À CNN, Trump diz que perdoará “grande parte” dos envolvidos no ataque ao Capitólio e não reconhece que perdeu eleições
Em primeira entrevista do ex-presidente à CNN desde 2016, ele também comentou sobre a condenação de abuso sexual e outros temas
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participou do CNN Town Hall, realizado no estado de New Hampshire, nesta quarta-feira (10), respondendo aos questionamentos de eleitores do partido Republicano e de indecisos.
Moderada por Kaitlan Collins, âncora do CNN This Morning, essa foi a primeira entrevista de Trump à CNN desde 2016. Logo na primeira pergunta, o empresário questionou o resultado das eleições e disse que o país está indo para o “inferno”, criticando também o nível da inflação.
Ele também repetiu falsas alegações sobre suas ações durante o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021. Trump culpou a então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, entre outros, pelas falhas de segurança.
“Um dos grandes problemas foi aquela Nancy Pelosi – a louca Nancy, como eu a chamo carinhosamente. A louca Nancy e o prefeito de Washington foram acusados, como você sabe, pela segurança. E eles não fizeram o trabalho deles”, pontuou.
Trump alegou falsamente que convocou a Guarda Nacional para intervir durante o motim, o que Kaitlan Collins, da CNN, rejeitou e observou que, de acordo com o ex-secretário interino de Defesa Chris Miller, nunca teria havido ordem formal para enviar a Guarda Nacional.
Quando perguntado se perdoaria ou não os invasores condenados por crimes federais, destacou que “provavelmente” faria caso fosse reeleito em 2024. “Estou inclinado a perdoar muitos deles”, ressaltou.
Ele observou que não será capaz de perdoar “cada um”, mas que “será uma grande parte deles”.
Quanto à afirmação de Mike Pence, então vice-presidente dos EUA quando o ataque ao Capitólio aconteceu, que Trump teria colocado sua vida em risco no 6 de janeiro, o empresário observou que não sente que deve “desculpas”.
“Não, porque ele fez algo errado. Ele deveria ter devolvido os votos às legislaturas estaduais e acho que teríamos um resultado diferente”, afirmou Trump. Em seguida, Collins o corrigiu, explicando que Pence não tinha autoridade para rejeitar os resultados das eleições.
Perguntado se aceitará o resultado das eleições presidenciais de 2024, pontuou que fará se achar que “foi uma eleição honesta”.
“Todo o direito” de pegar arquivos confidenciais e insulto à apresentadora
Questionado sobre por que levou documentos confidenciais depois de deixar a Casa Branca, o ex-presidente Donald Trump disse que “tinha todo o direito, de acordo com a Lei de Registros Presidenciais”.
“Eu estava lá e peguei o que peguei e foi desclassificado. Eu tinha todo o direito de fazer isso, não fiz segredo. Você sabe, as caixas estavam estacionadas do lado de fora da Casa Branca, as pessoas estavam tirando fotos delas”, pontuou à CNN.
Collins corrigiu Trump destacando que a Lei de Registros Presidenciais não diz que um ex-presidente pode levar documentos para casa, mas que eles são propriedade do governo federal quando um presidente está fora do cargo.
Depois que o ex-presidente e a mediadora discutiram sobre os chefes de Estado anteriores pegarem documentos confidenciais, Collins ressaltou que os antigos mandatários não esperaram para devolver os arquivos.
Ela perguntou várias vezes por que Trump esperou para devolver documentos confidenciais quando sabia que o governo federal os estava procurando e intimou-o a devolvê-los.
Donald Trump, porém, não respondeu à pergunta e insultou Collins. “É muito simples – você é uma pessoa desagradável, vou te dizer”, colocou.
Qualquer retenção ou destruição não autorizada de documentos da Casa Branca pode violar uma lei que proíbe a remoção ou destruição de registros oficiais do governo, disseram especialistas jurídicos à CNN.
Culpado por abuso sexual e difamação
Nesta terça-feira (9), Donald Trump foi julgado culpado por abuso sexual e difamação contra a escritora E. Jean Carroll. O veredicto saiu nesta terça-feira (9), determinando que ele terá de pagar cerca de US$ 5 milhões em danos compensatórios e punitivos.
Durante o CNN Town Hall desta quarta-feira (10), ele negou conhecer a escritora e negou as acusações. Mesmo condenado, ele poderá concorrer à Presidência. Porém, quando questionado sobre eleitores que entendiam que isso o desqualificaria para a corrida eleitoral, disse que o caso foi inventado e que tudo foi motivado politicamente.
“Esta mulher, eu não a conheço. Nunca a conheci. Não tenho ideia de quem ela é”, destacou Trump, adicionando que entende que a decisão não impediria as mulheres de votar nele.
Trump diz que acabaria com guerra na Ucrânia em 24 h
À CNN, o ex-presidente Donald Trump não disse se acredita que Vladimir Putin é um “criminoso de guerra” pela invasão à Ucrânia. O empresário ressaltou que esse é um tema que deve ser discutido posteriormente.
“Se você disser que ele é um criminoso de guerra, será muito mais difícil fazer um acordo para acabar com isso. Se ele vai ser um criminoso de guerra, as pessoas vão agarrá-lo e executá-lo, ele vai lutar muito mais do que nas outras circunstâncias. Isso é algo a ser discutido posteriormente”, avaliou.
O ex-presidente também ponderou que acha que “Putin cometeu um erro”. Quando solicitado a elaborar, Trump disse: “O erro dele foi entrar [em conflito]. Ele nunca teria entrado [em conflito] se eu fosse presidente”.
