Boric pede que líderes da América Latina sejam mais enfáticos ao condenar Rússia pela invasão da Ucrânia
Declaração ocorreu durante a Cúpula Celac-UE, que emitiu uma declaração conjunta com menções à guerra, mas sem termos hostis à Rússia
O presidente do Chile, Gabriel Boric, pediu, nesta terça-feira (18), que os líderes da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) sejam mais enfáticos ao condenar a invasão russa contra a Ucrânia. Boric participou da cúpula da Celac e da União Europeia (UE).
A cúpula emitiu uma declaração conjunta que traz menção ao confronto no Leste Europeu, mas sem termos hostis à Rússia, e com um asterisco no final, citando que um país não concorda com um parágrafo. Esse país é a Nicarágua e o trecho é relacionado ao conflito.
“Creio que é importante que nós da América Latina dizermos claramente: o que acontece na Ucrânia é uma guerra de agressão imperialista, inaceitável, em que se viola o direito internacional. Entendo que a declaração conjunta está travada hoje em dia porque alguns não querem dizer que a guerra é contra a Ucrânia”, disse Boric.
“Estimados colegas, hoje é a Ucrânia e amanhã pode ser qualquer um de nós. Não duvidemos disso devido à complacência que se poder ter em um momento ou outro com qualquer líder. Não importa se gostamos ou não do presidente de outro país. O importante é o respeito ao direito internacional, que foi claramente violado aqui por uma parte que é invasora, a Rússia”, prosseguiu.
O parágrafo 15 do texto, que menciona o conflito, diz o seguinte:
“Expressamos profunda preocupação com a guerra em curso contra a Ucrânia, que continua a causar imenso sofrimento humano e está exacerbando as fragilidades existentes na economia global, restringindo o crescimento, aumentando a inflação, interrompendo as cadeias de suprimentos, aumentando a insegurança energética e alimentar e aumentando os riscos sobre a estabilidade financeira. Nesse sentido, apoiamos a necessidade de uma paz justa e sustentável.
Reiteramos igualmente nosso apoio à Iniciativa de Grãos do Mar Negro e aos esforços da UNSG para garantir sua extensão. Apoiamos todos os esforços diplomáticos destinados a uma paz justa e sustentável, de acordo com a carta da ONU.”
Divergências
O texto foi discutido até o último minuto por causa de divergências sobre o parágrafo relacionado à guerra na Ucrânia.
Nas semanas que antecederam a cúpula, líderes latino-americanos vinham pedindo que o documento excluísse trechos que citassem o conflito. Os europeus, por sua vez, insistiam sobre a importância de trazer mencionar a guerra.
A solução foi suavizar os termos do texto para que não trouxesse expressões hostis à guerra, passando de uma “condenação” da Rússia para algo sobre “preocupação” com a guerra. Outra saída foi falar sobre a intenção comum de buscar a paz, sem focar em citar um culpado.
A suavização dos termos permitiu que 59 dos 60 países que integram a Celac e a UE endossarem o texto. Apenas um país discordou de um dos parágrafos, conforme diz a nota de rodapé do documento: “Esta Declaração foi endossada por todos os países com uma exceção devido ao seu desacordo com um parágrafo.”
*Com informações de Priscila Yazbek