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    Análise: negociações por americanos presos pode atrasar democracia na Venezuela

    Extraoficialmente, fontes do Departamento de Estado americano estimam que o número real de cidadãos dos EUA detidos no país pode chegar a 17

    Stefano Pozzebonda CNN*

    Em Bogotá

    Um número crescente de cidadãos dos Estados Unidos está sendo detido na Venezuela, e, embora não se saiba exatamente quantos são os casos, as detenções podem dar ao líder autoritário do país, Nicolás Maduro, influência nas relações com Washington.

    Desde 2019, os EUA e dezenas de outros países ao redor do mundo disseram que não consideram a presidência de Maduro legítima, reconhecendo o líder da oposição, Juan Guaidó, como chefe de Estado interino.

    No entanto, a Casa Branca do atual presidente dos EUA, Joe Biden, enviou funcionários do alto escalão para Caracas três vezes este ano para se encontrarem com Maduro e seus representantes, em um esforço para negociar a liberação dos americanos detidos.

    Embora o governo Biden não tenha dado nenhum tratamento especial – recusou-se a convidar Maduro para a Cúpula das Américas deste ano e manteve sanções pessoais a funcionários do governo venezuelano – o fato de funcionários do alto escalão estarem se reunindo diretamente com Maduro para discutir os detidos sugere que a Casa Branca tem abandonado a tática de “congelar” o líder autoritário, como era feito na era Trump.

    O esforço parece separado de conversas paralelas que buscam aumentar a produção de petróleo da Venezuela sob a pressão do aumento dos preços do gás globalmente – e das negociações políticas nos bastidores, incentivadas por Washington, entre Maduro e a oposição liderada por Guaidó, um processo lento até agora.

    Concessões em princípios

    Sob pressão interna, o governo de Biden já se mostrou pronto para fazer concessões em princípios, a fim de tomar medidas práticas para conquistar a liberdade de cidadãos americanos no exterior.

    Como a CNN informou anteriormente, a Casa Branca já se ofereceu para trocar a jogadora de basquete Brittney Griner e o ex-fuzileiro naval dos EUA, Paul Whelan, – ambos detidos na Rússia – pelo traficante de armas russo condenado Viktor Bout. Essa troca proposta anula a oposição do Departamento de Justiça, que geralmente é contra a troca de prisioneiros.

    Não está claro exatamente quantos americanos estão atualmente detidos na Venezuela, e o Departamento de Estado dos EUA geralmente não comenta casos específicos devido a considerações em relação à privacidade.

    Mas entre os publicamente conhecidos por terem sido detidos estão cinco dos seis chamados “Citgo 6”, executivos da refinaria de petróleo Citgo que foram detidos por acusações de corrupção, mas negam essas acusações; dois ex-membros das Forças Especiais dos EUA, Aidan Berry e Luke Denman, detidos por suposta conexão com uma tentativa privada fracassada de tirar Maduro do poder; e Matthew Heath, um ex-fuzileiro naval dos EUA acusado de planejar um ataque a uma refinaria de petróleo venezuelana.

    Extraoficialmente, fontes do Departamento de Estado estimam que o número real de detidos americanos na Venezuela pode chegar a 17.

    O Departamento de Estado considera que todos eles foram detidos injustamente, e advogados e parentes do Citgo 6 frequentemente acusam o líder venezuelano Nicolás Maduro de usar o grupo como “peões” para pressionar o governo dos EUA.

    No mês passado, a CNN soube que pelo menos três outros cidadãos americanos estavam detidos na Venezuela este ano, incluindo um defensor público de Los Angeles.

    Na Venezuela, a negociação do governo dos EUA em nome dos detidos americanos é liderada pelo enviado Roger Carstens, que conheceu Maduro pessoalmente durante suas várias viagens a Caracas. A CNN procurou o escritório de Carstens para comentar.

    Em março, ele visitou Caracas com embaixador James Story, que chefia a Unidade de Assuntos Venezuelanos dos EUA, e o diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional regional, Juan Gonzalez – a visita de alto nível foi a primeira desde que as relações diplomáticas entre os dois países se romperam em 2019.

