Por que uma bolsa de ativos sustentáveis no Brasil?
O desenvolvimento econômico sustentável torna-se cada vez mais presente na pauta de discussões de agentes públicos e privados. O objetivo é claro: criar mecanismos que venham a incentivar e consolidar atividades que preservem o meio ambiente e sejam agregados de valor para o crescimento. No Brasil, o Estado do Rio de Janeiro pretende se firmar como um importante indutor da economia verde. Ainda neste semestre, entrará em operação uma plataforma/bolsa de ativos sustentáveis, fruto de uma parceria com a Nasdaq e a Global Environmental Asset Plataform (Geap). Diante dessa perspectiva, surgem, é claro, questionamentos. Por que uma plataforma/bolsa no Brasil, se a Nasdaq e a Geap poderiam escolher, em função das operações serem totalmente digitais e com tecnologias de altíssimo nível, qualquer outro lugar no mundo?
As respostas são objetivas: porque o nosso país é e será uma referência mundial na economia sustentável. Temos extensão territorial com uma cobertura vegetal que abrange cerca de 60% de sua área. E, segundo recente levantamento da ICC Brasil, na próxima década teremos potencial para suprir até 40% da demanda global do mercado voluntário de créditos de carbono.
O Estado do Rio, em especial, reúne ainda características únicas. Somos a porta de entrada do Brasil. Sediamos a Rio 92, primeiro grande palco de discussões sobre clima
do planeta e onde foram definidas as bases para a criação do atual mercado de créditos de carbono. Depois, a Rio+20, quando novamente foram debatidas soluções globais para o meio ambiente. O território fluminense, por exemplo, segundo o Inventário Florestal Nacional, de 2018, elaborado pelo Serviço Florestal Brasileiro e a Secretaria de Estado do Ambiente, possui 31% de sua área coberta por florestas naturais – 1,3 milhão de hectares – e tem estoque de CO² de 73 milhões de toneladas.
Também não podemos esquecer que temos uma das maiores florestas urbanas do mundo, a Floresta da Tijuca.
Além das vantagens competitivas do Brasil, há também uma série de outros benefícios no aspecto técnico que são tão relevantes quanto ao prisma institucional para a criação de uma bolsa. Hoje, as negociações de créditos de carbono no mercado voluntário são fragmentadas e comprometem a liquidez e a formação de preço. Com a implantação de uma bolsa, no entanto, haverá a introdução de contratos de referência, de compra e venda, que, negociados em um único local, vão permitir a especialização dos créditos e respectivos valores. Ou seja, vai reduzir significativamente os custos de transação, que são muito altos.
Existem ainda outros benefícios, como a transparência nas negociações, quesito fundamental para investidores, uma vez que as transações serão fechadas em um
ambiente competitivo e em tempo real. A padronização das transações, por sua vez, permitirá a criação de gabaritos mínimos de qualidade dos ativos, com regras
uniformes e de conhecimento geral do mercado financeiro sustentável.
Não se pode esquecer também que a criação da bolsa vai garantir segurança aos investidores. Isso porque os negócios passarão a ser liquidados por um sistema de compensação, que vai atuar como uma contraparte central para as duas pontas da operação. Assim, as negociações serão supervisionadas para garantir a observância dos padrões de integridade no fechamento das transações. Ao abordar detalhes desse porte, é preciso destacar que nossa expectativa é atrair, já com a consolidação do mercado de ativos ambientais, grandes fundos internacionais, que atualmente investem cerca de US$ 57 trilhões em empresas sustentáveis. Em uma projeção conservadora, se conseguirmos 2% desse valor, poderemos praticamente dobrar o PIB do Brasil.
Exclusivamente constituída e operacionalizada pela iniciativa privada, cabendo ao estado apenas o papel de fomentador, criando políticas públicas destinadas exclusivamente para o desenvolvimento desse mercado de ativos ambientais, a futura bolsa, como observamos, reúne diversos predicados. Ou seja, o Brasil se prepara para dar um salto no futuro, com determinação e conhecimento necessários para garantir ao Estado do Rio de Janeiro, particularmente, o protagonismo de se tornar um hub financeiro internacional de negócios sustentáveis.
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