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    Análise: Índia fez “jogo seguro” ao minimizar uma importante cúpula favorável à Rússia

    Organização de Cooperação de Xangai, na qual participam líderes mundiais de um grupo amigo de Moscou, ocorreu na capital indiana, mas neste ano em formato digital

    O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente russo, Vladimir Putin, retratados lado a lado na cúpula virtual da Organização de Cooperação de Xangai em 4 de julho
    O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente russo, Vladimir Putin, retratados lado a lado na cúpula virtual da Organização de Cooperação de Xangai em 4 de julho Reprodução / CNNi

    Simone McCarthyda CNN*

    Hong Kong

    No ano passado, o mundo assistiu de perto como Xi Jinping, da China, Vladimir Putin, da Rússia, Narendra Modi, da Índia, e outros líderes mundiais de um grupo amigo de Moscou se reuniram na cidade uzbeque de Samarcanda para uma cúpula de dois dias de alto nível.

    O destaque foi sobre como cada um dos líderes presentes interagiu com Putin – que na época estava há mais de seis meses em uma invasão brutal da Ucrânia que provocou um desastre humanitário, agitou a economia global e desencadeou a insegurança alimentar global.

    Desta vez, a Índia, país anfitrião da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês), parecia disposta a evitar esse tipo de escrutínio, optando por uma cúpula virtual – um arranjo silencioso que também pode ter servido aos dois principais membros da SCO, Putin e Xi.

    A cúpula da Índia, que ocorreu na tarde de terça-feira (4), durou cerca de três horas e culminou com o lançamento de uma declaração conjunta cerca de 5 mil palavras mais curta do que a divulgada em Samarcanda.

    Também faltaram as típicas fotos de grupo, jantar íntimo e oportunidades para reuniões paralelas entre chefes de estado do corpo de líderes da Eurásia que Rússia e China há muito veem como um meio crítico para combater a chamada influência ocidental na região.

    Nova Délhi não deu uma explicação específica quando anunciou no mês passado que realizaria o evento online, e na terça-feira disse que o formato “em nada significa ou insinua a diluição nos objetivos que estamos tentando ver na cúpula da SCO”.

    Fotos – Imagens mostram a destruição da guerra entre Rússia e Ucrânia

    Mas observadores dizem que Modi – que tem estado ocupado estreitando os laços da Índia com os EUA, inclusive durante uma visita de estado no final do mês passado – provavelmente estava ansioso para evitar a ótica de receber Putin e Xi na capital para a cúpula.

    O grupo, que também inclui Paquistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e – até ontem – o Irã, foi fundado em 2001 para se concentrar na segurança e cooperação regionais e liderado pela Rússia e China, que agora estão em desacordo significativo com os EUA.

    “Tendo sido homenageado em Washington, Modi teve que caminhar sobre uma linha tênue em termos de percepção”, disse Manoj Joshi, um distinto membro da Observer Research Foundation em Nova Délhi, acrescentando que “dadas as sensibilidades ocidentais”, a Índia não queria Putin “desfilando” pela capital.

    E embora Putin e Xi sejam fervorosos defensores da SCO e ambos desejem aumentar sua força e serem vistos como intermediários do poder global, especialmente por seu público doméstico – uma cúpula moderada também pode ter servido a seus propósitos, dizem os especialistas.

    O presidente russo Vladimir Putin com o líder chinês Xi Jinping em 13 de novembro de 2019 / Mikhail Svetlov/Getty Images

    Jogando seguro

    A participação de Putin no evento foi sua primeira aparição, ainda que virtual, no cenário mundial desde o que é amplamente considerado a ameaça mais significativa ao seu poder que o autocrata viu até hoje.

    Uma rebelião armada lançada pelo grupo mercenário Wagner no mês passado foi rapidamente difundida, mas não sem prejudicar a imagem de Putin. Ainda não se sabe o quão forte é o controle de Putin sobre o poder em Moscou e, embora tenha participado da cúpula da SCO no ano passado, ele raramente deixou a Rússia desde a invasão da Ucrânia.

    Participar pessoalmente do encontro deste ano, ao mesmo tempo em que administra as consequências políticas de um choque sistêmico, poderia representar um risco para o líder autoritário.

    Enquanto isso, a China intensificou sua diplomacia com a Europa nos últimos meses, tentando reparar sua imagem e relações lá, que sofreram um golpe significativo desde o início do ano passado, quando Pequim se recusou a condenar a invasão russa da Ucrânia e continuou a apoiar Putin econômica e diplomaticamente.

