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    Entenda como funcionam as primárias nos EUA

    Caro e complexo, processo serve para definir quem será candidato nas eleições presidenciais

    Murillo Ferrari , da CNN Brasil, em São Paulo

     

    Os eleitores americanos começaram em fevereiro o longo e complexo processo de escolha dos candidatos dos principais partidos do país, o Democrata e o Republicano, que disputarão a presidência dos Estados Unidos em 3 de novembro deste ano. 

    Com o republicano Donald Trump em campanha pela reeleição, as atenções se voltam para os democratas. A disputa no partido está concentrada entre o senador Bernie Sanders, preferido entre os jovens e líder de arrecadação, e o ex-vice-presidente Joe Biden, cuja campanha só ganhou tração após vencer em 10 dos 14 estados da Superterça, em 3 de março.

    Embora a tradição garanta a indicação do presidente em exercício sem qualquer disputa, Trump não está livre de também enfrentar as prévias do partido Republicano: William Weld, ex-governador de Massachusetts, se inscreveu para as primárias republicanas. Trata-se, porém, de mera formalidade, já que o político não tem chances de derrotar o atual ocupante da Casa Branca. 

    Tio Sam segurando a bandeira dos EUA em casa em Colfax, Iowa
    Imagem do Tio Sam segurando a bandeira americana do lado de fora de uma casa em Colfax, no estado de Iowa
    Foto: Shannon Stapleton/Reuters (23.jan.2020)

    As eleições primárias que definem os candidatos usam dois métodos: a votação tradicional, com cédulas ou urnas eletrônicas, e o caucus, uma seleção no qual os eleitores se reúnem presencialmente em um mesmo espaço para escolher seu representante.

    Uma particularidade dos caucuses é que as pessoas se agrupam fisicamente nos locais de votação, geralmente ginásios ou escolas, para manifestar suas preferências — o candidato que reunir mais gente do seu lado sai vitorioso. Isso tudo depois de uma série de debates entre os cidadãos e os próprios políticos (ou seus representantes). 

    O objetivo dos dois sistemas de votação é definir a atribuição dos delegados, que são quem votam, de fato, nas convenções partidárias para a oficialização dos postulantes à Presidência.

    O partido Democrata adota um sistema proporcional: os candidatos levam os votos dos delegados na mesma medida da preferência que conquistaram nas primárias estaduais. Se alguém não obteve ao menos 15% dos votos nas prévias, estes votos são distribuídos proporcionalmente entre quem seguir na disputa.

    Já os republicanos têm três sistemas diferentes: alguns estados usam a fórmula proporcional; em outros, o vencedor recebe todos os delegados do respectivo estado. Há ainda um sistema misto dessas duas metodologias. As regras para distribuição dos votos remanescentes de quem não obteve um mínimo de preferência também varia de estado para estado.

    Cada partido também adota regras próprias para oficializar seu candidato à Casa Branca. Para conseguir a indicação oficial, um candidato democrata precisa conquistar 1.991 dos 3.979 delegados durante as primárias, que ocorrerão em todos os estados americanos. 

    Se nenhum político atingir essa marca, entram em cena os chamados superdelegados, que não estão vinculados à orientação das primárias e podem votar em quem quiser. São 770 pessoas escolhidas entre membros do comitê nacional, do Congresso, governadores e outros líderes como ex-presidentes e dirigentes nacionais. Nesta situação, o vencedor precisaria receber 2.373 votos. 

    No partido Republicano a disputa é mais simples: os interessados em representar o país na eleição nacional precisam do apoio de 1.276 dos 2.552 delegados do partido. O partido terá prévias em 44 estados, com exceção do Alasca, Arizona, Carolina do Sul, Havaí, Kansas, Nevada e Virgínia, que por determinação da direção do partido alocarão todos seus delegados para Trump. 

    A Convenção Nacional Democrata está marcada para acontecer entre os dias 13 e 16 de julho em Milwaukee, no Wisconsin, destacando o papel que os estados do Meio-Oeste americano terão nessa escolha. Já a Convenção Nacional Republicana será dos dias 24 a 27 de agosto em Charlotte, na Carolina do Norte. 

    Uma vez oficializados os candidatos, estão previstos quatro debates entre os indicados democrata e republicano. Três deles entre os candidatos à presidente, marcados para os dias 29 de setembro, 15 de outubro e 22 de outubro e um entre os candidatos à vice-presidente, em 7 de outubro. 

