Nepal: copilota de avião que caiu no domingo perdeu marido em acidente aéreo há 17 anos
Anju Khatiwada decidiu pilotar após a morte do marido, Dipak Pokhrel, e usou o dinheiro do seguro para viajar aos Estados Unidos e fazer o treinamento
Anju Khatiwada, que era copilota do avião da Yeti Airlines que caiu neste domingo (15), havia perdido o marido, copiloto da mesma companhia aérea, em um acidente semelhante em 2006.
Ela decidiu se tornar piloto após a morte do marido, Dipak Pokhrel, e usou o dinheiro do seguro para viajar aos Estados Unidos para seu treinamento, disse Sudarshan Bartaula à CNN. Khatiwada estava na companhia aérea desde 2010 e tinha mais de 6.300 horas de experiência de voo.
“Ela era uma mulher corajosa com toda a bravura e determinação. Ela nos deixou cedo demais”, disse ele.
Khatiwada era capitã e estava voando com um piloto-instrutor para treinamento adicional no momento do acidente, acrescentou Bartaula.
Pokhara, uma cidade à beira de um lago, é um destino turístico popular e porta de entrada para o Himalaia. Serve como ponto de partida para a famosa rota de trekking do Circuito de Annapurna, com mais de 181 mil estrangeiros visitando a área em 2019.
Um comitê do governo está investigando a causa do acidente, com a ajuda das autoridades francesas. O avião da Yeti Airlines foi fabricado pela empresa aeroespacial ATR, com sede na França.
A caixa preta do avião, que registra os dados do voo, foi recuperada na segunda-feira e será entregue à autoridade de aviação civil, disseram autoridades.
A Autoridade de Aviação Civil do Nepal disse que todas as aeronaves ATR-42 e ATR-47 no país foram inspecionadas após o acidente da Yeti Airlines e nenhum problema mecânico foi encontrado.
Uma operação de busca e resgate está em andamento no Nepal após um acidente de avião mortal que mais uma vez destaca os perigos das viagens aéreas em um país frequentemente referido como um dos lugares mais arriscados para voar.
Das 72 pessoas a bordo, pelo menos 69 morreram depois que um voo da Yeti Airlines caiu perto da cidade de Pokhara no domingo (15).
Centenas de equipes de resgate participaram na segunda-feira (16) da missão de busca e recuperação, que foi interrompida e será retomada na manhã de terça-feira (17), disse o porta-voz do Exército do Nepal, Krishna Prasad Bhandari.
O superintendente-chefe da polícia do distrito de Kaski, Ajay KC, disse na segunda-feira que a chance de encontrar sobreviventes era “extremamente baixa”, pois os trabalhadores tiveram que usar um guindaste para conseguir retirar os corpos de um desfiladeiro.
Quarenta e uma vítimas já foram identificadas, de acordo com a companhia aérea. Seus restos mortais serão entregues a seus familiares, disseram funcionários da companhia aérea e da polícia local.
As autópsias foram adiadas porque uma equipe de especialistas forenses não chegou a Pokhara até a tarde de segunda-feira, horário local.
Acredita-se que dois cidadãos sul-coreanos estejam entre os mortos no acidente, com base em seus pertences, de acordo com o Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Sul.
As autoridades nepalesas disseram que os corpos dos supostos estrangeiros serão levados para Katmandu, onde passarão pelas inspeções necessárias e serão identificados.
O acidente é o pior desastre aéreo na nação do Himalaia em 30 anos. É também o terceiro pior acidente aéreo da história do Nepal, segundo dados da Aviation Safety Network.
Especialistas dizem que condições como mau tempo, baixa visibilidade e topografia montanhosa contribuem para a reputação do Nepal como notoriamente perigoso para a aviação.
O voo da Yeti Airlines no domingo estava quase terminando sua curta viagem da capital Katmandu a Pokhara quando perdeu contato com uma torre de controle. Cerca de 15 estrangeiros estavam a bordo, de acordo com a autoridade de aviação civil do país.
‘Topografia hostil’
Os padrões climáticos inconstantes não são o único problema para as operações de voo. De acordo com um relatório de segurança de 2019 da Autoridade de Aviação Civil do Nepal, a “topografia hostil” do país também faz parte do “enorme desafio” enfrentado pelos pilotos.
O Nepal, um país de 29 milhões de pessoas, abriga oito das 14 montanhas mais altas do mundo, incluindo o Everest, e suas belas paisagens acidentadas o tornam um destino turístico popular para aqueles que fazem trekking.
Mas este terreno pode ser difícil de navegar do ar, especialmente durante o mau tempo, e as coisas são agravadas pela necessidade de usar pequenas aeronaves para acessar as partes mais remotas e montanhosas do país.
Aeronaves com 19 assentos ou menos têm maior probabilidade de sofrer acidentes devido a esses desafios, disse o relatório da Autoridade de Aviação Civil.
Katmandu é o principal centro de trânsito do Nepal, de onde partem muitos desses pequenos aviões.
O aeroporto da cidade de Lukla, no nordeste do Nepal, é frequentemente referido como o aeroporto mais perigoso do mundo. Conhecida como a porta de entrada para o Everest, a pista do aeroporto é projetada em um penhasco entre montanhas, caindo direto em um abismo no final. Vários acidentes fatais aconteceram ali ao longo dos anos, inclusive em 2008 e 2019.
A falta de investimento em aeronaves antigas só aumenta os riscos de voar.
Em 2015, a Organização Internacional de Aviação Civil, uma agência das Nações Unidas, priorizou ajudar o Nepal por meio de sua Parceria de Assistência à Implementação da Segurança da Aviação. Dois anos depois, a organização e o Nepal anunciaram uma parceria para resolver questões de segurança.
Embora o país tenha feito melhorias em seus padrões de segurança nos últimos anos, os desafios permanecem.
Em maio de 2022, um voo da Tara Air partindo de Pokhara caiu em uma montanha, matando 22 pessoas. No início de 2018, um voo da US-Bangla Airlines que fazia a rota da capital de Bangladesh, Dhaka, para Kathmandu, caiu ao pousar e pegou fogo, matando 51 das 71 pessoas a bordo.
E em 2016, um outro voo da Tara Air caiu enquanto voava na mesma rota da aeronave que caiu neste domingo. Esse incidente envolveu uma aeronave Twin Otter recentemente adquirida voando em boas condições.
*Com informações de Kosh Raj Koirala, Joshua Berlinger, Teele Rebane, Sugam Pokharel, Elizabeth Yee e Yoonjung Seo, da CNN.