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    Biden diz que muros não funcionam, apesar de seu governo ampliar barreira nos EUA

    Nova onda de imigração do México está pressionando governo americano por parte de aliados e adversários

    Priscilla Alvarezda CNN

    O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta quinta-feira (5) que não acredita que os muros em fronteiras funcionem, embora seu governo tenha dito que revogará 26 leis para construir mais barreiras no Vale do Rio Grande, na fronteira com o México, em meio ao aumento da pressão política sobre a imigração.

    De acordo com uma nota publicada na quarta-feira (4) no Registro Federal dos EUA, a construção do muro será paga com recursos já alocados e destinados especificamente para barreiras físicas nas fronteiras. A administração federal tinha prazo para usar o montante ou perdê-lo.

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    Entretanto, a medida surgiu em um momento em que uma nova onda de imigrantes está sobrecarregando os recursos federais e locais e exercendo forte pressão política sobre o governo Biden para resolver uma crise generalizada. A nota também citava “alta entrada ilegal” de pessoas.

    Biden prometeu, como candidato à Presidência, que “não haverá mais um metro” de muro fronteiriço construído sob seu comando. Porém, ele defendeu a nova decisão a repórteres nesta quinta-feira, dizendo que tentou fazer com que o dinheiro fosse utilizado para outros fins, mas que não teve sucesso.

    “Vou responder a uma pergunta sobre o muro fronteiriço: o muro fronteiriço – o dinheiro que foi alocado para o muro fronteiriço… tentei fazer com que ele fosse redirecionado. Eles não fizeram [a mudança], eles não fariam”, destacou o presidente.

    “Enquanto isso, não há nada sob a lei [de diferente] além [da determinação] de que eles tenham que usar o dinheiro para aquilo que foi alocado. Não posso impedir isso”, concluiu Biden.

    Questionado se acredita que o muro fronteiriço funciona, o chefe de Estado respondeu: “Não”.

    O secretário de Segurança Interna dos Estados Unidos, Alejandro Mayorkas, afirmou enfaticamente que não houve nenhuma mudança na política do governo durante coletiva de imprensa na Cidade do México nesta quinta-feira.

    “Quero abordar uma reportagem de hoje relacionada a um muro fronteiriço e ser absolutamente claro: não há nenhuma nova política administrativa em relação ao muro”, disse Mayorkas, que repetiu a última frase.

    Ele destacou ainda que o governo pediu ao Congresso para que cancelasse a utilização do dinheiro para este fim. “Mas ele não o fez e somos obrigados a seguir a lei”, disse.

    A Patrulha da Fronteira relatou quase 300 mil “encontros” (quando um imigrante é apreendido, mesmo temporariamente, ou então expulso imediatamente) no setor do Vale do Rio Grande entre outubro de 2022 e agosto de 2023, segundo dados federais.

    No mês passado, a Patrulha da Fronteira deteve mais de 200 mil imigrantes que atravessavam a fronteira entre os EUA e o México, o maior índice neste ano.

    Biden tem enfrentado problemas com a fronteira desde os seus primeiros meses no cargo, quando os Estados Unidos enfrentaram uma onda de imigração de crianças desacompanhadas que surpreendeu as autoridades.

    Nos últimos dois anos, a sua administração federal continuou enfrentando forte resistência dos republicanos – e, às vezes, dos democratas – em relação às políticas de imigração.

    Entretanto, uma nova onda de imigrantes colocou ainda mais pressão sobre os recursos federais e testou as mais recentes políticas de fronteira de Biden, apenas alguns meses depois de entrarem em vigor, gerando novas críticas dos republicanos e preocupação dentro do governo sobre uma questão politicamente delicada.

    A imigração ao longo da fronteira sul tem sido um dos principais temas levantados na disputa para as eleições primárias presidenciais do Partido Republicano e em meios de comunicação conservadores.

    Além disso, também está sendo discutida pelos principais democratas, incluindo os presidentes de Câmara de Nova York e Chicago, que começaram a exigir publicamente maiores esforços por parte do governo federal para fornecer recursos para acomodar as pessoas que chegam ao país.

    Gastando fundos existentes

    O Departamento de Segurança Interna dos EUA concluiu que “é necessário revogar certas leis, regulamentos e outros requisitos legais, a fim de garantir a construção rápida de barreiras e estradas” no condado de Starr, no Texas, ao longo da fronteira do país com o México, segundo destacou o secretário da pasta, Alejandro Mayorkas, no documento publicado no Registro Federal.

    “Existe atualmente uma necessidade urgente e imediata de construir barreiras físicas e estradas nas proximidades da fronteira dos Estados Unidos, a fim de evitar entradas ilegais nos Estados Unidos nas áreas do projeto”, pontuou.

    A construção do muro será paga através de uma lei de dotações de 2019 que canalizou dinheiro especificamente para uma “barreira fronteiriça” no Vale do Rio Grande e, de acordo com Mayorkas, “o departamento é obrigado a utilizar esses fundos para os fins apropriados”.

    Os fundos precisavam ser gastos até o final do ano fiscal de 2023, o que levou o governo a escolher por avançar este ano com a construção no sul do Texas, segundo uma fonte familiarizada com o assunto.

    A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA já havia anunciado planos para projetar e construir até 32 quilômetros de novos sistemas de barreiras fronteiriças no condado de Starr, incluindo postes de luz e iluminação, portões, câmeras e estradas de acesso, entre outros sistemas.

    O órgão buscou a opinião do público entre agosto e setembro, segundo a agência.

    Entre as leis que a administração Biden está contornando para construir o muro estão vários dos mesmos estatutos que a administração mudou no passado para proteger a questão, incluindo: a Lei de Política Ambiental Nacional, a Lei das Espécies Ameaçadas, a Lei da Água Limpa e a Lei do Ar Limpo.

    Um porta-voz do órgão disse que a agência “continua comprometida em proteger os recursos culturais e nacionais do país” ao mesmo tempo que implementam “práticas ambientais sólidas” para construir as barreiras fronteiriças.

    Relação com o México

    Espera-se que as travessias de imigrantes na fronteira entre Estados Unidos e México permaneçam elevadas no curto prazo, segundo avaliou recentemente à CNN um alto funcionário da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, embora se espere que compromissos do México ajudem a reduzir os números.

    Esta semana, Mayorkas, o secretário de Estado Antony Blinken, o procurador-geral Merrick Garland e a conselheira de Segurança Interna da Casa Branca, Dra. Liz Sherwood-Randall, devem se reunir com autoridades mexicanas na Cidade do México para reuniões anuais sobre segurança.

    A expectativa é que a imigração seja um tema de discussão. Altos funcionários do governo afirmam que os EUA têm mantido contatos regulares com o México sobre a situação na fronteira sul do país, incluindo compromissos para reforçar a aplicação da lei.

    O presidente mexicano, Andrés Manuel Lopez Obrador, disse que a construção de um novo muro na fronteira é uma “regressão” que não resolverá o problema da imigração.

    Durante a coletiva de imprensa diária, ele criticou os “republicanos de direita” por pressionarem o problema da imigração e do tráfico de drogas para fins políticos.

    “Portanto, eles estão agindo de forma muito irresponsável e pressionando fortemente o presidente, que sempre contará com o nosso apoio”, disse López Obrador.

    “Mas essa autorização para a construção do muro é um retrocesso, porque isso não resolve o problema, isso não resolve o problema. As causas devem ser abordadas”, ponderou.

    *Jack Forrest, da CNN, contribuiu para esta reportagem

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