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    Aurora Dourada: Grécia declara partido de extrema-direita como grupo criminoso

    Organização já foi terceira maior liderança política do país

    da CNN*

    A Corte grega declarou nesta quarta-feira (7) que o partido de extrema-direita Aurora Dourada é um grupo criminoso, banindo efetivamente a organização radical que já foi a terceira maior liderança política do país. 

    A sala do tribunal vibrou ao fim do julgamento de alta visibilidade, depois de cinco anos de audiências, assim como milhares que se reuniam do lado de fora do Tribunal de Apelações de Atenas. 

    Mas o humor nas ruas azedou quando grupos isolados de jovens encapuzados atiraram coquetéis molotov contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo e jatos de água. 

    O Aurora Dourada foi da obscuridade à infâmia no espaço de poucos anos, atraindo apoiadores com uma retórica xenofóbica no alto da debilitante crise da dívida grega. 

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    Porém, começou a se desfazer em setembro de 2013, quando um apoiador do partido foi preso pelo assassinato de Pavlos Fyssas, um rapper alinhado à esquerda política. 

    “Com a decisão de hoje, um ciclo traumático da vida pública do país chega ao fim”, disse o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis. “Assim como nas urnas, esse grupo nazista também foi condenado na corte”. 

    Membros do Aurora Dourada, incluindo o líder Nikos Mihaloliakos, foram cercados e autoridades instaurartam um inquérito se o grupo era uma organização criminosa em paralelo à investigação da morte de Fyssa. 

    Mihaoliakos é um negacionista do Holocausto que fundou o partido nos anos 1980 como uma organização neonazista. Sentenças individuais serão anunciadas nos próximos dias. 

    Os promotores acusaram 65 pessoas, incluindo 18 ex-deputados do partido, de serem parte de um grupo criminoso. A organização disse que é vítima de uma caça às bruxas política. 

    Dúzias de outros julgados, membros do partido e supostos associados, enfrentam penas em acusações que vão de assassinato a perjúrio, ligados a ataques violentos a imigrantes e ativistas de esquerda. 

    Além da audiência de testemunhas, o processo incluiu a apreensão de celulares e computadores, nos quais foram encontradas fotos de recrutas do partido posando com armas de fogo e fazendo saudações nazistas.

    Antes que a corte chegasse à uma decisão, o apoiador do partido Yiorgos Roupakias foi considerado culpado pela morte do artista. 

    A mãe de Fyssa, que usava preto e não perdeu um dia de julgamento desde o começo, chorou quando saiu o veredito contra o Aurora Dourada. 

    “Pavlos, você conseguiu”, ela disse. “Nós vencemos uma batalha, mas continuaremos a luta”. 

    Os membros do partido não estavam na Corte nesta quarta. Eles foram presos em 2013, a primeira vez que políticos eleitos foram detidos na Grécia desde um golpe militar em 1967, e soltos após a prisão preventiva expirar. 

    O Aurora Dourada não conseguiu vencer um único assento na eleição parlamentar do ano passado. 

    Dezenas de milhares se manifestaram do lado de fora da corte, segurando bandeiras que diziam, por exemplo, “Fascismo nunca mais” e “Liberdade às pessoas, morte ao fascismo”. 

    “Nós devemos enviar uma mensagem para as gerações mais novas, uma mensagem contra o fascismo”, disse Sophia, de 69 anos. “É nosso dever com a democracia estarmos aqui hoje, para mostrar que somos contra essas ações criminosas”. 

    A Anistia Internacional disse que o veredito desta quarta vai ajudar no combate a crimes de ódio. 

    “Esse veredito envia uma mensagem clara a grupos políticos com pautas agressivas contra migrantes e direitos humanos na Grécia e em toda a Europa, de que atividades criminosas violentas e racistas não sairão impunes”, disse Nils Muiznieks, o diretor europeu da entidade. 

    Um advogado da promotoria, Thanasss Kambagiannis, descreveu o julgamento como “o maior julgamento de nazistas desde Nuremberg”. 

    Altamente simbólica, a decisão oferece um momento catártico em um país que ainda se recupera de crises econômicas e políticas que levaram eleitores a extremos. 

