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    Análise: Guerra ampliada no Oriente Médio seria um desastre, mas ainda pode ser evitada

    Tensão na região aumenta a cada dia, mas atores envolvidos podem preferir não partir para um conflito total

    O líder do Hezbollah no Líbano, Sayyed Hassan Nasrallah, dirige-se a seus apoiadores através de uma tela durante cerimônia para marcar o quarto aniversário do assassinato do comandante militar iraniano, general Qassem Soleimani
    O líder do Hezbollah no Líbano, Sayyed Hassan Nasrallah, dirige-se a seus apoiadores através de uma tela durante cerimônia para marcar o quarto aniversário do assassinato do comandante militar iraniano, general Qassem Soleimani 03/01/2024REUTERS/Mohamed Azakir

    Stephen Collinsonda CNN

    A cada dia aumenta a tensão de que uma guerra em grande escala no Oriente Médio pode ter início a partir das chamas do conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.

    Um novo incidente violento acontece quase todos os dias. Na quinta-feira (4), por exemplo, os Estados Unidos lançaram um ataque em Bagdá que matou um líder de uma milícia apoiada pelo Irã, que Washington, por sua vez, culpa por ataques contra norte-americanos na região.

    As tropas dos EUA no Iraque e na Síria, encarregadas de manter o Estado Islâmico sob controle, foram atacadas diversas vezes por foguetes e drones de aliados do Irã.

    “Sentimos e tememos isso”, disse nesta semana o ministro das Relações Exteriores do Líbano, Abdallah Bou Habib, a Christiane Amanpour, da CNN, sobre o aumento da tensão.

    “Não queremos qualquer escalada na guerra. Não gostaríamos de uma guerra regional, porque ela seria perigosa para todos. Perigosa para o Líbano, perigosa para Israel e para os países ao redor de Israel”, continuou.

    Ainda assim, os combates estão se intensificando entre Israel e outro grupo pró-Irã, o Hezbollah, na fronteira com o Líbano.

    Em outro sinal alarmante, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse na quinta-feira (4) a Amos Hochstein, enviado dos EUA, que o tempo está se esgotando para criar uma “nova realidade” na fronteira com o Líbano para permitir que os residentes voltem às suas casas.

    No entanto, Israel é suspeito de estar por trás do ataque fatal a Saleh Al-Arouri, líder do alto escalão do Hamas, em Beirute, capital libanesa, provocando fúria entre líderes do Hezbollah que controlam a área onde ele foi morto.

    Ainda na região, forças dos Estados Unidos afundaram nesta semana três embarcações pertencentes aos rebeldes houthi no Mar Vermelho após uma série de ataques ao transporte marítimo comercial. O Comando Central dos EUA disse que helicópteros norte-americanos foram atacados primeiro e agiram em autodefesa.

    Enquanto isso, o governo norte-americano e cerca de uma dezena de aliados lançaram uma força-tarefa marítima para proteger navios comerciais em vias críticas na área depois de algumas companhias de navegação enviarem suas embarcações em uma rota mais longa e mais cara pela África.

    Por fim, um ataque com duas bombas nesta semana perto de onde está enterrado o ex-chefe de inteligência iraniano Qasem Soleimani abalou ainda mais a região e pode aumentar a pressão interna sobre o governo do Irã para movimentos mais amplos no Oriente Médio. O Estado Islâmico reivindicou autoria deste ataque.

    A única coisa que poderia evitar tal desastre é que um conflito mais amplo pode não ser do interesse nacional vital de nenhuma das principais potências da área.

    Enquanto os principais Estados e grupos extremistas parecem caminhar até a beira do abismo, ainda há esperança de que as consequências econômicas, políticas e militares de uma escalada maior nos conflitos sejam tão graves que acabem com esse movimento.

    A um passo da guerra

    Muitos dos países e grupos mais poderosos da região, incluindo Israel, Irã e Hezbollah, podem ter grande interesse por um alto nível de tensão, chegando a apenas um passo da guerra.

    A preocupação para os Estados Unidos, no entanto, é que tudo isso pode desencadear outro conflito no Oriente Médio que poderia envolver os norte-americanos. É um cenário que o governo de Joe Biden tenta desesperadamente evitar, especialmente em um ano eleitoral.