Também afirmou que “se eu for presidente, terei essa guerra resolvida em um dia, 24 horas. Ambos [os presidentes] têm fraquezas e ambos têm pontos fortes, e dentro de 24 horas essa guerra estará resolvida. Vai acabar, vai acabar absolutamente”.
Quando Kaitlan Collins perguntou se Trump quer que algum dos países vença o conflito, o empresário afirmou querer que “todos parem de morrer”. “Russos e ucranianos, quero que parem de morrer.”
Política de imigração
Sobre o “Título 42”, uma regra de imigração que será revogada nos próximos dias, Donald Trump deu a entender que lidaria com a crise na fronteira dos EUA com métodos semelhantes aos que usou durante seu mandato anterior.
“Eu terminei o muro. Eu construí o muro, construí centenas de quilômetros de muro. E terminei”, afirmou. Kaitlan Collins observou que, na verdade, ele construiu 83 km de um novo muro de fronteira.
Questionado se ele reinstituiria sua controversa política de separação familiar, Trump disse: “Quando você diz a uma família que ‘se você vier, vamos separá-los’, eles não vêm”.
Porte de armas
Os Estados Unidos registraram mais de 200 tiroteios em massa até o momento em 2023, de acordo com o Gun Violence Archive.
Durante o CNN Town Hall desta quarta, Trump ressaltou que protegerá a Segunda Emenda — que versa sobre o porte de armas — e que tratará dos problemas de saúde mental se for reeleito em 2024.
“Não é a arma que puxa o gatilho, é a pessoa que puxa o gatilho”, avaliou o empresário, complementando que “faria várias coisas” para lidar com os tiroteios em massa, incluindo a contratação de mais guardas para as escolas e o que chamou de “endurecer” as entradas dos estabelecimentos.
“Você tem que tornar as escolas seguras”, disse, destacando que muitas pessoas que não possuem armas “não estarão muito seguras”.
Ele chegou a citar o Brasil, falando que havia uma política de porte de armas muito rígida e muita criminalidade. Disse então que isso teria sido levantado e, sem trazer números, pontuou que “o crime caiu muito”.
Aborto
Os Estados Unidos passam por uma disputa legal quanto ao aborto legal, depois que a Suprema Corte derrubou a lei Roe v Wade, decidindo que não há direito constitucional ao aborto.
Trump disse que iria “determinar o que ele acha que é ótimo para o país e o que é justo” quando perguntado se ele assinaria uma proibição federal sobre o assunto.
“O fato de ter conseguido encerrar Roe v. Wade após 50 anos de tentativas. Eles trabalharam por 50 anos – nunca vi nada parecido. Eles trabalharam, e eu estava, mesmo, muito honrado por ter feito isso. Estamos em uma posição de negociação muito boa agora apenas por causa do que fui capaz de fazer”, avaliou.
Como muitos estados passaram a restringir o direito ao aborto após a decisão da Suprema Corte, o empresário não especificou se apoiaria uma proibição federal ou com quantas semanas de gravidez ele apoiaria a proibição.
“Estou procurando uma solução que vai funcionar. Questão muito complexa para o país. Você tem pessoas em ambos os lados de uma questão, mas agora estamos em uma posição muito forte”, comentou.
“Pessoas pró-vida estão em uma posição forte para fazer um acordo que seja bom e satisfatório para eles. Se você não pudesse se livrar, não estaria discutindo se não pudesse se livrar de Roe V. Wade”, adicionou.
Economia
O ex-presidente Donald Trump disse que, se reeleito, sua solução para a inflação no país seria extrair mais petróleo nos EUA.
Perguntado sobre o que faria para a reduzir custos e tornar “as coisas mais acessíveis”, ele respondeu: “Perfurar, baby, perfurar”, afirmandou que, durante o período em que comandou os Estados Unidos, o país era independente quanto à geração de energia e que o custo do gás caiu para níveis recordes.
Ele então pontuou que o projeto de lei fiscal aprovado durante seu mandato ajudou a criar “a maior economia da história”.
Sobre os EUA terem atingido o teto da dívida estabelecida pelo Congresso em janeiro e o impasse para resolver o problema, o empresário
“Temos que começar a pagar as dívidas… digo aos republicanos por aí – congressistas, senadores – se eles não fizerem cortes maciços, vocês terão que entrar em default, e não acredito eles vão entrar em default, porque eu acho que os democratas vão ceder, porque você não quer que isso aconteça, mas é melhor do que o que estamos fazendo agora, porque estamos gastando dinheiro como marinheiros bêbados”, disse Trump.
Collins pediu que esclarecesse, perguntando se ele acha que os EUA deveriam entrar em default se a Casa Branca não concordar com os cortes de gastos exigidos pelos republicanos.
“Bem, você pode fazer isso agora, porque fará mais tarde, porque temos que salvar este país. Nosso país está morrendo. Nosso país está sendo destruído por pessoas estúpidas, por pessoas muito estúpidas”, destacou.
CNN Town Hall em New Hampshire
New Hampshire é onde ocorre a primeira primária do Partido Republicano no país, abrigando também muitos eleitores indecisos.
Trump venceu com folga as primárias lá em 2016 e 2020 antes de perder o estado em ambas as eleições gerais.
Ele tem vantagem entre os outros possíveis candidatos do partido Republicano, com 53% das intenções de voto, de acordo com pesquisa recente.
*publicado por Tiago Tortella, da CNN