    A ascensão do Aurora Dourada

    O grupo começou nos anos 1980 como cria de Nikos Michaloliakos, que foi escolhido por um dos ex-ditadores da Grécia para liderar um grupo de jovens de extrema-direita após a queda do regime militar de sete anos do país e a subsequente restauração da democracia em 1974. 

    O jornalista Dimitris Psarras, que escreveu extensivamente sobre o Aurora Dourada, diz que o partido foi, desde o primeiro dia, criado para “promover ideologia nazista” e “nunca parou de acreditar em racismo e antissemitismo”. 

    A rápida ascensão do partido nos últimos anos esteve diretamente ligada à crise financeira grega que começou em 2010. Um grupo isolado, com apenas 0,3% dos votos em 2009, o Aurora Dourada disparou para uma parcela de 7% na eleição de 2012, que aconteceu após dois resgates em dois anos que impuseram dura austeridade.

    Com economia comparada à Grande Depressão americana e o desemprego entre os jovens batendo 50%, o Aurora Dourada explorou a raiva e desespero resultantes para se infiltrar no establishment político.

    Ele conseguiu 18 assentos dos 300 do parlamento, encaminhado para se tornar a terceira maior força política da Grévcia. Era a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que um grupo abertamente nazista ganhou essa proeminência em um país europeu. 

    Para aprofundar a base política, o partido focou no “homem comum”, engajando as comunidades e ocupando o espaço que o Estado em dificuldade não conseguia preencher. Com mais pessoas dependendo de cupons de alimentos, o partido criou redes de distribuição de comida e, mais tarde, bancos de sangue, que eram oferecidos “estritamente só para gregos”. 

    As palavras e ações do partido se tornaram mais extremas conforme a popularidade dele cresceu. Relatos de violência nas ruas —primariamente contra migrantes, mas também contra oponentes políticos e membros da comunidade LGBTQ+— se tornaram frequentes. Também cresceram reuniões iluminadas por tochas, com apoiadores levantando os braços em cumprimentos fascistas. 

    O restante dos partidos europeus de extrema-direita se afastaram rapidamente. Mas a marca do Aurora Dourada, com um logo que lembra a suástica e slogans quase idênticos aos usados pela juventude nazista, se tornou cada vez mais atraente para simpatizantes da extrema-direita, que foram à Grécia para aprender os métodos do partido. 

    Sinais de alerta

    Sete anos depois do músico Fyssas, o Aurora Dourada está desarticulado e fragmentado. A vitória do partido de centro-direita Nova Democracia nas eleições de 2019, as primeiras desde a saída da Grécia do regime de austeridade um ano mais cedo, sinalizou uma ruptura com os anos de aberto populismo e um retorno à política mainstream. Pela primeira vez desde a entrada no parlamento, o Aurora Dourada não conseguiu nenhum assento. 

    No entanto, sinais preocupantes persistem. Como explicou o promotor Thanassis Kambagiannis, “A Constituição grega não permite criminalizar um partido político. Isso não existe no sistema legal do país. E não há lei para impedir a fundação de um partido”. 

    O grupo dissidente Gregos pela Nação, liderado por Ilias Kassidiaris —então figura proeminente do Aurora Dourada que, notoriamente, deu um tapa em uma política de esquerda durante um programa de televisão ao vivo —está ganhando espaço em uma plataforma contra migração, de acordo com pesquisas recentes. Kassidiaris está entre os julgados, e agora, condenados, pela Corte. 

    Violência contra imigrantes e refugiados ligada a grupos de extrema-direita tem sido relatada em algumas ocasiões desde o início do julgamento, primariamente nas ilhas que abrigam grandes campos de refúgio. 

    Para prevenir o ressurgimento do extremismo, explica o professor Lamprini Rori, da Universidade de Exeter, é preciso atacar as questões que o alimentam. “Se o governo provar pouca capacidade de administrar a imigração, isso pode alimentar uma demanda eleitoral por partidos anti-imigantes”. 

    (Com informações da Reuters e da CNN Internacional)

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