Antártica registra temperatura 38ºC acima do normal; cientistas falam em recorde
Temperatura na estação de pesquisa Concordia subiu para surpreendentes 11,5°C negativos
Cientistas ficaram chocados este mês quando uma estação de pesquisa na Antártica relatou um clima extraordinariamente quente.
A temperatura na estação de pesquisa Concordia, no topo do Dome C, no Planalto Antártico – normalmente conhecido como o lugar mais frio da Terra – subiu para surpreendentes 11,5°C negativos em 18 de março.
A temperatura alta normal para o dia é de cerca de 49°C abaixo de zero, o que coloca a leitura de 18 de março em cerca de 38°C mais quente que o normal.
Se a Organização Meteorológica Mundial realmente rastreasse esse dado em particular, os cientistas dizem que provavelmente estabeleceria um recorde mundial.
“Parece ter estabelecido um novo recorde mundial para o maior excesso de temperatura acima do normal […] já medido em uma estação meteorológica estabelecida”, publicou no Twitter o cientista Robert Rohde, cientista-chefe da Berkeley Earth, na segunda-feira (28).
Randall Cerveny, professor de ciências geográficas da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, e relator de registros extremos da Organização Meteorológica Mundial, disse à CNN que esse tipo de registro – quão acima ou abaixo do normal é a temperatura – não é algo que a OMM rastreia ou verifica. Mas mesmo assim, disse ele, essa leitura parece legítima.
“Tudo o que eu pessoalmente vi sobre a observação do Dome C sugere que é uma observação legítima”, disse Cerveny à CNN.
Embora -11°C não seja quente, é inédito para esta parte da Antártica, e 38 graus acima da média é igualmente surpreendente.
Seria como se a alta temperatura em Washington (DC), na segunda-feira – normalmente 16°C – fosse de impensáveis 55°C. Na realidade, o mais quente já registrado lá em 28 de março foi de 29°C.
O lugar mais frio da Terra?
A temperatura de Concordia foi um recorde para a temperatura mais alta não apenas no mês de março, mas um “recorde absoluto” para qualquer mês, de acordo com Etienne Kapikian, meteorologista do Meteo-France, o serviço de meteorologia francês.
E não foi o único local a registrar altas temperaturas naquele dia. Vostok, a base de pesquisa russa famosa por registrar a temperatura mais fria do mundo, relatou uma alta temperatura de 17ºC negativos. A temperatura quebrou o recorde anterior da estação para março em quase 27 graus.
Com mais de 60 anos de dados coletados, esse registro “é inédito na história da climatologia”, segundo uma análise da Meteo-France. Uma combinação única de eventos meteorológicos teve que ocorrer para que a Mãe Natureza aumentasse o calor na Antártica Oriental naquele dia.
“Definitivamente, um conjunto muito interessante e incomum de eventos meteorológicos desencadeou esse evento”, disse Cerveny à CNN.
Houve “o fluxo úmido de um rio atmosférico” – tempestades puxando grandes quantidades de umidade do oceano sobre a terra, muito parecido com o que a Costa Oeste dos EUA vê no inverno, disse Cerveny. E houve também uma intrusão de ar muito quente, raro para esta época do ano, no planalto antártico.
A chegada da umidade prendeu o ar quente, permitindo que as temperaturas disparassem no Leste da Antártica.
Embora seja raro, existe a possibilidade de que esses ingredientes atmosféricos tenham se reunido antes da época em que os humanos estavam por perto para gravá-lo, disse John King, pesquisador do British Antarctic Survey, à CNN.
“A rede de observação climática da Antártica é bastante escassa e quase inexistente antes de meados da década de 1950”, disse King.
O calor extremo na Antártica levanta preocupações sobre os efeitos a longo prazo no gelo, principalmente se houver persistência. Uma plataforma de gelo na Antártica quase do tamanho de Los Angeles se desintegrou em poucos dias de calor extraordinário no continente.
Mas King observou que o impacto de um único calor, de curta duração “sempre será pequeno”. “Embora, no futuro, tais eventos se tornem mais comuns, haveria impactos significativos”, disse King.