    Milhares de candidatos 

    Joe Biden e Bernie Sanders em debate em Charleston, Carolina do Sul
    Os pré-candidatos democratas, Bernie Sanders (à esq.) e Joe Biden (à dir.), em debate em Charleston, Carolina do Sul
    Foto: Jonathan Ernst/Reuters

    Apesar de democratas e republicanos monopolizarem a alternância de poder nos Estados Unidos, partidos menores também organizam suas prévias —muito embora nenhum de seus candidatos tenha chances reais na disputa pela Casa Branca.  

    É assim com os partidos Verde, Libertário ou da Constituição, além das candidaturas independentes que o sistema eleitoral americano admite.

    Até a sexta-feira (13), 1.069 pessoas tinham se apresentado como candidatos à presidência dos EUA (incluindo os políticos dos grandes partidos), segundo dados da Comissão Eleitoral Federal (FEC) dos EUA. Para ser se candidatar à presidência, é preciso ser nascido nos Estados Unidos, ter pelo menos 35 anos e ter morado no país por pelo menos 14 anos. 

    Ainda de acordo com as informações da FEC, os candidatos à presidência americana já declararam ter movimentado entre arrecadações e gastos superiores a US$ 1,61 bilhão. Desse valor, os democratas foram responsáveis por gastar US$ 1,37 bilhão, os republicanos US$ 236,75 milhões e os outros partidos US$ 809,58 mil. 

    Superterça 

    Historicamente, a terça-feira é um dia importante para as eleições nos Estados Unidos, em uma tradição que vem desde o século 18. Esse dia da semana também é o escolhido para a realização da maior quantidade de primárias simultâneas, em data que ficou conhecida como Superterça, na qual são disputados mais de um terço dos delegados dos partidos. 

    Neste ano, a Superterça aconteceu em 3 de março e incluiu votações nos estados de Alabama, Arkansas, Califórnia, Carolina do Norte, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah, Vermont e Virgínia. Além dos 14 estados, também votaram os democratas que moram no exterior e no território de Samoa Americana. Como Califórnia e Texas são, respectivamente, o primeiro e o terceiro maiores colégios eleitorais dos EUA, essa Superterça teve ainda mais peso do que em anos anteriores.  

    O grande vitorioso da Superterça de 2020 foi Joe Biden, que venceu em 10 estados — contra quatro de Sanders. O resultado deu impulso a uma campanha que até então era marcada por problemas de organização e de arrecadação de fundos.

    Com a vantagem obtida, o ex-vice-presidente passou a contar com os apoios de seus adversários que anunciaram a desistência da disputa: Michael Bloomberg, Pete Buttigieg, Amy Klobuchar, Cory Booker e Kamala Harris agora endossam Biden em um movimento que envolve algum pragmatismo: afinal, ele é visto com mais chances de derrotar Trump do que Sanders.

    Na Superterça de 2016, Hillary Clinton —principal candidata democrata naquele ano— conquistou 486 delegados enquanto Bernie Sanders ficou com 321. Já Donald Trump foi o grande vencedor republicano, com 256 delegados, seguido por Ted Cruz, com 219, Marco Rubio, com 101, John Kasich, com 21, e Ben Carson, com 3. 

    Cidadão americano se registra para votar em San Diego, no estado da Califórnia
    Cidadão americano se registra para votar em San Diego, no estado da Califórnia
    Foto: Bing Guan/Reuters (3.mar.2020)

    Por que votar na terça-feira? 

    Ao contrário da maioria dos países desenvolvidos, cujas eleições são realizadas aos fins de semana (normalmente, aos domingos), os Estados Unidos continuam com uma tradição de 175 anos de realizar suas eleições nacionais em uma terça-feira, mais especificamente na primeira terça de novembro. 

    A explicação para esse dia pouco comum de votação está justamente no momento em que a lei entrou em vigor e nas condições de clima, colheita e até tradições religiosas da época. Em 1875 a maioria dos eleitores se deslocava até os locais de votação usando cavalos — o que dá uma medida das dificuldades enfrentadas pelos eleitores daquela época.

    A terça-feira mostrou ser o dia ideal pois permitiria aos americanos participar de cultos religiosos no domingo, viajar para sua zona eleitoral na segunda-feira e, enfim, votar no dia seguinte. Isso tudo a tempo de voltar para casa para o principal dia de comércio da época, a quarta-feira. Já a escolha de novembro se deve ao fato de o mês ficar entre o fim da colheita e o início do inverno mais rigoroso no hemisfério norte, que dificultaria esses deslocamentos aos centros de votação.

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