Boris Johnson diz sob juramento que não “mentiu de propósito” ao Parlamento
Ex-primeiro-ministro britânico negou que tivesse conhecimento de que estava quebrando as regras de lockdown ao participar de festas na residência do governo durante a pandemia
O polêmico ex-primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson disse, sob juramento, que não mentiu propositalmente aos membros do Parlamento do país quando negou ter violado as rigorosas regras impostas pelo seu próprio governo durante a pandemia de Covid-19.
Uma comissão parlamentar está investigando a veracidade de declarações feitas por Johnson ao Parlamento, quando ainda era primeiro-ministro, ao comentar sua participação em festas promovidas nos escritórios do governo durante o lockdown.
Na ocasião, ele afirmou categoricamente que todas as regras de distanciamento social e limites no número de pessoas presentes às festas teriam sido cumpridas.
Mas uma investigação do próprio governo mostrou, depois da fala do ministro, que várias festas e encontros sociais aconteceram em prédios do governo, alguns com a presença do próprio Johnson, no período mais crítico de lockdown no país.
Boris admitiu no início desta semana que acabou enganando o Parlamento, segundo ele de forma não intencional, ao fazer suas declarações.
Ele disse que havia se baseado em informações de seus assessores, na época, que teriam garantido que as regras estavam sendo cumpridas.
Mas a comissão parlamentar levantou evidências com antigos assessores que negaram ter tido esse tipo de conversa com o então primeiro-ministro.
Pelo contrário, um dos ex-assessores chegou a dizer que o alertou sobre o descumprimento das regras.
“De coração”
Em seu depoimento, nesta quarta-feira (22), Johnson pediu desculpas por ter enganado o Parlamento, mas jurou “de coração” que não o fez de forma deliberada.
Os membros da comissão fizeram dezenas de perguntas e insistiram muito num ponto: afinal, não era óbvio que as festas eram contrárias às regras da época –que impediam mais de seis pessoas de estarem no mesmo local e exigiam uma distância de metros entre as pessoas?
Conhecido por ter mentido até para a Rainha Elizabeth 2, em 2019, quando pediu a suspensão do Parlamento sobre alegações não completamente verdadeiras, Johnson insistiu em sua linha de defesa.
E dobrou a aposta: segundo ele, se fosse óbvio que as regras estavam sendo quebradas, então todos os presentes a cada festa não concordariam em estar nelas. E ele disse que até o atual primeiro-ministro, Rishi Sunak, participou das festas.
Um parlamentar chegou a mostrar a Boris Johnson uma foto dele fazendo um brinde durante uma dessas festas, com várias pessoas por perto. Mesmo assim, ele negou que tivesse conhecimento, na época, que estava quebrando as próprias regras do seu governo.
Depois de investigações sobre os episódios, a polícia de Londres multou várias pessoas presentes aos eventos: inclusive Sunak e Johnson.
O ex-primeiro-ministro pode ser suspenso ou perder seu atual mandato de Membro do Parlamento (uma espécie de deputado federal, no caso brasileiro), caso a comissão julgue que ele mentiu de forma proposital.
Mas, como o Reino Unido adota o voto distrital em seu sistema parlamentarista, uma nova eleição teria que ser convocada no distrito que ele representa (Uxbridge e South Ruislip).
Considerado um dos políticos mais populares do país, é muito provável que ele seja reconduzido ao cargo num cenário de nova eleição.
O polêmico Johnson pode acabar provando que, às vezes, a mentira compensa.