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    Acertos e erros do debate entre os candidatos a vice nos EUA

    Debate entre Kamala Harris e Mike Pence foi cordial, mas apático

    Kamala Harris e Mike Pence durante debate vice-presidencial
    Kamala Harris e Mike Pence durante debate vice-presidencial Foto: CNN (7.out.2020)

    Chris Cilliza,

    da CNN

    O primeiro (e único) debate entre os candidatos à vice-presidência dos EUA, Mike Pence e Kamala Harris, foi, de longe, mais civilizado do que desastre da semana passada entre o presidente Donald Trump e o ex-vice-presidente Joe Biden. Eu assisti, tuitei e fiz anotações. Abaixo, meus pensamentos sobre o melhor e o pior da noite.

    Acertos

    Kamala Harris: Os melhores 15 minutos da senadora da Califórnia no debate foram justamente os primeiros 15 minutos. Ajudada pelo enfoque na Covid-19 (e pela má condução da pandemia pelo governo Trump), Harris esmagou Pence com o histórico do governo do qual faz parte. “Eles sabiam e encobriram”, disse ela sobre a admissão de Trump de que ele minimizou propositalmente a gravidade do vírus. Harris foi menos forte na defesa do histórico de Biden – em particular após os repetidos ataques de Pence à suposta afirmação de Biden de que ele revogaria todos os cortes de impostos de Trump e acabaria com o fracking, o método de extração de xisto e gás natural. (Harris disse que Biden garantiria que os impostos não subiriam para ninguém que ganhasse menos de US$ 400 mil por ano e insistiu, repetidamente, que Biden não vai proibir o fracking.) E ela errou ao se esquivar de uma pergunta sobre se um governo Biden acrescentaria cadeiras à Suprema Corte. De modo geral, porém, acho que Harris fez o que um bom vice-presidente deve fazer: atacou Trump, principalmente na Covid-19, e manteve o foco principalmente no governo atual. Ela o fez com uma atitude calma, fria e controlada. Quando Pence interrompia, ela usava silêncio e um olhar fixo, geralmente mais eficaz do que quaisquer palavras. E sua frase “Senhor, vice-presidente, estou falando” será uma das recordações dos democratas dessa noite.

    Mike Pence, no ataque: O vice-presidente é um debatedor muito firme (e subestimado). Seus melhores momentos na noite de quarta-feira (7) foram quando ele estava processando as declarações anteriores de Biden e Harris sobre impostos, fracking, o New Deal Verde e a China. É mais difícil do que você imagina tecer dados de pesquisa da oposição em uma resposta em um debate sem que pareça totalmente forçado. Pence é excelente nisso. Ao olhar para o debate pensando no futuro político de Pence vinculado à defesa sem concessões da trajetória de Donald Trump, ele se saiu muito bem. 

    Perguntas de Susan Page: Sim, a moderadora sofreu muito por sua incapacidade de controlar Pence quando ele continuava falando além do limite de tempo. Mas se você voltar e ouvir (ou ler) suas perguntas, verá que elas foram excelentes. Diretas, bem pensadas e, infelizmente, em grande parte sem resposta.

    A mosca: Olha, podem falar o que quiser sobre a mídia focando em coisas sem importância. Mas uma mosca ficou pousada no cabelo de Pence por dois minutos inteiros! (Não é um exagero; foram dois minutos mesmo.) Será que alguma mosca já ganhou tanto tempo de TV assim? Caramba, Biden até enviou um pedido de arrecadação de fundos para a mosca enquanto o debate ainda estava acontecendo! Além disso, se você acha que este debate não será lembrado como o “debate da mosca”, olha, você não entende de política.

    Twitter: Tenho uma relação de amor e ódio com essa plataforma de mídia social, mas ela realmente mostra seu valor em grandes noites políticas como esta. Os tuítes podem ser engraçados e perspicazes, com sarcasmo no topo e a quantidade certa de maldade no meio.

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    Erros

    Mike Pence, na defesa: É uma tarefa hercúlea tentar defender as ações (e omissões) de Trump durante a pandemia do novo coronavírus. Esse era o trabalho de Pence na noite de quarta-feira e, não surpreendentemente, ele ficou aquém. Pence encobriu o ceticismo repetido de Trump sobre estratégias comprovadas de mitigação de pandemia (uso de máscara, distanciamento social, evitar grandes multidões) e, em vez disso, tentou levar a conversa para o lado da liberdade individual. A grande questão da liberdade individual é que as pessoas não são livres para fazer coisas que afetam a saúde e a segurança dos outros. Mitigar a Covid-19 não é uma questão de liberdade individual, mas de ação coletiva. A incapacidade de Trump de entender isso é indefensável. E Pence não foi capaz de defendê-lo.

    A moderação de Susan Page: No momento de mais discussões do debate, Page, chefe da sucursal do USA Today, em Washington, teve algumas dificuldades. O problema mais gritante foi que ela simplesmente não conseguiu fazer com que nenhum dos candidatos respondesse às perguntas feitas a eles. Perdi a conta de quantas vezes Harris e Pence ignoraram abertamente a pergunta que Page fez para fazer o que era, muitas vezes, um discurso ensaiado. O exemplo mais gritante foi quando Harris fez uma pergunta a Page sobre a idade de Biden e se eles haviam conversado sobre a possibilidade de transferir o poder presidencial e a senadora passou dois minutos apenas explicando a história de sua vida. O outro problema de como Page lidou com o debate foi que ela não conseguiu impedir Pence de ultrapassar o tempo que lhe era concedido. Ela tentou corajosamente, mas logo ficou claro que sua interjeição de “Senhor vice-presidente” não estava parando o trem de Pence. Ela deveria ter tentado outra tática. E, obviamente, cortar os microfones dos candidatos quando eles ultrapassam o tempo combinado para responder às perguntas é a verdadeira solução aqui e está nas mãos das campanhas e da Comissão de Debates Presidenciais, não na moderadora.

    Donald Trump/Joe Biden: Tanto Pence quanto Harris foram mais substantivos e eficazes do que qualquer um dos homens que lideram suas respectivas chapas. Sim, Trump tornou impossível ter um debate com qualquer tipo de regra ou decoro, mas quando Biden teve sua chance no debate da semana passada, foi decididamente medíocre. Amem ou odeiem os candidatos, Pence e Harris provaram que são melhores debatedores do que seus companheiros na noite de quarta-feira.

    Acrílico: As placas que impediam os candidatos de respirar uns sobre os outros causaram celeuma na cobertura pré-debate. E ainda assim elas praticamente nem foram vistas na tela. Ah, só lembrando: todo especialista em doenças infecciosas disse que elas eram totalmente inúteis.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

    Chris Cilliza é editor-geral da CNN Internacional.