    Pouco depois, a Venezuela libertou Gustavo Cardenas, ex-executivo da Citgo, e em março, Jorge Alberto Fernandez, que tem dupla cidadania cubano-americana. Desde então, houveram mais duas viagens à Venezuela.

    Mulher segura bandeira da Venezuela durante vigília em Caracas / 05/05/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino

    “Você não pode dizer que [a Casa Branca] não está pressionando: tivemos três viagens de funcionários do alto escalão até agora”, disse uma fonte envolvida nas negociações para libertar cidadãos americanos.

    “Não é como se isso já tivesse acontecido antes”, disseram eles, destacando o nível sem precedentes de comunicação direta de Maduro com Washington.

    Algumas famílias dos cidadãos norte-americanos detidos pediram a Biden que oferecesse o mesmo tipo de troca que seu governo fez por Griner – um funcionário do alto escalão venezuelano detido nos EUA, como o empresário colombiano Alex Saab, a quem o Departamento de Justiça classificou como um dos líderes no governo Maduro – em troca da libertação de seus entes queridos.

    No entanto, uma fonte do Departamento de Estado dos EUA disse à CNN que um acordo semelhante não está nos planos no momento.

    O que Maduro quer

    O que Maduro quer não é segredo. Ele exigiu a retirada das sanções ao petróleo, impostas à Venezuela por seu histórico antidemocrático desde 2017, em parte pela troca da libertação dos detidos dos EUA.

    Em junho, o Departamento do Tesouro dos EUA permitiu que duas empresas europeias, ENI e Repsol, retomassem as exportações da Venezuela, em parte na tentativa de reduzir os preços do petróleo que dispararam em todo o mundo como consequência da guerra na Ucrânia. Ainda assim, as sanções gerais ao comércio de petróleo venezuelano permanecem.

    E depois há o movimento de oposição pró-democracia da Venezuela, que já foi uma prioridade para o governo dos EUA.

    As conversas entre Caracas e Washington sobre a libertação dos cidadãos americanos agora ofuscam as negociações entre o governo de Maduro e líderes da oposição, que começaram após intensos protestos de rua em 2019.

    “Acho que quando Juan Gonzalez e James Story chegaram aqui, Maduro se perguntou: ‘O que posso tirar deles diretamente?'”, disse à CNN uma fonte bem centralizada na oposição.

    Embora fontes de ambos os lados tenham dito à CNN que as discussões entre Maduro e a oposição estão em andamento, neste momento não há um sinal claro de que uma nova rodada de negociações esteja acontecendo.

    Líder da oposição venezuelana Juan Guaidó / 14/06/2022 REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

    Gerardo Blyde, o principal negociador em nome da oposição, e Jorge Rodríguez, representante de Maduro, se encontraram em Caracas em maio com a promessa de viajar juntos ao México para retomar as negociações – mas até agora nada aconteceu. Tanto o Ministério das Relações Exteriores da Noruega, que intermediou as negociações venezuelanas, quanto o Ministério da Informação venezuelano, se recusaram a comentar.

    Tudo isso ocorre em um excelente momento para Maduro, que desfrutou de um aumento na popularidade à medida que as condições econômicas melhoram um pouco. Embora prejudicado pelas sanções dos EUA, o aumento global dos preços do petróleo teve um impacto positivo nas finanças públicas da Venezuela.

    E a inflação na Venezuela, embora ainda alta, agora está mais em sintonia com os aumentos no resto do mundo. (Para um país acostumado a dobrar os preços em um mês, uma taxa de inflação mensal de 6% é quase saudável).

    A oposição da Venezuela, mantendo a porta aberta para uma nova rodada de negociações, já convocou eleições primárias para selecionar um candidato para desafiar Maduro em novembro de 2024, quando uma nova eleição presidencial deve ocorrer.

    “O México está lá, se eles nos quiserem, podemos ir”, disse uma fonte da oposição, referindo-se ao processo de negociação.

    “Mas não podemos mais colocar todos os nossos ovos na mesma cesta”.

     

    *Com informações de Jennifer Hansler, da CNN, em Washington.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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