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    Biden é eleito o 46º presidente dos EUA; Trump não reconhece derrota

    Democrata, que se torna o presidente mais idoso da história americana, terá como vice Kamala Harris, primeira mulher e primeira pessoa negra a ocupar o cargo

    Diego Freire, da CNN, em São Paulo



     

    O democrata Joseph Robinette Biden Jr., mais conhecido como Joe Biden, foi eleito o 46º presidente da história dos Estados Unidos

    Com a vitória se somam dois recordes: é o mais velho eleito para a Casa Branca, aos 77 anos, e detém a maior quantidade de votos populares recebidos em uma eleição presidencial americana.

    Biden assume o comando da maior potência do mundo sob uma brutal crise econômica provocada pela Covid-19 e suas mais de 230 mil vítimas — fazendo dos Estados Unidos líder em número de mortos pela doença –, além de uma disputa cada vez mais acirrada com a China pela hegemonia global.

    A pandemia levou a um número recorde de votos pelos correios, num movimento dos eleitores para evitar filas e aglomerações durante a votação, e que atrasou a apuração nos estados. 

    Quem votou presencialmente (majoritariamente eleitores de Trump) teve o voto contabilizado mais rapidamente que os votantes pelo correio (massivamente eleitores de Biden).

    Conforme os votos por correspondência chegavam e a contagem era feita, o número pró-Biden aumentava. A virada do democrata em diversos estados na reta final da apuração tem sido contestada por Trump.

    “De repente, como um milagre, os números começaram a favorecer os democratas de maneira ilegal”, disse o presidente na quinta-feira (5). O republicano passou toda a campanha insinuando a possibilidade de fraudes pelo voto não presencial.

    Pandemia, George Floyd e a liderança nas pesquisas 

    Biden passou a liderar as pesquisas de intenção de voto desde antes de sua nomeação oficial como candidato em agosto. 

    As crises sanitária e econômica impostas pela pandemia beneficiaram a candidatura democrata, em meio às crescentes críticas à forma pela qual o presidente Donald Trump lidava com os efeitos do coronavírus e das manifestações contra o racismo após a morte de George Floyd, homem negro asfixiado por um policial branco, em maio.

    Trump recusa reconhecer derrota

    A CNN americana anunciou, por volta das 13h20 da tarde deste sábado (7), horário de Brasília, segundo suas projeções, que Biden havia superado os 270 votos no colégio eleitoral após vitória na Pensilvânia e, depois, em Nevada, garantindo um total de 279 delegados. Os estados de Geórgia, Alasca, Carolina do Norte e Arizona ainda prosseguem com a apuração.

    Biden conquistou a vitória em Michigan e Wisconsin, dois estados cruciais para chegar à vitória, na tarde de quarta-feira (4). Em ambos estados, a apuração está praticamente concluída.

    De acordo com as apurações parciais em estados-chave, além de cálculos estatísticos e demográficos sobre a proporção de urnas ainda não apuradas, já não é mais possível para o presidente Donald Trump chegar a 270 delegados no colégio eleitoral.

    Vários líderes mundiais já reconheceram a vitória, como os europeus Angela Merkel, chanceler da Alemanha; o presidente francês, Emmanuel Macron e os latino americanos Sebastian Piñera, presidente do Chile, e Alberto Fernández, presidente da Argentina. 

    Em sua conta no Twitter neste sábado, Trump contestou novamente a legitimidade das apurações e se autodeclarou o vencedor da disputa. 

    “Os fiscais não foram permitidos na sala de apuração. Eu venci a eleição. Recebi 71 milhões de votos legais. Aconteceram coisas erradas que nossos fiscais não puderam ver. Isso nunca aconteceu antes. Milhões de cédulas de votação foram enviadas por correio sem que as pessoas tivessem solicitado!”, escreveu Trump no Twitter.

    Mais cedo, a funcionária da Comissão Eleitoral Federal nos Estados Unidos Ellen Weintraub disse à CNN que “não houve nenhuma evidência de fraude”.

    Democratas de volta ao poder

    Com a confirmação do resultado, os democratas voltam ao poder após cerca de quatro anos, quando se encerrou o segundo mandato de Barack Obama, de quem Biden foi vice, entre 20 de janeiro de 2009 e 20 de janeiro de 2017. 

    Com a vitória, o ex-senador passa a integrar a seleta lista de apenas quatro presidentes eleitos depois de já terem sido vice: 1- Biden; 2 – George H.W. Bush, em 1988 (ele foi vice de Ronald Reagan); 3 – Richard Nixon (vice de Dwight Eisenhower), entre 1953 e 1961, e 4 – Martin Van Buren, em 1836.

    Em sua longeva carreira política, o futuro presidente também foi senador pelo estado de Delaware de 1973 a 2009.

    Prestes a completar 78 anos no próximo dia 20 de novembro, Biden se torna o presidente mais idoso da história dos Estados Unidos — superando o atual mandatário, Donald Trump, que deixará a Casa Branca, em janeiro, aos 74 anos.