    “Não há ‘motores estratégicos’ para que os principais atores regionais ou externos lancem uma guerra regional, pois os objetivos de tal conflito não seriam claros e isso iria interromper imediatamente uma significativa estabilidade política e econômica”, comentou Norman Roule, ex-gerente de informações nacionais dos EUA para o Irã, durante o programa de Jake Tapper, da CNN, na quarta-feira (3).

    Ainda assim, o especialista destacou que o Irã e os seus aliados têm múltiplos incentivos para manter e até aumentar a intensidade e a frequência das ações atuais contra Israel.

    Soldados israelenses operam na Faixa de Gaza / 30/12/2023 Divulgação via REUTERS

    “A preocupação é que qualquer uma dessas atividades produza um evento que exija retaliação ou envolvimento de outros atores que depois se apoiem uns nos outros, levando ao conflito muito convencional que todos desejamos evitar”, ponderou.

    Entretanto, a situação é muito delicada, porque a rápida deterioração pode acontecer a qualquer momento em qualquer uma das frentes. O Hezbollah, do Líbano, tem milhares de mísseis que podem atingir civis israelenses, o que significa que confrontos intensificados podem ficar muito perigosos rapidamente.

    Um ataque em massa por aliados do Irã contra as forças dos EUA também criaria razões políticas e militares para o presidente Joe Biden tomar uma ação muito mais robusta do que a atual.

    Por outro lado, se um navio dos EUA ou de um aliado no Mar Vermelho sofrer danos graves, Biden enfrentaria escolhas semelhantes. A entrada de um destroier iraniano no Mar Vermelho nesta semana levantou a possibilidade de cálculos errados com marinhas rivais operando em espaços próximos em águas movimentadas.

    A escala e a barbárie tanto da operação do Hamas como da resposta de Israel, que pulverizou vastas áreas civis em Gaza, desencadearam uma cascata de eventos embutidos nas divisas já frágeis do Oriente Médio.

    Os acontecimentos subsequentes encerraram um período de relativa calma na região, durante o qual os governos Trump e Biden e os seus aliados tentaram estabelecer relações mais estreitas entre os estados do Golfo e Israel.

    As tensões que se seguiram parecem ter acabado com as esperanças na Casa Branca por uma redução tácita e informal do antagonismo com o Irã, embora os inimigos políticos de Biden o acusem de ser brando com o país e seu programa nuclear.

    Termômetro da guerra

    O interesse dos principais atores em evitar conflitos pode funcionar como um “termômetro da guerra”. Dado o custo provável de uma guerra regional e as repercussões econômicas, militares e políticas globais que ela iria desencadear, cada ator tem boas razões para evitar o precipício:

    Israel

    Israel já está envolvido em uma guerra em Gaza, que o seu governo diz que vai durar meses. Um conflito em larga escala com o Hezbollah poderia sujeitar os cidadãos israelenses a bombardeios potencialmente muito maiores do que os sofridos pelas cidades do país nos ataques com foguetes do Hamas no ano passado.

    Nesse sentido, o ataque fatal contra o líder Arouri (que teve envolvimento de Israel, como uma autoridade dos EUA confirmou à CNN na quarta-feira) pode ter sido uma aposta que não traria uma resposta maciça do Hezbollah.

    Ao mesmo tempo, no entanto, enquanto o resto do mundo se preocupa com um conflito crescente, os líderes israelenses acreditam que já estão envolvidos em uma guerra regional, dadas as ameaças em múltiplas frentes.

    Estados Unidos

    Os Estados Unidos estão intensificando uma estratégia empregada há semanas para tentar impedir que as coisas saiam do controle.

    O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, viajou novamente para a região e enfrenta uma pressão crescente para diminuir as tensões entre Israel e o Hezbollah, em uma situação que tem o Líbano (que o Hezbollah domina) temendo uma catástrofe que possa agravar a já frágil situação política, econômica e humanitária do país.

    Enquanto isso, as forças norte-americanas na Síria, no Iraque e no mar parecem expostas. Em relação aos aliados iranianos, o governo Biden parece tentar restabelecer um nível de dissuasão sem que ele próprio se desprenda da situação inflamável da região.

