Agenda coletiva é fundamental para inclusão produtiva das juventudes
O retrato das juventudes brasileiras é, hoje, o de urgência. Urgência por políticas públicas e iniciativas, de curto e longo prazo, que garantam um presente e um futuro dignos para quem, ainda, representa a maioria na pirâmide populacional do país. O Brasil possui aproximadamente 50 milhões de jovens e uma oportunidade única de oferecer a essa população um contexto de perspectivas, de futuro produtivo, de realização de projetos de vida e, consequentemente, de contribuição com o desenvolvimento socioeconômico do nosso país.
No entanto, o que vemos no Brasil hoje é a ausência de uma articulação coletiva, entre diversos setores da sociedade, e de medidas contínuas e planejadas para mudar esse retrato preocupante das nossas juventudes, que já nos cobra um preço alto no agora e ainda maior no amanhã. São quase 36% de jovens, entre 18 e 24 anos, que, no momento atual, estão sem estudo e sem trabalho, como revelou relatório recente da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O Brasil é o segundo país com a maior taxa de jovens nessa situação. Este quadro evidencia um passado de insuficiência de políticas públicas e de medidas intersetoriais, que poderiam ter dado uma trajetória de vida diferente para esses quase 8 milhões de jovens.
Somente na cidade de São Paulo, temos mais de 765 mil jovens potência, termo usado para definir aqueles com idade entre 15 e 29 anos que se encontram em situação de vulnerabilidade social, sem oportunidades de formação acadêmica e emprego formal, mas que poderiam estar contribuindo com o país de forma ativa. Vale lembrar que o jovem de baixa renda enfrenta barreiras que dificultam ainda mais a sua entrada e permanência no sistema produtivo, como maior dificuldade de acesso a tecnologias e o racismo estrutural, uma vez que 70% deles são pretos e pardos. Esse número preocupante de jovens sem acesso a oportunidades se soma a um cenário de crise mais ampla, com aumento da evasão e queda de aprendizagem nas escolas, problemas crônicos de desigualdade e exclusão, e outros efeitos econômicos e sociais da pandemia que têm refletido de maneira latente na realidade dessa população, e que afetam diretamente o país que queremos construir.
Existem várias juventudes com inúmeras realidades e desafios e, por isso, não há apenas uma solução para todos os problemas. Enfrentar esse cenário de crise e criar um ambiente fértil de oportunidades para todos os jovens, principalmente aqueles em condições de vulnerabilidade, é uma questão complexa que só será possível a partir de uma agenda coletiva de impacto, em que todos os setores estejam representados e atuantes.
A atuação conjunta e sistêmica, que envolva poder público, setor privado e sociedade em geral, passa fundamentalmente por fomentar medidas para essa parcela da população, viabilizar a sua formação profissional e a inclusão produtiva qualificada em espaços que garantam perspectiva de futuro. Para isso, definir agenda comum, metas compartilhadas e comunicação continuada são algumas ações necessárias para que a atuação colaborativa e organizada entre os setores traga os resultados esperados.
Este é um anseio dos jovens. Pesquisa recente do Atlas das Juventudes, realizada com 16 mil jovens de todo o país, com apoio do Itaú Educação e Trabalho, GOYN SP e UNICEF, e em parceria com outras organizações da sociedade civil, mostrou que quase metade dos jovens considera que os conteúdos mais importantes para a escola são aqueles relacionados à preparação para o mundo do trabalho. Eles também pedem por qualificação profissional, estímulos para surgimento de novos formatos e dinâmicas de trabalho e mais empregos formais.
A inclusão produtiva digna, jornada que temos que percorrer e fomentar, parte da busca ativa social para encontrar esses jovens, principalmente os jovens potência. É no diálogo com a rede de proteção social que os alcançaremos e poderemos, então, oferecer novas perspectivas de vida. Cabe a nós, nessa atuação coletiva e ativa, ainda estreitar laços com as redes de ensino e contribuir com mentorias e outros projetos aos estudantes. É fundamental prepararmos os jovens para o mundo do trabalho, seja a partir do ensino médio, com o itinerário de formação técnica e profissional, ou por outras frentes de oferta de Educação Profissional e Tecnológica.
No ambiente corporativo, o setor produtivo pode recorrer a uma série de iniciativas para atrair e dar a primeira oportunidade para esses jovens potência, por meio de estágios, programas de aprendizagem, primeiro emprego e outros. É preciso que as corporações também invistam e implementem políticas inclusivas para a permanência e desenvolvimento contínuo desses jovens nas empresas. Tudo isso são medidas que demandam esforço, trabalho de longo prazo e compromisso. E que não podem mais ser adiadas.
É responsabilidade de todos – como sociedade, setor produtivo, poder público – que as juventudes brasileiras tenham oportunidades e dignidade em suas jornadas de vida. Mas precisamos acelerar os passos, em conjunto e na mesma direção, para que nenhum jovem fique para trás.
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