Biden diz que tropas podem ficar no Afeganistão até saída de todos os americanos
Medida serviria para garantir a evacuação de todos os americanos do país após a tomada do poder pelo Talibã
O presidente Joe Biden sugeriu nesta quarta-feira (18) pela primeira vez que está disposto a manter as forças dos Estados Unidos no Afeganistão até que todos os cidadãos americanos que queiram partir estejam fora do país.
Em entrevista ao ABC News, Biden disse que os americanos devem esperar que todos os cidadãos do país no Afeganistão sejam evacuados até 31 de agosto, prazo que o governo estabeleceu para encerrar a guerra mais longa do país.
Quando pressionado por George Stephanopoulos, da ABC, sobre o que aconteceria se o prazo não fosse cumprido, Biden disse: “se sobrar cidadãos americanos, vamos ficar até tirá-los todos”.
Esse mesmo compromisso, porém, não valeu para os afegãos que trabalharam com os Estados Unidos durante a guerra.
Referindo-se aos parceiros afegãos, Biden disse que havia “algo entre (15 mil e 65 mil) pessoas no total, contando suas famílias” que estão tentando sair do país.
Veja imagens da tomada de poder do Talibã:
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Defesa da retirada
Biden também defendeu a decisão de seu governo de retirar as tropas americanas do Afeganistão, e disse que não acha que a crise representa um fracasso e que não havia maneira de lidar melhor com o fim da guerra mais longa do país.
Biden foi questionado se foi uma falha de inteligência, planejamento, execução ou julgamento que levou à situação no Afeganistão. “Não acho que tenha sido um fracasso”, respondeu o presidente.
Questionado se achava que a retirada poderia ter sido melhor tratada, Biden disse que “não”. O presidente disse que achava que o caos no país era inevitável depois que as tropas americanas partiram.
Mas em declarações públicas desde que a retirada das tropas foi anunciada pela primeira vez em abril, Biden repetidamente retransmitiu ao povo americano que a retirada ocorreria com segurança e de maneira ordeira.
Em abril, ele disse que a retirada seria feita “de forma responsável, deliberada e segura”.
Em julho, Biden usou uma sessão de perguntas e respostas na Casa Branca para minimizar a possibilidade de o governo afegão entrar em colapso e o Talibã assumir, dizendo que o resultado não era inevitável.
Ele indicou que a “retirada está ocorrendo de forma segura e ordenada, priorizando a segurança de nossas tropas na partida”. E ele também insistiu que não haveria “nenhuma circunstância” em que o pessoal americano fosse evacuado do telhado de sua embaixada, rejeitando qualquer comparação com a queda de Saigon.
Cálculos do governo
Questionado durante a entrevista para a ABC News se o caos “sempre teve seu preço na decisão”, Biden inicialmente respondeu que sim, mas depois acrescentou que exatamente o que aconteceu não fazia parte de seus cálculos.
“Uma das coisas que não sabíamos é o que o Talibã faria, em termos de tentar impedir que as pessoas saíssem. O que fariam. O que estão fazendo agora? Estão cooperando, permitindo que os cidadãos americanos saiam. O pessoal americano sai, as embaixadas saem, etc., mas eles estão tendo, estamos tendo mais dificuldade em ter aqueles que nos ajudaram quando estávamos lá”, disse Biden.
Tentativa de fuga em massa
No início da quarta-feira, Biden foi informado na Casa Branca sobre a situação no Afeganistão. Ele também conversou com a chanceler alemã, Angela Merkel, sobre o assunto.
O mundo ficou chocado no início desta semana com imagens vindas do Afeganistão, que incluíam pessoas caindo de um avião da Força Aérea dos Estados Unidos decolando do aeroporto de Cabul após tentar segurar seu exterior para fazer uma fuga desesperada do país.
Quando Biden foi questionado sobre fotos mostrando pessoas amontoadas em um C-17 e vídeos de afegãos agarrados às laterais de aviões tentando decolar do aeroporto de Cabul, ele cortou bruscamente a pergunta.
“Isso foi há quatro dias, cinco dias atrás!”, Biden disse à ABC News. Muitas dessas fotos eram de segunda-feira, apenas dois dias antes da realização da entrevista.
Questionado sobre qual foi sua primeira reação ao ver as cenas, Biden disse à ABC que pensava: “temos que ganhar o controle disso”. “Temos que mover isso mais rapidamente. Temos que nos mover de uma forma em que possamos assumir o controle daquele aeroporto. E o fizemos”, disse ele.
Ação no Afeganistão
O Departamento de Defesa americano despachou equipes militares para dois dos portões do aeroporto para auxiliar o Departamento de Estado no processamento de indivíduos que buscam entrada. Mas, apesar de transmitir uma mensagem de controle no aeroporto, o governo enviou mensagens conflitantes nesta quarta-feira (18) sobre se os indivíduos que procuram deixar o país poderão chegar lá com segurança.
O Departamento de Estado disse que não poderia garantir um trânsito seguro para o aeroporto, enquanto o Pentágono afirmou que o Talibã está “garantindo uma passagem segura”.
O presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior, general Mark Milley, disse durante uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira que “aproximadamente 5 mil pessoas” já foram evacuadas do Afeganistão, e os militares dos Estados Unidos pretendem “aumentar” o número de pessoas que foram evacuadas.
Milley disse que, se comandados, os militares dos Estados Unidos em Cabul têm a capacidade de extrair americanos e levá-los ao Aeroporto Internacional Hamid Karzai de Cabul. Mas o secretário de Defesa, Lloyd Austin, esclareceu que as tropas americanas em Cabul não têm capacidade de coletar e extrair “grandes grupos de pessoas”.