    O governo dos EUA e seus aliados emitiram recentemente um comunicado alertando os rebeldes houthi no Iêmen sobre consequências se os ataques à navegação continuarem no Mar Vermelho, uma faixa marítima vital para a economia global.

    Natasha Bertrand e Kevin Liptak, da CNN, informaram na quinta-feira que a paciência da Casa Branca está perto de acabar com os rebeldes. Mas os ataques diretos contra os seus locais de lançamento em terra não só arrastariam as forças aliadas para dentro do conflito, como também poderiam ameaçar uma trégua que pausou a guerra civil do Iêmen.

    Assim, Joe Biden está numa delicada situação política. Ele é constantemente acusado pelos republicanos de ser muito brando com o Irã e seus aliados. Mas qualquer agravamento da situação regional também poderia entrar em conflito com as alegações da oposição que o presidente de 81 anos não tem capacidade de liderança.

    O perigo para Biden é que os últimos 20 anos foram repletos de repetidos fracassos nos EUA para impor suas vontades ao Oriente Médio. Falar sobre o poder dos Estados Unidos é mais fácil do que efetivamente colocá-lo em ação.

    Irã

    Já o Irã pode ter mais a ganhar com o uso da sua vasta rede de grupos de aliados causando pequenos danos sobre Israel e os Estados Unidos do que com um conflito direto.

    Uma guerra poderia ser militar e economicamente desestabilizadora, aumentando a pressão política sobre o regime clerical, que já aumentou depois dos ataques a bomba no cemitério.

    Mas também há o perigo de que esse calor político possa forçar a mão de líderes que desejam uma postura mais agressiva no exterior, com maior probabilidade de aliviar as dificuldades domésticas.

    Há 15 meses, os clérigos do Irã enfrentavam uma onda de protestos antigoverno desencadeados pela morte de uma jovem sob a custódia da temida polícia moral do país.

    Vali Nasr, professor da Faculdade de Estudos Internacionais Avançados da Johns Hopkins, disse a Becky Anderson da CNN na quarta-feira (3) que estava muito preocupado com as tensões atuais.

    Ainda assim, ele afirmou: “Não acho que os iranianos queiram um conflito expandido”, embora alguns no Irã acreditem que Israel queira puxar o país para um confronto direto.

    “Acho que o cálculo, pelo menos entre os iranianos, o Hezbollah e talvez outros governos da região, mas não necessariamente Israel, é que os Estados Unidos não querem uma guerra maior. O presidente Biden não quer uma guerra maior”, opinou o professor Nasr.

    Dito isso, os cálculos podem mudar se o governo dos EUA não conseguir impedir Israel de expandir o conflito.

    O ataque ao líder do Hamas em Beirute, que os EUA disseram que não sabiam com antecedência, parece, portanto, uma jogada arriscada do governo do israelense Benjamin Netanyahu.

    A ação pode piorar as relações cada vez mais arriscadas com os EUA, depois de a Casa Branca exigir uma diminuição da intensidade da operação de Gaza, algo que tem sido constantemente negado.

    Hezbollah

    O Hezbollah é o ator político mais poderoso do Líbano. Ele é efetivamente uma extensão da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã. Mas, embora tenha um enorme arsenal de foguetes voltados para Israel, seu poder pode ser significativamente reduzido no caso de uma guerra em grande escala.

    Um Hezbollah degradado significaria uma diminuição significativa da influência regional do Irã. O líder do grupo, Hassan Nasrallah, advertiu na quarta-feira que a morte de Arouri, o líder do Hamas, não ficaria impune e que se Israel iniciasse uma guerra no Líbano, a resposta seria “ilimitada”.

    Mas Bou Habib, o ministro das Relações Exteriores libanês, disse à CNN que acreditava que a milícia não aumentaria a intensidade da guerra com Israel.

    “Temos muitas razões para pensar que isso não aconteceria, que eles – e nós – não queremos, como libaneses, todos nós, não queremos nenhuma guerra”, disse ele.

    “Não que a gente possa mandar neles. Não estamos afirmando isso, mas podemos convencê-los. E eu acho que estamos trabalhando nesse sentido”, concluiu.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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