Argentina vive polarização marcada pelo populismo a um mês da eleição presidencial
Na reta final, o mais importante não são as convicções e a coerência, mas atrair votos
As pesquisas mais confiáveis — e esse é um critério crucial na Argentina, diante dos erros do passado recente — indicam que a polarização entre esquerda e extrema direita vem se consolidando: o economista libertário Javier Milei e o ministro da Economia, Sergio Massa, devem ser os mais votados no primeiro turno, dentro de um mês, e enfrentar-se no segundo, dia 19 de novembro.
Como acontece também no Brasil, é uma polarização marcada por traços de populismo — do qual a Argentina é o berço — comuns a ambos os candidatos.
VÍDEO – Análise: Argentina zera impostos antes das eleições
Isso ficou claro na votação, na terça-feira (19), da proposta de Massa de redução do imposto de renda.
- Os quatro deputados da Liberdade Avança, partido de Milei, votaram a favor da proposta, aprovada por 135 a 103.
- Já o grupo Juntos pela Mudança, liderado pela candidata Patricia Bullrich, foi orientado por ela a votar contra.
A proposta foi uma espécie de xeque-mate para a oposição: como responder a um pacote de bondades do governo para uma população castigada pela inflação causada exatamente por esse tipo de gastos e renúncias fiscais?
- Milei justificou a posição com sua retórica tipicamente abrasiva: “O Estado é uma organização criminosa que vive dos impostos e, portanto, todos os impostos são um roubo”.
- Já Bullrich, liberal na economia e conservadora em temas como segurança, argumentou que a redução dos impostos agravará o déficit público e, com ele, a inflação.
O raciocínio elaborado de Bullrich tem menos apelo que as soluções imediatistas que Massa e Milei apresentam aos argentinos desesperados pela perda diária de poder de compra.
Pesquisas
Pesquisa da consultoria Tendencias com 25.704 entrevistados indica que Milei terá 33,2% dos votos no primeiro turno; Massa, 28,5%, e Bullrich, 22,7%.
A pesquisa mostra que a migração de votos a partir das eleições primárias obrigatórias de agosto favorece Milei. Ele conseguiria reter 90,6% dos votos que recebeu nas primárias, perdendo 5% para Bullrich. Já a candidata manteria 82,6%, sendo que 12,3% iriam para Milei.
Estratégias
O candidato libertário tem propostas econômicas radicalmente diferentes das de Massa, como dolarizar a economia argentina. Mas, diante da indiferenciação momentânea no plano tributário, o ministro da Economia e candidato do governo atacou o adversário nessa quinta-feira (21) no campo social.
Ao comemorar o Dia do Estudante na Argentina, Massa discursou: “Não quero que as crianças vão para a escola armadas porque na Argentina há venda gratuita de armas. Quero que o Estado garanta a sua segurança. Deixe as crianças irem com o notebook na mochila e não com a arma”.
Foi uma referência a um programa do governo de distribuição de laptops para os alunos da rede pública, e à proposta de Milei de liberalizar a venda de armas para os cidadãos, que no entanto o Liberdade Avança tem relativizado nos últimos dias, segundo o jornal La Nación.
Na reta final, o mais importante não são as convicções e a coerência, mas atrair votos. Milei e Massa estão se saindo melhor nisso do que Bullrich.