    “Um formato online evitou que Xi tivesse que encenar uma reunião com Putin – ou não”, disse Steve Tsang, diretor do SOAS China Institute da Universidade de Londres.

    É “muito mais fácil” para Xi ou a China se envolver com a Europa sem a ótica de um encontro cara a cara com Putin, disse ele, embora não se encontrar “também levantaria questões embaraçosas” para Pequim, que mantém uma parceria estreita com Moscou.

    Moritz Rudolf, pesquisador do Paul Tsai China Center, da Yale Law School, nos EUA, concordou que “o nível de escrutínio internacional teria sido muito maior se outra reunião pessoal entre Xi e Putin tivesse ocorrido”.

    Presidente da China, Xi Jinping, participa da cúpula da Organização para Cooperação de Xangai / 16/09/2022 Sultan Dosaliev/Serviço de Imprensa da Presidência do Quirguistão/Divulgação via REUTERS

    A “substância significativa” da cúpula, na qual o Irã obteve adesão plena e o principal aliado de Moscou, Belarus, deu um passo nessa direção, poderia ter sido outra razão pela qual Pequim pode não ter se importado com uma cúpula mais discreta, em meio a seus esforços para ser visto como um potencial facilitador da paz entre a Rússia e a Ucrânia e para melhorar as relações com a Europa, disse ele.

    Mas nada disso deve sugerir que esses dois países estão vendo o órgão – ou suas relações bilaterais – como de menor importância do que antes, alertam os especialistas.

    A SCO tem sido um meio para a Rússia e a China administrarem seu próprio equilíbrio de poder na Ásia Central e promoverem sua visão compartilhada para combater o que veem como uma ameaça iminente de influência ocidental – uma ameaça que Xi e Putin mencionaram em seus discursos ao grupo na terça-feira.

    “O SCO ainda é importante para Putin, pois a relativa fraqueza da Rússia justaposta à relativa força da China pode causar uma mudança no equilíbrio de poder e influência entre os dois (no grupo)”, disse Tsang.

    “A Rússia pode ser um parceiro minoritário da China em geral, mas não gostaria de ser nos países da Ásia Central que anteriormente faziam parte da (União Soviética)”, disse ele.

    Oportunidade perdida?

    Reuniões presenciais, no entanto, também podem oferecer oportunidades para os líderes mundiais discutirem questões delicadas ou discutirem pontos de discórdia que podem ser tratados com menos delicadeza em um ambiente virtual.

    Devido aos seus respectivos laços com Moscou, tanto a China quanto a Índia receberam pressão do Ocidente para limitar suas relações ou até mesmo pressionar Putin em direção à paz.

    Putin e Modi em Samarcanda / Sputnik/Alexander Demyanchuk/Pool via Reuters (16.set.2022)

    A China, em particular, tentou transformar o que afirma ser um papel “neutro” no conflito na Ucrânia em uma tentativa de intermediar as negociações de paz – com Xi visitando Moscou em março em uma viagem que Pequim pintou com esse verniz.

    Na cúpula da SCO do ano passado, Modi fez o que foi sua repreensão pública mais direta à guerra até o momento – dizendo a Putin que “a era de hoje não é uma era de guerra”.

    E Putin em Samarcanda pareceu admitir que Xi também havia levantado opiniões divergentes – observando em comentários públicos que Pequim tinha “dúvidas e preocupações” sobre a invasão.

    Dito isso, nenhum dos líderes apareceu, pelo menos publicamente, para aumentar a pressão sobre Putin – mesmo com as declarações das cúpulas da SCO de ambos os anos apoiando “respeito mútuo pela soberania, independência, integridade territorial dos estados” e “não uso da força ou ameaças de uso da força” – em aparente contraste com as ações de Putin contra a Ucrânia.

    Este ano, em vez disso, enquanto os líderes mundiais se revezavam na leitura de declarações durante o formato online da cúpula, Putin usou seu tempo para condenar as sanções ocidentais contra sua guerra – e tranquilizar seus colegas de que ele permaneceu forte diante desses desafios e da insurreição.

    “A Rússia está resistindo a todas essas sanções e provocações e, nas circunstâncias atuais, nosso país está se desenvolvendo continuamente”, disse ele.

    *Com informações de Rhea Mogul, da CNN.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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