Análise: Piora nas relações entre Brasil e Venezuela era “tragédia anunciada”
Américo Martins, analista da CNN, classifica deterioração diplomática como "tragédia anunciada" após ação brasileira contra entrada da Venezuela no bloco econômico
A piora nas relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela era uma “tragédia anunciada”, segundo Américo Martins, analista sênior de Internacional da CNN, durante o Bastidores CNN desta quarta-feira (30).
O especialista atribui a deterioração à recente mobilização da diplomacia brasileira para impedir a entrada do país vizinho no bloco econômico dos Brics.
Américo, que acompanhou de perto a gestação dessa crise em Kazan, na Rússia, destaca que a ação brasileira foi “a gota d’água” para o governo venezuelano.
O regime de Nicolás Maduro já estava incomodado com as cobranças do Brasil referentes às evidências de fraudes nas eleições presidenciais de julho.
Tensões crescentes e demandas ignoradas
O analista ressalta que o Brasil, como um dos fiadores dos acordos de Barbados, que permitiram a realização das eleições venezuelanas, esperava que Maduro garantisse um pleito livre e justo.
No entanto, as evidências apontam para o contrário, levando o presidente Lula e diplomatas brasileiros a cobrarem uma posição do líder venezuelano.
Duas demandas principais foram ignoradas por Maduro: encontrar uma saída política para a crise interna na Venezuela e reduzir significativamente a repressão à oposição.
A falta de resposta levou o Brasil a bloquear a entrada da Venezuela nos BRICS, intensificando as tensões entre os países.
Motivações de Maduro e perspectivas futuras
Américo aponta duas razões para as ações de Maduro: a necessidade de criar inimigos externos para justificar suas ações autoritárias internamente e o desejo de enviar uma mensagem ao Brasil de que não quer ser incomodado com cobranças, mesmo mantendo relações aparentemente boas.
O analista alerta para a possibilidade de um congelamento geral das relações entre os dois países, similar ao ocorrido entre Brasil e Nicarágua.
Embora ainda não tenha chegado a esse ponto, Américo observa que Maduro está “forçando a situação nesse sentido”, indicando um potencial agravamento da crise diplomática no futuro próximo.