    Natural em Scranton (Pensilvânia), o novo presidente dos Estados Unidos é casado com a educadora Jill Biden desde 1977, sua segunda esposa — a primeira, a também educadora Neilia Hunter, morreu em 1972, um acidente de carro que também vitimou uma das filhas do casal: Naomi, com 1 ano.

    Com Nelia, o senador teve outros dois filhos: Joseph “Beau” Biden — morto em 2015, aos 46 anos, vítima de um câncer no cérebro — e Robert Hunter Biden. Com Jill, Biden teve apenas uma filha: Ashley Biden.

    Primeira negra vice-presidente da história

    O experiente político terá como vice na Casa Branca a advogada Kamala Harris, ex-procuradora-geral da Califórnia e senadora pelo estado desde 2017, que faz história ao se tornar a primeira vice-presidente mulher da história americana.  

    Harris, de 56 anos, é filha de imigrantes (pai jamaicano e mãe indiana) e já havia quebrado barreiras anteriormente como primeira negra a ser eleita procuradora-geral na Califórnia. Ela é agora a primeira pessoa negra a ocupar a vice-presidência do país, após Barack Obama ter sido o primeiro negro presidente.

    Ao ser eleito, Biden confirma o favoritismo construído ao longo de toda a campanha, quando liderou a maioria das pesquisas eleitorais desde a confirmação das candidaturas. Também manteve confortável liderança de arrecadação de campanha, que chegou superar US$ 107 milhões em relação ao dinheiro arrecadado por Trump.

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    Em 2016, a candidata democrata Hillary Clinton também chegou ao dia de votação à frente nas intenções de voto segundo a maior parte dos levantamentos, venceu no voto popular, mas terminou a eleição com 227 votos de delegados no colégio eleitoral e foi surpreendentemente superada por Donald Trump, com 304.

    Em 2020 a história foi diferente, mas Biden não teve uma missão fácil para vencer Trump em uma das campanhas mais conturbadas da história. 

    Tentativas de ser presidente

    Há décadas, o político pavimentava o caminho para uma candidatura à presidência. Antes de ser vice de Obama, ele já havia concorrido nas prévias democratas para as eleições de 1988 e 2008, mas teve seu nome rejeitado nas primárias do partido. 

    Em 2016 houve uma forte especulação de que pudesse tentar uma candidatura, porém, ainda em 2015, ao lado da esposa Jill Biden e de Obama, o então vice-presidente anunciou que não faria parte daquela corrida eleitoral, que teve Hillary Clinton e Bernie Sanders disputando a indicação democrata — com a posterior escolha da ex-primeira-dama Hillary Clinton como a candidata na ocasião.

    Já eram fortes os indicativos, no entanto, de que Biden concorreria em 2020 e, em 2019, o já ex-senador confirmou sua participação nas prévias democratas.

    Biden acabaria por ser se consolidar como candidato do partido já em abril, com a desistência do principal adversário, o senador Bernie Sanders. 

    Também foram superados por Biden ao longo das primárias democratas —  e foram, um a um, desistindo de suas candidaturas — o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, o prefeito de South Bend (Indiana) Pete Buttigieg, e as senadoras Amy Klobuchar, Elizabeth Warren e Kamala Harris; esta última desistiu da candidatura em dezembro do ano passado e foi escolhida para ser vice de Biden em agosto.

    Nesse mesmo mês foi oficializado o nome de Biden como candidato na convenção do partido democrata. 

    Especialmente a partir de então, Biden e Trump foram os protagonistas de uma eleição atípica, marcada pela pandemia do novo coronavírus, recorde de votos antecipados pelos correios e debates hostis — um deles cancelados porque Trump havia contraído Covid-19 — que tem justamente os Estados Unidos como país que soma o maior número absoluto de casos confirmados e mortes em decorrência da doença.

    Debates e ataques

    Em 30 de setembro, Trump e Biden estiveram frente à frente no primeiro debate presencial entre os dois, marcado por interrupções e hostilidades, inclusive com Biden, em certo momento, perguntando ao republicano por que não calava a boca. 

    Na ocasião, Biden, ao falar sobre mudanças climáticas, citou ideia de criar um fundo mundial de US$ 20 bilhões para que o Brasil “pare de destruir a floresta”. Caso contrário, ele ameaçou o país, ao dizer que o Brasil sofreria “consequências econômicas”.

    O segundo encontro entre os dois, previsto para ocorrer em 15 de outubro, foi cancelado após Trump contrair o novo coronavírus, restando apenas mais um evento para a confrontação de ideias: em 22 de outubro, Trump e Biden participaram do último debate da campanha, que, embora mais organizado, voltou a ser marcado por ataques.

    Como em outros momentos da campanha, Trump acusou seu adversário de tentar encobrir suposto caso de corrupção de seu filho Hunter Biden, quando trabalhou para uma companhia de gás na Ucrânia. Hunter Biden nega a acusação de ter recebido US$ 3,5 milhões e não há evidências de envolvimento de seu pai com a empresa de gás.

    (Edição: Marcio Tumen Pinheiro)