Alberto Fernández denuncia Javier Milei por “intimidação pública”
Presidente da Argentina acusou candidato presidencial de extrema-direita a influenciar a queda do "dólar blue", mercado paralelo, com suas declarações públicas
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, apresentou uma denúncia à Justiça federal contra Javier Milei sob a acusação de “intimidação pública”, relacionando suas declarações ao candidato presidencial do Avanço da Liberdade com uma queda adicional da moeda argentina nesta semana.
Fernández alegou em sua denúncia que Milei, cujas propostas incluem a dolarização da economia, teria buscado um efeito “econômico-político” específico com suas declarações, contribuindo para a desvalorização do peso argentino.
O presidente acrescentou que, apesar do crescimento evidente do chamado “dólar blue” (mercado paralelo), esse não havia registrado movimentos “tão abruptos como os causados pelas “declarações públicas”, referindo-se à recente evolução das variáveis financeiras.
Na apresentação judicial, ele descreveu o aumento anterior do dólar paralelo como “gradual”, e, devido às restrições à compra de moedas estrangeiras, essa cotação costuma servir como referência na Argentina, embora seja ilegal.
As declarações de Milei mencionadas foram feitas na última segunda-feira (9), quando ele afirmou: “Nunca em pesos, nunca em pesos. O peso é a moeda emitida pelos políticos argentinos e, portanto, não pode valer nada, pois essas porcarias não servem nem como adubo”.
No mesmo dia e no dia seguinte, o dólar blue subiu 14,7%, ultrapassou a marca de 1.000 pesos e atingiu um nível histórico.
A denúncia apresentada por Fernández também citou outra declaração pública de Milei, que é também deputado nacional, na qual ele disse, na quinta-feira passada: “Quanto mais alto o preço do dólar, mais fácil é dolarizar”.
De acordo com a apresentação judicial, isso “amedrontou” a população em relação à “real possibilidade de que o peso não mantenha seu valor” e, como resultado, o valor do dólar paralelo “subiu vertiginosamente”. Essa visão sobre os efeitos das declarações de Milei também foi compartilhada por outros economistas.
O presidente também denunciou por declarações semelhantes às de Milei o candidato a prefeito da Cidade de Buenos Aires do mesmo partido, o Avanço da Liberdade, Ramiro Marra, e o candidato a deputado, Agustín Romo.
A pena para o crime de intimidação pública está prevista entre dois e seis anos de prisão, de acordo com o Código Penal da Nação.
Milei rejeita a acusação
Sua primeira reação foi através das redes sociais, onde ele escreveu: “A casta está com medo”, usando o termo que ele usa para se referir àqueles na política que ele considera “imorais”. Mais tarde, em uma coletiva de imprensa, acompanhado por Marra e Romo, ele rejeitou a acusação e culpou o governo pelo “desastre econômico”.
Quanto às suas declarações que são o cerne da denúncia, Milei afirmou que não está dizendo nada de novo nelas. Ele argumentou que dizer aos argentinos para ficarem com pesos é prejudicar seus níveis de renda.