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    Ações dos Brics sobre a Rússia podem impactar na relação com o Ocidente, dizem especialistas

    Expectativa é que os países do bloco mantenham postura de neutralidade em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia; cúpula se reúne nesta semana

    Douglas Portoda CNN , em São Paulo

    As decisões tomadas nesta semana na cúpula dos Brics em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia podem trazer impactos na relação dos países com o Ocidente, segundo avaliam especialistas ouvidos pela CNN.

    De acordo com Guilherme Casarões, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV), o resultado do encontro mostrará o caminho que o Brics seguirá daqui para a frente. Atualmente, o bloco é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

    Casarões explica que quando o Brics foi formado, em 2006, ainda sem a África do Sul, a economia era a principal temática discutida, no “momento em que a demanda coletiva era ampliar a sua voz nas negociações sobre a arquitetura financeira internacional”.

    E, desde então, não fica claro se o grupo permanecerá como uma plataforma de alinhamento econômico ou, se agora com a guerra na Ucrânia envolvendo um de seus membros, o Brics se tornará “um foro de natureza política, de articulação política mais ampla, de posicionamento político mais específico”.

    Ou seja: a postura do bloco em relação à guerra tende a influenciar a percepção da comunidade internacional sobre os países envolvidos, “sobretudo no Ocidente”, onde há maior desconfiança, segundo o especialista.

    No começo deste mês, o principal diplomata da China, Wang Yi, reiterou que Pequim permanece “imparcial”, um dia depois que uma delegação chinesa participou de negociações internacionais sobre o fim do conflito que incluíam Kiev, mas não Moscou.

    Wang enfatizou ao ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, que a China e a Rússia são “bons amigos e parceiros confiáveis”.

    “Na crise da Ucrânia, a China manterá uma posição independente e imparcial, emitirá uma voz objetiva e racional, promoverá ativamente as negociações de paz e se esforçará para buscar uma solução política em qualquer ocasião multilateral internacional”, disse Wang, de acordo com leitura divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores da China.

    Segundo o professor de Relações Internacionais do IBMEC de Belo Horizonte Christopher Mendonça, “a cúpula será observada com cuidado pela comunidade internacional”.

    “Certamente, qualquer ação favorável aos russos terá impactos diretos sobre o posicionamento das nações ocidentais. Embora os países do Brics sejam defensores de um contexto de paz, a opção de manter os russos por perto pode ser lida como uma discordância em relação aos movimentos do Ocidente em favor da Ucrânia”, cita Mendonça.

    Para ele, mesmo que a China tenha se mostrado contrária ao conflito, o país “prefere manter-se ao lado dos russos na defesa de suas prerrogativas essenciais, entre as quais destaca-se a proteção de seu próprio território”.

    Em 15 de agosto, o ministro da Defesa da China, Li Shangfu, expôs que as tentativas de “usar Taiwan para conter a China certamente terminariam em fracasso”, segundo a agência de notícias estatal Xinhua.

    Os comentários de Li ecoaram declarações anteriores de autoridades chinesas, mas o local de seu discurso foi significativo e simbólico, dada a invasão da Ucrânia por Moscou.

    VÍDEO – China e Rússia pressionam por expansão dos Brics

    Acordo de paz

    Os membros do Brics não estariam dispostos, por questões econômicas e geopolíticas, a tomar partido na guerra, na opinião de Clayton Pegoraro, professor do mestrado em Economia e Mercados da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

    Na avaliação de Christopher Mendonça, mesmo que os países sejam defensores de um contexto de paz, a opção de manter os russos por perto pode ser lida como uma discordância em relação aos movimentos do Ocidente em favor da Ucrânia.

    VÍDEO – Análise: Os Brics e a solução diplomática para a guerra na Ucrânia

    Ucrânia quer que Lula pressione a Rússia

    O governo da Ucrânia quer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveite a cúpula do Brics para pressionar a Rússia a acabar com a guerra no leste europeu.

    A afirmação foi feita pelo embaixador Ruslan Spirin, enviado especial do presidente Volodymyr Zelensky para a América Latina, em entrevista exclusiva à CNN.

    “Estamos buscando a paz, então toda a sua influência, a sua amizade e o seu relacionamento [do Brasil com a Rússia] deveriam ser usados ​​para influenciar o cérebro de Putin, explicando que ele não pode violar as regras internacionais e o direito internacional, que tem que retirar suas tropas do território de outro país soberano”, proferiu Spirin.

    O embaixador, no entanto, admite que tem dúvidas se tal mensagem será, de fato, enviada ao Kremlin.

    “Em primeiro lugar, respeitamos muito o que o Brasil diz a respeito do processo de paz. Isso realmente é vital. Precisamos de paz, porque todos os dias morrem civis em todo o território do nosso país”, disse ele.

    O professor Clayton Pegoraro, no entanto, pondera que não tem como envolver, neste momento, o Brasil numa negociação entre os dois países.

    “Embora com opiniões e declarações públicas de nosso atual presidente, diplomaticamente, o Brasil sempre foi neutro e com posição pacificadora”, exemplifica.

    Guilherme Casarões avalia que se for considerada a trajetória do Brics desde o conflito da Crimeia, em 2014, a tendência é que o documento final da reunião ou evite ou mencione a questão ucraniana a partir de uma perspectiva de neutralidade. 

    “É provável que se fale algo na linha de buscar a paz no Leste Europeu, ou alguma coisa assim. Dificilmente haverá uma condenação aberta à Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e muito menos uma condenação à Rússia, que faz parte do bloco”, relata Casarões.

    “Não há um alinhamento total de posições. Brasil, Índia e a África do Sul devem manter uma postura de neutralidade, não querendo fechar portas para interação com a Otan e, claro, com o próprio governo ucraniano”, finaliza.

    Veja também: Empresários brasileiros vão levar demandas aos Brics

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