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    Admitir que racistas existem é o primeiro passo para redações de jornalismo mais inclusivas

    Apesar do aumento do número de profissionais negros, o racismo continua a ser um problema nas empresas de comunicação nos EUA, que serve de espelho para outras democracias

    Basília Rodriguesda CNN , em Washington

    A promoção da diversidade racial no ambiente de trabalho parte de alguns princípios: o racismo existe, nem todo mundo admite isso e os esforços precisam ser constantes, ainda mais porque também demandam investimentos.

    A jornada de palestras para jornalistas brasileiros nos Estados Unidos, que a CNN Brasil vem relatando, aponta que, apesar de existirem mais profissionais negros no Jornalismo, o racismo continua a ser uma questão em redações jornalísticas e empresas de comunicação dentro e fora dos Estados Unidos.

    Profissionais que atuam na inclusão no jornalismo observam que várias instituições oferecem cursos e treinamentos sobre diversidade que, na prática, servem mais de conforto para as empresas do que entregam resultados efetivos. “Trata-se de um ‘pacote padrão de consultoria’, mas que não colabora com mudanças sistemáticas”, afirma o diretor de Inclusão e Crescimento de Audiência do Instituto Americano de Imprensa (API), Letrell Crittenden.

    Para ele, cada redação e ambiente de trabalho precisam ser diagnosticados individualmente porque não existiria uma “solução universal” para combater o racismo.

    Diante da multiplicação de cursos e consultorias que tratam dessa temática no mundo corporativo, ele observa que “provavelmente são uma fraude” porque não trazem resultados de impacto. “Muitos desses casos (treinamentos) são um monte de coisa sem sentido. Um monte de bla, bla, bla. Não preciso ir em uma redação e dizer ‘você está sendo racista’, preciso ir e dizer ‘está vendo esses negros? Você está deixando de atender essas pessoas’. As pessoas precisam estar engajadas no processo”.

    Crittenden usa como estratégia explicar para as empresas que elas perdem audiência e dinheiro ao não abrirem as portas para mais diversidade em suas equipes.

    O API existe desde 1946, e é o maior e mais antigo treinamento de profissionais da indústria da notícia e educadores de Jornalismo. Atualmente, a temática de ambientes de trabalho mais plurais é das mais importantes. Entre os parceiros do Instituto está a Associação Nacional de Jornalistas Negros dos Estados Unidos (NABJ).

    Quando a associação nasceu, na década de 1970, reunia 44 homens e mulheres. Hoje é considerada a maior organização de jornalistas negros do país. “Quando ligo a TV e vejo esses jovens repórteres negros, toca meu coração porque em 1975 não era assim. Dava para contar nos dedos, às vezes um dedo apenas, quantos eram”, afirma Joe Davidson, do Federal Insider, ex-colunista do Washington Post e ex-correspondente do Wall Street Journal, onde passou 13 anos.

    Para Davidson, “os racistas estão mais empoderados”, o que ele atribui ao reflexo de governos de extrema direita. Perguntado, ele disse não saber “qual lado está vencendo”, mas ressalta que mobilizações políticas como o Black Lives Matter mudaram a dinâmica do país encarar o assunto. “Se você apoia um racista, você é racista”, enfatiza.

    * Basília Rodrigues viajou a convite da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil

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