Síria: Bashar al-Assad é reeleito para o seu quarto mandato com 95,1% dos votos
Oponentes e governos ocidentais afirmam que a eleição foi fraudulenta
O presidente sírio, Bashar al-Assad, conquistou um quarto mandato com 95,1% dos votos em uma eleição que estenderá seu domínio sobre um país arruinado pela guerra. Oponentes e governos ocidentais afirmam que a eleição foi fraudulenta.
O governo de Assad afirma que a eleição, realizada na quarta-feira (26), mostra que a Síria está funcionando normalmente apesar do conflito de uma década, que matou centenas de milhares de pessoas e expulsou 11 milhões de cidadãos – cerca de metade da população – de suas casas.
De acordo com o chefe do parlamento sírio, Hammouda Sabbagh, que anunciou os resultados em uma entrevista coletiva, a participação eleitoral foi de cerca de 78%, com mais de 14 milhões de votantes.
A eleição prosseguiu apesar de um processo de paz liderado pela ONU que exigia votação sob supervisão internacional, o que ajudaria a pavimentar o caminho para uma nova constituição e um acordo político no país.
Os chanceleres da França, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha e Estados Unidos emitiram um comunicado no qual criticam Assad antes da eleição e afirmam que a votação não seria livre ou justa. A Turquia, adversária de Assad, também disse que a eleição foi ilegítima.
A vitória entrega a Assad, de 55 anos, mais sete anos no poder e prolonga o governo de sua família para quase seis décadas. Seu pai, Hafez al-Assad, liderou a Síria por 30 anos até sua morte em 2000.
Os anos de Assad como presidente foram definidos pelo conflito que começou em 2011 com protestos pacíficos antes de se transformar em um conflito multifacetado que dividiu o país do Oriente Médio e atraiu amigos e inimigos estrangeiros.
“Obrigado a todos os sírios por seu alto senso de nacionalismo e sua notável participação. Para o futuro das crianças e jovens da Síria, vamos começar amanhã nossa campanha de trabalho para construir esperança e construir a Síria”, escreveu Assad em seu página da campanha no Facebook.
O maior desafio do presidente, agora que recuperou o controle de cerca de 70% do país, será uma economia em declínio. O endurecimento das sanções dos Estados Unidos, o colapso financeiro do vizinho Líbano, a pandemia de Covid-19 que atinge as remessas dos sírios para o exterior e a incapacidade dos aliados Rússia e Irã de fornecer ajuda suficiente, significam que as perspectivas de recuperação parecem ruins.
Os comícios com milhares de pessoas agitando bandeiras sírias e segurando fotos de Assad enquanto cantavam e dançavam aconteceram durante toda a quinta-feira (27) em comemoração à eleição.
Fontes afirmaram à agência Reuters em particular que as autoridades organizaram as grandes manifestações nos últimos dias para incentivar o voto, e que o aparato de segurança que sustenta o governo de Assad, dominado pela minoria alauita, instruiu funcionários públicos ao voto.
A votação foi boicotada pelas forças lideradas pelos curdos, apoiadas pelos EUA, que administram uma região autônoma rica em petróleo no nordeste e no noroeste da região de Idlib, o último enclave rebelde existente, onde as pessoas denunciaram a eleição em grandes manifestações.
Assad concorreu contra dois candidatos: o ex-vice-ministro do Gabinete Abdallah Saloum Abdallah e Mahmoud Ahmed Marei, chefe de um pequeno partido de oposição oficialmente sancionado. Marei obteve 3,3% dos votos, enquanto Saloum recebeu 1,5%.