União do 5G e IA pode mudar o mapa da indústria mundial
Não é futurismo. As tecnologias emergentes, como 5G, IoT e Inteligência Artificial (IA), têm potencial para promover profundas transformações na maneira como a indústria mundial está organizada. Integradas à robótica, essas inovações viabilizam uma potencial redução drástica no volume de mão de obra envolvida na manufatura de forma geral e podem impulsionar um forte movimento de reindustrialização dos países desenvolvidos, impactando toda organização das cadeias produtivas mundiais e também a própria dinâmica geopolítica global.
Essa mudança significa a potencial reversão de um fenômeno iniciado nos anos 90. Com os custos da mão de obra reduzidos em determinadas regiões, como a Ásia, assistimos a um intenso movimento de migração da produção manufatureira, que mudou a organização econômica mundial e promoveu uma realidade até então pouco provável: o afastamento da indústria dos grandes polos consumidores, nomeadamente, Estados Unidos e Europa. Ao longo das décadas, a China e outros países asiáticos ganharam cada vez mais espaço nesse mapa da industrialização. Mais: amparados por uma manufatura diversificada e com capacidade de operar com custos muito baixos, os chineses deram um passo adiante e grandes marketplaces com capacidade de operação global surgiram, abalando assim também as bases do varejo internacional. Agora, a tecnologia pode mudar esse cenário ao tornar a indústria menos dependente de mão de obra e permitir o retorno das plantas de manufatura para perto dos grandes centros consumidores. O avanço da 5G tem tudo a ver com essa transformação. As redes móveis de 5ª geração proporcionam velocidades de transmissão de dados muito elevadas e latência (tempo de resposta) muito reduzida. Isso se traduz em uma comunicação mais rápida entre as máquinas, que passam a trabalhar de forma mais autônoma e colaborativa. A Inteligência Artificial, por sua vez, é capaz de automatizar tarefas repetitivas, aumentar sua precisão, se antecipar a possíveis falhas e reduzi-las. Os robôs, já presentes na indústria, ganham agilidade e, ao integrarem-se a essas plataformas, passam a ser capazes de “tomar decisões”, tornando-se muito mais eficientes e ampliando o leque de tarefas que podem realizar. Grande concentradora da produção fabril, a Ásia não assiste parada a esse movimento e já acelerou o passo na corrida tecnológica, investindo fortemente em robótica e em pesquisa e desenvolvimento para garantir sua competitividade no novo cenário que se desenha. Dados da Federação Internacional de Robótica ilustram esse esforço e mostram, por exemplo, que a Coreia do Sul tem a maior densidade mundial de robôs, com mil equipamentos para cada 10 mil funcionários, liderando a lista dos países com mais automação na manufatura. O número é quase o dobro da segunda colocada do ranking, Singapura, que concentra 670 robôs por 10 mil empregados. Entre os destaques ainda estão Japão, Alemanha e China. Esta última, deu um grande salto, passando da 20ª para a 5ª posição entre 2018 e 2021. Nesse cenário de redesenho da lógica mundial a partir da industrialização, onde fica a América Latina? Como ela vai se posicionar? Restaria à região, que já vive há tempos um processo de desindustrialização, a indústria de base? Nos caberá o papel de produtor de commodities, perpetuando os desafios para manter a balança comercial positiva? Sobram questões, faltam respostas. E os governos latino-americanos ainda parecem estar presos a debates que fazem referência à indústria do passado e não à do futuro, em que a capacidade de inovar será fator decisivo de sucesso. Nesse contexto em que a tecnologia promove mudanças profundas, um grande desafio que se impõe é a qualificação da mão de obra que vai operar essa mudança. Neste novo cenário, se por um lado existirá uma demanda potencialmente diminuída por trabalhadores para o chão de fábrica, por outro teremos de contar com profissionais especializados para operar essas inovações e acompanhar sua evolução. O relatório sobre o Futuro dos Empregos, publicado em maio pelo Fórum Econômico Mundial, também destaca a urgência cada vez maior para a revolução da requalificação, com as empresas relatando que as lacunas de habilidades e a incapacidade de atrair talentos são as principais barreiras à transformação. A expectativa é que seis em cada dez trabalhadores precisem de treinamento antes de 2027. Ao mesmo tempo, o estudo estima que, em média, 44% das habilidades de um trabalhador individual precisarão ser atualizadas. Transformar esse cenário exige uma ação coordenada de governos, empresas e trabalhadores. A discussão deve contar com a participação de todos em busca de modelos que, longe de perpetuar as já tradicionais desigualdades sociais e econômicas, possam ser direcionados à sustentabilidade e a uma distribuição de renda mais justa. No caminho certo, a tecnologia é capaz de levar toda a sociedade a um novo patamar de eficiência e prosperidade.Fórum CNN
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