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    Após fim de evacuação em Cabul, EUA tentam retirar 14 mil afegãos de base na Alemanha

    Na manhã desta quarta-feira (1º), quase 12 mil evacuados deixaram a base aérea de Ramstein, enquanto outros 14.900 ainda permanecem no local por atrasos no processo de triagem

    Base aérea na Alemanha se torna campo de refugiados afegãos que conseguiram deixar Cabul após o Talibã tomar o poder
    Base aérea na Alemanha se torna campo de refugiados afegãos que conseguiram deixar Cabul após o Talibã tomar o poder Uwe Anspach/picture alliance via Getty Images

    Atika Shubertda CNN

    Da janela de seu escritório, o general Joshua Olson pode assistir a uma partida diária de futebol organizada pelas crianças afegãs que estão temporariamente em sua base aérea, localizada na Alemanha.

    “Esta é agora minha família. Pelo menos até que eles saiam de nossa base aérea”, disse Olson, comandante da instalação da base aérea de Ramstein, na Alemanha, à CNN enquanto caminhava entre as barracas. “É minha família e eu tenho que descobrir como protegê-los.”

    Ramstein é uma das maiores bases aéreas dos Estados Unidos fora da América e se tornou um centro crucial para a evacuação do Afeganistão após a tomada do Talibã.

    Desde 20 de agosto, cerca de 106 aviões pousaram no local – a maioria do modelo C-17, e com seus compartimentos de carga abarrotados com centenas de pessoas que fugiam do Talibã. A base aérea de Ramstein estava pronta com tendas instaladas para até 10 mil pessoas, mas elas rapidamente se encheram.

    “Estávamos esgotados e o fluxo [de pessoas] continuava chegando. Tive que fechar parte da base para os evacuados afegãos”, explica Olson. O militar explicou ainda que é mais fácil levar os refugiados para base áerea do que tirá-los de lá.

    Na manhã desta quarta-feira (1º), quase 12 mil evacuados deixaram a base aérea, enquanto outros 14.900 ainda permaneceram. O número de desabrigados que chegaram a Ramstein até agora é quase o triplo da população do município alemão de Ramstein-Miesenbach, que hospeda a base.

    Ramstein também é onde 20 militares americanos feridos e 10 afegãos feridos voaram após um ataque terrorista mortal fora do aeroporto de Cabul na semana passada, antes de serem levados a um centro médico a cinco minutos da base.

    Andrew Landers, comandante do Centro Médico Regional Landstuhl (LRMC), disse aos repórteres nesta terça-feira (31) que eles sofreram uma grande variedade de ferimentos provocados pela explosão – outros também foram atingidos por armas de fogo. Alguns dos feridos necessitaram de intervenção médica a bordo do voo dos C-17, que os evacuaram de Cabul.

    Agora, os 20 militares americanos já foram levados de avião para o centro médico militar Walter Reed, nos Estados Unidos. Todos estavam estáveis ​​e conscientes, a maioria falando, de acordo com Landers. Desde o início dos voos de evacuação, um total de 12 bebês nasceram de famílias afegãs no LRMC.

    Na base aérea de Ramstein ainda há uma extensa cidade de tendas, semelhante a um campo de refugiados, que se estende por toda a pista. Mulheres e crianças dormem dentro dos hangares da base aérea, enquanto os homens dormem em barracas.

    As refeições quentes são distribuídas três vezes ao dia. Banheiros portáteis e estações para banho fornecem apenas o saneamento básico.

    Além de fornecer abrigo básico, a base aérea comandada por Olson enfrenta novos problemas o tempo todo. O que fazer, por exemplo, com todas as crianças? Com tantas famílias, a base agora tem mais de 6 mil crianças.

    O Departamento de Estado dos EUA também identificou dezenas como menores desacompanhados – alguns separados de seus pais e familiares em meio ao caos da evacuação. Olson levou a equipe de reportagem da CNN a um dos poucos trechos gramados na base para ver o “Kinder Pod”, uma área para jogos.

    “Um dos nossos maiores problemas tem sido lenços umedecidos e leite em pó”, disse ele, acrescentando que as tripulações de avião relataram ficar sem fraldas durante voos de evacuação para a Base Aérea de Ramstein. “Quem teria pensado aquilo?”

    A parte mais difícil para a maioria dos evacuados é a espera, a incerteza e a incapacidade de se comunicar com seus familiares em casa. Donia Laali é uma das que estão esperando. Ela lutou para chegar ao aeroporto de Cabul e levou sua família, formada por sete mulheres.

    “Nós apenas decidimos tentar, minha família tentou. Porque somos todas mulheres. Não há nenhum homem conosco. Meus dois irmãos ainda estão nos Estados Unidos. Então, vamos tentar encontrar com eles”, disse Laali à CNN.

    O militar dos Estados Unidos Josh Olson dá uma entrevista coletiva na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha / Andreas Rentz / Getty Images (26.ago.2021)

    Sentada com outras mulheres do lado de fora de um hangar de avião com um mar de berços militares dentro, Laali diz que sua família está espalhada por três seções diferentes do campo, incapazes de se comunicarem.

