Após renúncias, Boris Johnson diz que seu governo continuará
Primeiro-ministro britânico enfrenta nova crise envolvendo indicação de político acusado de má conduta sexual
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse nesta quarta-feira (6) que seu governo não vai colapsar após a renúncia de dois de seus ministros mais importantes e de uma série de funcionários mais subalternos em protesto contra sua liderança.
“O trabalho de um primeiro-ministro em circunstâncias difíceis quando você recebe um mandato colossal é continuar”, disse Johnson ao parlamento. “E é isso que eu vou fazer.”
Johnson disse aos legisladores que a economia está enfrentando tempos difíceis e a invasão da Ucrânia pela Rússia representa a pior guerra na Europa em 80 anos.
“Esse é exatamente o momento em que você espera que um governo continue com seu trabalho, não vá embora e continue com seu trabalho”, disse Johnson no parlamento britânico.
Boris Johnson aprofunda em crise após renúncia de 17 membros do governo
O britânico Boris Johnson tenta se agarrar ao poder, nesta quarta-feira (6), com o derretimento do apoio do cada vez mais isolado primeiro-ministro, gravemente ferido pela renúncia de uma série de colegas de alto escalão que disseram que ele não estava apto para governar.
Já são ao menos 17 membros do governo do Reino Unido que pediram para sair.
Os secretários de Finanças e de Saúde de Johnson renunciaram na noite desta terça-feira (5) após o último escândalo atingir o governo, provocando a saída de membros do governo e a retirada do apoio de legisladores leais.
Com a maré de demissões aumentando, alguns questionaram se o primeiro-ministro poderia preencher as vagas.
Lista de renúncias no governo Boris Johnson:
Quarta-feira (6):
- Jo Churchill, ministra júnior no Departamento de Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais
- Victoria Atkins, ministra júnior do Interior
- John Glen, ministro de Serviços Financeiros
- Felicity Buchan, secretária no Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial
- Will Quince, ministro para as Crianças e Famílias
- Laura Trott, secretária do Departamento de Transportes
- Robin Walker, ministro de Estado para Padrões Escolares
Terça-feira (5):
- Rishi Sunak, ministro das Finanças
- Sajid Javid, ministro da Saúde
- Bim Afolami, vice-presidente do Partido Conservador
- Saqib Bhatti, secretário no Departamento de Saúde e Assistência Social
- Jonathan Gullis, secretário na Secretaria de Estado da Irlanda do Norte
- Nicola Richards, secretária no Departamento de Transportes
- Alex Chalk, procurador-geral da Inglaterra e País de Gales
- Virginia Crosbie, secretária para o Gabinete do País de Gales
- Andrew Murrison, enviado comercial no Marrocos
- Theo Clarke, enviado comercial no Quênia
Perda de confiança
O último escândalo viu Johnson se desculpando por nomear um legislador para um papel envolvido no bem-estar e disciplina do partido, mesmo depois de ser informado de que o político havia sido alvo de queixas sobre má conduta sexual.
A narrativa de Downing Street mudou várias vezes sobre o que o primeiro-ministro sabia sobre o comportamento passado do político, que foi forçado a renunciar, e quando ele soube disso. Seu porta-voz culpou um lapso na memória de Johnson.
Isso levou Rishi Sunak a deixar o cargo de chanceler do Tesouro – ministro das Finanças – e Sajid Javid a renunciar ao cargo de ministro da Saúde, enquanto outros deixaram seus cargos ministeriais ou de enviados.
“Está claro para mim que esta situação não mudará sob sua liderança – e, portanto, você também perdeu minha confiança”, disse Javid em sua carta de renúncia.
Vários dos ministros citaram a falta de julgamento, padrões e incapacidade de Johnson de dizer a verdade.
Uma pesquisa instantânea do YouGov descobriu que 69% dos britânicos achavam que Johnson deveria deixar o cargo de primeiro-ministro, mas, por enquanto, o restante de sua principal equipe ministerial ofereceu seu apoio.
“Eu apoio totalmente o primeiro-ministro”, disse o secretário escocês Alister Jack. “Lamento ver bons colegas se demitirem, mas temos um grande trabalho a fazer.”
Há um mês, Johnson sobreviveu a uma votação de confiança de parlamentares conservadores, e as regras do partido significam que ele não pode enfrentar outro desafio desse tipo por um ano.
No entanto, alguns legisladores estão tentando mudar essas regras, enquanto ele também está sob investigação de um comitê parlamentar sobre se ele mentiu ao parlamento sobre as violações do lockdown de Covid-19.
Se Johnson sair, o processo para substituí-lo pode levar alguns meses.
Há apenas dois anos e meio, o efervescente Johnson conquistou uma enorme maioria parlamentar com a promessa de resolver a saída do Reino Unido da União Europeia após anos de disputas amargas.
Mas desde então, seu manejo inicial da pandemia foi amplamente criticado e o governo tropeçou de uma situação para outra.
A abordagem combativa de Johnson em relação à União Europeia também pesou sobre a libra, exacerbando a inflação que deve ultrapassar 11%.
“Depois de todo o desprezo, os escândalos e o fracasso, está claro que este governo está entrando em colapso”, disse o líder trabalhista Keir Starmer.