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    Bunker da Guerra Fria vira tábua de salvação em vilarejo ucraniano devastado

    Luch, cerca de 40 km a noroeste de Kherson, foi atingido pelo fogo russo quase desde o início da guerra na Ucrânia

    Rod Nickelda Reuters

    Para um vilarejo ucraniano devastado pela guerra, bunkers da Guerra Fria construídos para resistir a um ataque nuclear que nunca aconteceu provaram ser uma tábua de salvação a moradores que passaram grande parte do último ano morando neles.

    Luch, um vilarejo do sul, cerca de 40 km a noroeste de Kherson, foi atingido pelo fogo russo quase desde o início da guerra, quando acabou perto das linhas de frente.

    Lá, Svitlana Gynzhul é uma das cinco pessoas que residem em um bunker de concreto, acessado por uma porta ao lado de um monte gramado que leva a uma escada íngreme e suja no subsolo.

    A partir de março e durante o outono local, ela usou a localização estratégica do vilarejo para organizar a espionagem dos movimentos das tropas russas quando os soldados estavam a apenas 2 km de distância.

    Alguns moradores mais jovens montaram uma torre de comunicação celular nos arredores da vila para apontar seus binóculos para os russos de um ponto alto. Gynzhul disse que passou informações para as Forças Armadas ucranianas. A Reuters não pôde verificar seu relato de forma independente.

    Agora, ela cuida dos poucos vizinhos que permaneceram em Luch.

    A necessidade de se abrigar em um bunker construído há 70 anos para uma ameaça diferente destaca as medidas desesperadas que muitos ucranianos adotaram no último ano para se manterem vivos.

    Em abril, com o vilarejo preso entre as forças russas e ucranianas, Gynzhul, seu marido Dmytro e seu filho se mudaram para o porão de um depósito pouco antes de seu apartamento no segundo andar ser bombardeado.

    Depois, em agosto, eles se mudaram para um dos dois abrigos nucleares abandonados da era soviética em Luch, construídos na década de 1950 para soldados que na época treinavam em Luch.

    As pesadas portas de metal, beliches e máscaras de gás há muito foram roubadas.

    “Ninguém pensou que seria útil”, disse Gynzhul, de 55 anos.

    Seu grupo fez do local seu refúgio, sobrevivendo à ocupação do Exército russo de partes da região de Kherson. Soldados ucranianos empurraram os russos para longe de Luch no outono passado (no hemisfério norte) e no início de novembro recapturaram a cidade de Kherson.

    Naquele momento, Luch estava devastada e a maioria das casas destruídas, com telhados desabados, janelas faltando e buracos de foguetes perfurados nas paredes.

    O vilarejo, com 935 habitantes antes da invasão, agora abriga cerca de 50 pessoas. Até 30 delas vivem no subsolo nos dois abrigos nucleares e um porão de Luch.

    Gynzhul e os outros em seu bunker vivem da ajuda humanitária e do salário dela de 4.000 hryvnia (R$ 566) por mês de seu trabalho administrativo no local.

    Depois que os russos recuaram, os moradores do bunker encontraram um eletricista para conectá-lo às linhas de energia. Um fogão a lenha aquece o bunker de dois cômodos, mobiliado com uma cama de casal e três de solteiro alinhadas lado a lado.

    A guerra cobrou um alto preço para alguns sobreviventes.

    Iryna Sichkar, moradora do bunker, disse que seu filho foi capturado no início da guerra em Mariupol. Ela não sabe se ele está vivo.

    “Eu só rezo para que meu filho volte para casa”, afirmou ela, em lágrimas.