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    Austrália revela plano para maior expansão da Marinha desde a Segunda Guerra

    Governo prevê gasto de R$ 172,5 bilhões nos próximos 10 anos

    HMAS Stuart, da Marinha Real Australiana, faz abordagem de reabastecimento no mar ao lado do HMAS Warramunga, na costa da Austrália Ocidental
    HMAS Stuart, da Marinha Real Australiana, faz abordagem de reabastecimento no mar ao lado do HMAS Warramunga, na costa da Austrália Ocidental Divulgação/Marinha Real Australiana

    Brad Lendonda CNN

    A Austrália anunciou nesta terça-feira (20) planos para a maior ampliação de sua Marinha desde a Segunda Guerra Mundial, alocando mais de US$ 35 bilhões (R$ 172,5 bilhões) para o projeto ao longo dos próximos 10 anos, em um movimento que analistas avaliaram que indica o aumento das tensões com a China no Indo-Pacífico.

    De acordo com uma declaração do governo, os planos farão com que a Marinha Real Australiana aumente sua frota de grandes navios de guerra de superfície para 26 no total.

    Isso acontece depois de uma revisão independente liderada por um almirante reformado da Marinha dos EUA concluir que “a atual e planejada frota de combatentes de superfície não é apropriada para o ambiente estratégico que enfrentamos”.

    “Uma Austrália forte depende de uma marinha forte, equipada para conduzir a diplomacia em nossa região, dissuadir adversários em potencial e defender nossos interesses nacionais quando chamada”, destacou o vice-almirante chefe da Marinha australiana, Mark Hammond, no comunicado.

    “O tamanho, a letalidade e as capacidades da futura frota de combatentes de superfície garantem que a nossa Marinha esteja equipada para enfrentar os desafios estratégicos em evolução da nossa região”, adicionou.

    O projeto para reforçar a frota inclui 20 contratorpedeiros e fragatas e seis grandes navios de superfície opcionalmente tripulados (LOSVs), que podem operar com marinheiros a bordo ou de forma independente, como drones.

    Essas embarcações de superfície se juntarão a uma frota de submarinos movidos a energia nuclear que a Austrália planeja construir sob o pacto AUKUS, com os Estados Unidos e o Reino Unido, os três primeiros dos quais devem ser entregues no início da próxima década.

    A revisão independente observou que a Austrália tinha “a frota mais antiga que a Marinha operou em sua história”, de acordo com o comunicado do governo.

    E os analistas pontuaram ainda que o ambiente de segurança na região, onde a rival China construiu a maior Marinha do mundo e está afirmando as suas reivindicações territoriais em águas disputadas, significa que a Austrália tem que agir.

    Collin Koh, pesquisador da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam em Cingapura, comentou que aumentar o tamanho da frota australiana “é essencial se for preciso atender ao crescente conjunto de requisitos de missão, especialmente ao projetar presença em todo o Indo-Pacífico”.

    Embora não haja menção à China no plano de expansão, a comissão de revisão observou que a futura frota de superfície precisa ser capaz de “apoiar atividades críticas, incluindo o patrulhamento ao norte, a escolta aproximada e as missões de transporte marítimo de teatro”.

    Além disso, os especialistas apontaram possíveis ameaças da China.

    “Isso provavelmente sinaliza o quão preocupados estão governo e Defesa com nossas circunstâncias estratégicas”, analisou Jennifer Parker, pesquisadora adjunta em estudos navais na UNSW Canberra, em entrevista à Australian Broadcasting Corporation (ABC).

    “Há muitos que dizem que, para o final da década de 2020, estamos entrando em um período de risco no Indo-Pacífico e isso é gerado pelo aumento da agressão da China tanto no Mar da China Meridional como no Nordeste da Ásia”, disse ela.

    Período em que Marinha estará em risco

    Após a conclusão da expansão, em meados da década de 2040, a frota naval seria composta por:

    • os três atuais contratorpedeiros de mísseis guiados da classe Hobart do país, que receberão atualizações nos seus sistemas de defesa aérea e de ataque;
    • seis novas fragatas da classe Hunter com guerra anti-submarina, bem como capacidades de ataque;
    • 11 novas fragatas de uso geral para defesa aérea, ataque e escolta; e
    • seis dos novos LOSVs, cada um com 32 células do Sistema de Lançamento Vertical (VLS) para mísseis.

    Outras 25 embarcações menores serão usadas para patrulhamento e tarefas de segurança marítima, informou o governo.

    Tendo em vista a urgência de melhorar a frota de superfície do país, o governo disse que a primeira das 11 fragatas de uso geral seria construída com base em um projeto existente importado do Japão, Coreia do Sul, Alemanha ou Espanha, com o trabalho posteriormente transferido para um estaleiro australiano.

    HMAS Warramunga, navio da Marinha Real Australiana, conduz uma atividade cooperativa entre o Japão, os Estados Unidos e a Austrália durante uma implantação de presença regional
    HMAS Warramunga, navio da Marinha Real Australiana, conduz uma atividade cooperativa entre o Japão, os Estados Unidos e a Austrália durante uma implantação de presença regional / Divulgação/Marinha Real Australiana

    Na entrevista à ABC, a pesquisadora Jennifer Parker observou que há um “período de risco” para a Austrália no plano, pois alguns navios mais antigos serão aposentados antes que novos entrem em operação.

    John Bradford, membro do Conselho de Relações Exteriores para assuntos internacionais, ressaltou que o país precisaria ser firme em seguir o plano.

    “O plano é realista desde que o governo australiano mantenha o seu compromisso com este esforço”, ponderou Bradford, que acrescentou que a primeira das fragatas da classe Hunter, que ele chamou de “sistema principal” no plano, não se juntará à frota até 2032.

    Críticas da oposição

    O legislador da oposição australiana Andrew Hastie, ministro paralelo da Defesa, criticou o cronograma do projeto.

    “Não veremos um navio na água até 2031, presumindo que este plano cumpra o cronograma. [O projeto] não responde aos desafios estratégicos urgentes colocados por este mundo perigoso”, alegou Hastie aos jornalistas.

    Analistas afirmaram que quando os navios entrarem em operação, precisarão de marinheiros para tripulá-los, algo que não é garantido.

    “Mesmo com os altos níveis de automação encontrados nesses novos navios planejados, e quanto à tripulação? Irá [a Marinha] enfrentar um desafio em termos de mão-de-obra para tripular esta frota expandida?”, perguntou Koh.

    Mas o governo destacou que a expansão “requer um aumento mínimo no complemento da tripulação devido a uma racionalização do tamanho das tripulações e a uma maior dependência da tecnologia e da automação”.

    No anúncio desta terça-feira, a administração federal também citou os benefícios econômicos que a expansão geraria.

    “Este investimento fornece um caminho claro para a indústria de construção naval e a força de trabalho na Austrália do Sul e na Austrália Ocidental”, sustentaram.

    Pat Conroy, ministro da Indústria de Defesa, comentou que a construção naval criará 3.700 empregos nos próximos 10 anos e outros milhares no futuro.

    No entanto, o partido da oposição, os Verdes, classificou o plano como um “erro multibilionário” impulsionado por preocupações políticas locais para proteger os empregos na construção naval e os políticos.

    “Não importa quantas vezes a liderança da Defesa falhe, tanto cobrando demais quanto entregando mal, eles mantêm seus empregos e são recompensados com bilhões de dólares públicos a mais”, criticou o porta-voz da defesa dos Verdes, senador David Shoebridge, em comunicado.

    *Angus Watson e Hilary Whiteman, da CNN, contribuíram para esta reportagem

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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