenneth Walker III, que contou que ouviu as batidas pouco depois da meia-noite.
Achando que pudesse ser alguma situação de perigo, Walker pegou sua arma (comprada legalmente, segundo o advogado dele), e o casal gritou perguntando quem era na porta, mas não teve resposta.
Os policiais usaram um aríete (espécie de grande bastão usado para arrombamento) e quebraram a porta. Walker disparou uma vez contra as pessoas que ele achava que eram invasores. O agente Jonathan Mattingly foi ferido na perna. Ele e os outros dois policiais presentes – Myles Cosgrove e Brett Hankison – atiraram de volta. Walker foi desarmado, mas Taylor levou vários tiros e morreu.
Breonna Taylor tinha 26 anos, era técnica de emergência médica e aspirante à enfermeira. Os parentes a descrevem como alguém que trabalhava muito e tinha a família como prioridade.
Foi encontrado algo no local?
Os agentes não encontraram nenhuma droga no apartamento. Walker foi algemado e levado pela polícia. Mais tarde, ele foi indiciado por tentativa de assassinato de policial.
Em maio, a defesa de Walker entrou com uma ação solicitando o fim do indiciamento, alegando que a apresentação dos fatos pela Procuradoria “descaracteriza completamente” o que aconteceu naquela noite. O pedido foi aceito no dia seguinte.
Não há nenhum vídeo de câmera dos uniformes dos agentes gravado sobre o ocorrido.
O que aconteceu com o ex-namorado de Taylor?
Naquele mesmo dia, Glover foi preso em outra área da cidade durante uma outra operação policial, mas acabou sendo solto após pagar fiança. Em agosto, ele foi preso novamente acusado de não pagar a fiança por acusações de tráfico do mês anterior.
Parentes de Taylor e o advogado da família dizem que ela não estava envolvida nas ações do ex-namorado ligadas ao tráfico.
Os policiais envolvidos foram acusados?
Mattingly, Hankison e Cosgrove foram inicialmente colocados em licença administrativa. Dois meses depois do ocorrido, a mãe de Taylor abriu um processo por homicídio culposo contra eles. Para resolver a situação, o governo de Louisville concordou, em setembro, em pagar US$ 12 milhões à família e ordenar algumas reformas na polícia.
Em 21 de maio, o FBI em Louisville decidiu abrir uma investigação sobre as circunstâncias da morte de Taylor. No mesmo dia, o Departamento de Polícia Metropolitana da cidade anunciou que as câmeras nos uniformes passariam a ser de uso obrigatório, e que iria mudar a forma como cumpre mandados de busca.
Desde então, o nome de Breonna Taylor passou a ganhar cada vez mais atenção, não apenas de manifestantes, mas também de personalidades, como o jogador de basquete LeBron James e a apresentadora Oprah Winfrey.
Em julho, manifestantes marcharam até a casa de Daniel Cameron, procurador-geral do Kentucky, exigindo respostas sobre o caso. Na ocasião, 87 pessoas foram presas por invasão ilegal, entre outras acusações. Cameron se reuniu pela primeira vez com a família de Taylor no dia 12 de agosto, mais de 150 dias após a morte da norte-americana.
No dia 7 de setembro, a agente Yvette Gentry foi indicada como chefe de polícia interina, em substituição a Robert Schroeder, que estava se aposentando. Gentry é a primeira mulher negra a ocupar o cargo em Louisville.
O que ficou decidido pela Justiça?
No dia 23 de setembro, o júri decidiu indiciar Hankison por três acusações de “conduta arbitrária” de primeiro grau, por atirar às cegas no apartamento e colocar os vizinhos em perigo.
Apesar disso, Brett Hankison foi solto após o pagamento da fiança, fixada em US$ 15 mil, de acordo com a acusação.
Os outros dois agentes que também dispararam no local não foram indiciados. De acordo com Cameron, Mattingly e Cosgrove atiraram em legítima defesa, pois o namorado de Taylor disparou primeiro.
Por que a investigação levou tanto tempo?
Segundo Cameron, a investigação demorou por conta da meticulosidade do departamento. Somente nesta semana ele apresentou o caso ao grande júri.
“Sei que nem todos ficarão satisfeitos”, disse ele após a decisão do tribunal. “Nosso trabalho é apresentar os fatos ao grande júri, e ele então aplica os fatos.”
(Com informações de Eric Levenson e Nicole Chavez, da CNN, em Atlanta)