    “Às vezes, não parece tão justo para nós”, disse Laali, descrevendo sua frustração com as condições do acampamento. “Mas quando percebo que estou segura aqui, do Talibã, estou bem. Quando me sinto segura aqui, isso significa tudo para mim.”

    Triagem em base aérea de Ramstein tem demorado mais do que o previsto

    O objetivo era fazer com que os evacuados fossem transferidos em 48 horas e, segundo o acordo dos Estados Unidos com a Alemanha, os evacuados não podem permanecer no local por mais de 10 dias. A triagem e o processamento dos evacuados, no entanto, tem demorado mais do que o previsto.

    No último sábado, Elizabeth Horst, ministra conselheira dos Estados Unidos para Diplomacia Pública e Coordenadora Sênior Interagências Civil, pediu paciência.

    “Estamos fazendo o nosso melhor para ajudar as pessoas que trabalharam conosco no Afeganistão. Estamos usando tudo ao nosso alcance”, disse ela em uma coletiva de imprensa.

    “Temos um interesse pessoal e profissional [em] garantir que os afegãos saiam, recebam cuidados médicos e cheguem aos Estados Unidos, onde possam começar do zero. E se tornarem americanos, se assim escolherem”.

    O enorme Hangar 5 de Ramstein foi transformado em um terminal aéreo internacional improvisado com triagem de segurança e check-in. Os evacuados são guiados por uma combinação de oficiais militares e consulares.

    Os passageiros recebem pulseiras amarelas no check-in e, em seguida, pesam suas bagagens. Vidas inteiras, embaladas em mochilas, fardos de tecido ou frágeis sacolas plásticas, são cuidadosamente pesadas em uma balança e, em seguida, etiquetadas. Um grupo de voluntários dá às crianças mochilas coloridas cheias de brinquedos e livros de colorir para o voo.

    Afegãos relembram tomada de Cabul pelo Talibã: ‘Não é uma memória feliz para meu filho’

    Enquanto os evacuados esperam para embarcar em seus voos para os EUA, há uma mistura de emoções.

    Enquanto esperava para fazer o check-in, Asadullah Sadiqi, de 25 anos, mostrou-nos um hematoma no rosto. Segundo ele, o Talibã o agrediu enquanto ele estava nos arredores do aeroporto de Cabul.

    “O Taleban me bateu”, disse Sadiqi à CNN, descrevendo a cena no aeroporto. “Todo mundo estava mostrando passaporte dos EUA ou passaporte britânico. Eles não se importaram. Eles estavam apenas batendo nas pessoas.”

    Depois de mais de dois dias de espera em Ramstein, sua família foi finalmente liberada para partir. “Todo mundo está feliz”, disse ele enquanto segurava a mão de seu sobrinho. “Porque finalmente vamos ver nossa família na Virgínia.”

    Enquanto isso, Shabana Rangin, de 24 anos, estava sentada no chão com seu marido Abdul. Em seus braços estava o filho do casal – de apenas 25 dias.

    “Meus irmãos e irmãs estão lá no Afeganistão. É por isso que choro”, disse ela à CNN enquanto esperava para embarcar em seu voo. Ela levantou o cobertor para mostrar o rosto adormecido de seu filho. “Não quero pensar nisso para ele no futuro, para falar com ele. Esta não é uma boa memória, não é uma memória feliz.”

    Mesmo para quem consegue embarcar, ainda há atrasos. Na semana passada, a CNN se encontrou com Mohammad Nirwaz Maiwand, de 32 anos, que mostrou uma sacola de plástico cuidadosamente lacrada com sua identidade da Agência Antidrogas dos Estados Unidos (DEA), para quem ele havia trabalhado no Afeganistão.

    Apesar de ter um visto especial de imigrante aprovado, ele esperou mais de cinco dias para pegar um voo para os Estados Unidos.

    “Tudo o que posso dizer é que o gerenciamento de tudo isso é muito básico e muito fraco”, disse ele à CNN em uma mensagem de texto após pousar no aeroporto Dulles.

    Na Base Aérea de Ramstein, o comandante Olson também está claramente frustrado com o ritmo lento de entrada de sua nova “família” nos Estados Unidos.

    “Penso em nossos pais e avós que pegaram um barco e foram para a América. Todas as coisas que eles sacrificaram. Esquecemos isso de várias maneiras”, diz ele. “Também esquecemos os sacrifícios nos últimos 20 anos que os militares suportaram por grande parte da liberdade desses novos afegãos-americanos.”

    Olson mostrou à CNN as estações de doação, onde um exército de voluntários civis separa uma montanha de sapatos, jaquetas e cobertores doados pela comunidade em geral. Há tanta doação que a base teve problemas para armazenar tudo.

    Apesar da longa espera, dos recintos cercados, ele vê uma tentativa de toda a comunidade da base aérea de estender a mão e confortar os recém-chegados depois de tanto sofrimento e perda. “Para mim, a história incrível é essa demonstração de apoio. São pessoas que querem fazer a coisa certa”, diz Olson.

    (Esse texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)