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    Análise: Por que Putin quer uma “guerra eterna” contra a Ucrânia?

    Estratégia de guerra do presidente russo pode ser vencer Kiev pelo esgotamento de suas capacidades militares logísticas e moral do povo ucraniano

    Mark Galeottida CNN

    Quando falamos do conflito entre a Rússia e Ucrânia se tornar uma “guerra eterna”, a maioria dos países ocidentais considera essa possibilidade um pesadelo. No entanto, para o presidente russo, Vladmir Putin, isso é um objetivo e poderíamos dizer que até mesmo “benéfico”.

    Essa tese pode ser comprovada quando olhamos para a semana passada, quando Putin decretou o 30 de setembro como um feriado oficial: o Dia da Reunificação das Novas Regiões com a Federação Russa.

    O significado da celebração não poderia ser outro, a não ser o marco da luta incessante da Rússia pelos territórios os quais considera parte integrante de seu novo império.

    A data em questão também não poderia ser mais significativa, já que, segundo os russos, marca o aniversário da anexação de regiões ucranianas em Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, embora a maioria dessas regiões sequer estivesse sob o controle russo.

    No entanto, para Putin, esta não é uma luta contra a Ucrânia, mas sim uma luta contra o Ocidente, justificada pelo discurso quase que ditatorial: pátria, soberania, valores espirituais, unidade e vitória.

    Nesse sentindo, a Ucrânia é apenas o campo de batalha sangrento.

    No seu discurso no desfile do Dia da Vitória de 2023, uma longa e bombástica fala de sucessos russos, Putin foi enfático ao declarar que “uma verdadeira guerra foi desencadeada contra a nossa pátria”.

    Ele levantou o espectro da Grande Guerra Patriótica – como os russos descrevem a Segunda Guerra Mundial – e alertou que “a civilização está novamente em um ponto de mudança decisiva” porque as “elites globais ocidentais” estavam determinadas a “destruir e dizimar” a Rússia.

    Por um lado, isto poderia ser tomado como um alerta apocalíptico para o relativo fracasso da sua chamada “operação militar especial” na Ucrânia, na qual o que deveria ser uma operação rápida para impor um regime fantoche tornou-se, em vez disso, uma operação sangrenta e um guerra em grande escala.

    O fato é que quando Putin fala em “batalhas decisivas pelo destino da nossa Pátria”, como fez no desfile do Dia da Vitória deste ano, ele também parece de uma coração e com o novo credo do seu regime.

    Ele não oferecia nenhuma visão clara do futuro, nem mesmo qualquer esperança real, apenas a mensagem de que a nação estava envolvida em uma luta existencial sem nenhum fim à vista contra um ocidente hostil.

    Isso parece uma perspectiva sombria, mas da perspectiva de Putin também tem as suas virtudes claras. Isso porque a guerra é uma catástrofe para a Rússia. Fontes do governo dos EUA sugerem que a Rússia pode ter sofrido 120 mil baixas de soldados (mortes) e está com 170 mil a 180 mil militares feridos.

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    As cicatrizes econômicas levarão anos a sarar, mesmo quando a paz for acordada e as sanções desfeitas. E os efeitos de segunda ordem sobre os serviços públicos subfinanciados, mesmo sem o fardo de um grande número de veteranos com danos físicos e psicológicos, serão sentidos pelo menos pela próxima geração.

    Mas também é uma oportunidade. À medida que a guerra eterna se torna o princípio organizador do “Putinismo tardio”, ela desculpa – e até exige – o aperto cada vez maior da repressão que Putin necessita para manter o seu controle sobre a nação.

    Mesmo a dissidência mais ligeira torna-se traição, e a transferência maciça de recursos para o setor da defesa torna-se uma necessidade. O último orçamento prevê um aumento das despesas militares em quase 70% no próximo ano, para um nível de cerca de três vezes o gasto combinado com saúde, educação e proteção ambiental.

    No campo de batalha, Putin pode dizer a si mesmo que vence se não perder. A contraofensiva ucraniana rompeu a primeira linha defensiva russa na região sul de Zaporizhzhia e já abriu algumas brechas locais na segunda.

    A esperança de Kiev é que, se não conseguir dividir as forças invasoras em duas, pelo menos chegue longe o suficiente para poder bombardear as ligações rodoviárias e ferroviárias de “pontes terrestres” que ligam a Crimeia ao continente russo.

    À medida que as chuvas de inverno se aproximam, é difícil saber se isso será possível. E os resultados da falha desses planos de Kiev seria uma vitória do ponto de vista logístico para Moscou, uma vez que terá espaço para construir mais defesas, mobilizar mais tropas e a diminuição da vontade ocidental em financiar a luta da Ucrânia na guerra.

    Não podemos saber se Putin acredita genuinamente que a Rússia pode extrair algum tipo de vitória da guerra na Ucrânia ou se simplesmente sente que não tem outra alternativa se não esperar poder sobreviver aos seus inimigos. Entretanto, do seu ponto de vista, falar de uma “guerra eterna” tem uma virtude final para ele – é desmoralizante para os seus inimigos.

    Afinal, uma coisa é imaginar uma vitória militar ucraniana apoiada na determinação dos seus soldados e na superioridade do equipamento fornecido pelo ocidente. No entanto, existe uma lacuna real entre isso e uma paz duradoura.

    Mesmo que todos os soldados russos sejam expulsos da Ucrânia – o que exigiria algum trabalho – isso simplesmente deslocaria a linha da frente para a fronteira nacional. A Rússia ainda será capaz de reconstruir as suas forças, lançar drones e mísseis contra cidades ucranianas e fazer o que puder para impedir a reconstrução.

    Enquanto isso, embora a forma como Putin lidou com o motim de julho pelo chefe do Wagner, Yevgeny Prigozhin, e seu exército mercenário tenha deixado muitos dentro da elite sem saber se ele perdeu sua habilidade de gerenciar o sistema, a subsequente morte prematura e suspeita de Prigozhin foi vista como um aviso severo para qualquer um que não para desafiá-lo.

    As sanções estão a ter um efeito real na produção de defesa russa, mas não podem impedir a sua escalada, nem a economia enfrenta o colapso. As baixas não parecem dissuadir os russos de se voluntariarem para combater, de tal forma que o Estado-Maior diz que não planeja outra mobilização de reservistas.

    Nenhuma guerra dura para sempre, mas a paz ainda está bem além do horizonte.

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