Velocista belarrussa que se recusou a voltar ao país voa de Tóquio para Viena
Caso aumentou os temores sobre a segurança daqueles que falam contra as autoridades belarrussas
A velocista olímpica belarrussa Krystsina Tsimanouskaya, que se recusou a voar para casa temendo ser presa, foi vista embarcando em um voo com destino a Viena, na Áustria, saindo de Tóquio nesta quarta-feira (4).
A atleta de 24 anos deveria competir nos 200 metros femininos nas Olimpíadas de Tóquio na segunda-feira (2), mas, em vez disso, disse que os dirigentes da equipe tentaram mandá-la de volta à força para Belarus contra sua vontade, depois que ela criticou as autoridades esportivas.
Sua situação dramática dominou as manchetes globais em torno dos Jogos e, embora seus comentários não tenham sido abertamente políticos, seu caso aumentou os temores sobre a segurança daqueles que falam contra as autoridades belarrussas.
Viagem para a Áustria
Tsimanouskaya foi vista chegando ao aeroporto de Narita, no Japão, na manhã desta quarta-feira com bagagens e vestindo jeans e um moletom azul. Mais tarde, ela embarcou no voo OS52 da Austrian Airlines.
A atleta deveria viajar para Varsóvia, na Polônia, onde recebeu refúgio seguro e um visto humanitário do primeiro-ministro do país. Não está claro se ela fará uma conexão em Viena a caminho da Polônia ou se pretende ficar na Áustria, ou viajar para outro lugar.
Em uma postagem no Instagram, Tsimanouskaya disse que os oficiais da equipe a fizeram empacotar seus pertences, dizendo que ela estava sendo cortada da equipe olímpica e levada de volta para Minsk. Ela foi levada ao aeroporto de Haneda no domingo (1º), mas se recusou a embarcar no voo no Japão, dizendo que temia por sua segurança e que seria presa em seu país de origem.
Tsimanouskaya disse que foi ameaçada por funcionários da equipe por ir contra a decisão de inscrevê-la no revezamento 4×400 — um evento em que ela não havia competido antes — sem seu consentimento. Ela disse que seus treinadores não lhe contaram quem tomou a decisão de mandá-la para casa.
Em declarações à CNN na terça-feira (3), Tsimanouskaya disse que estava chateada por ter tido negada sua chance de estar nas Olimpíadas.
“Estava pronta para os Jogos, principalmente para os 200 metros. Tiraram meu sonho de me apresentar nas Olimpíadas. Tiraram essa chance de mim”, disse ela.
COI apura o caso
O porta-voz do Comitê Olímpico Internacional (COI), Mark Adams, disse nesta quarta-feira que o COI abrirá uma “comissão disciplinar” para apurar os fatos do caso e, como parte disso, ouvirá o técnico nacional, Yuri Moisevich, e o oficial esportivo belarrusso, Artur Shumak. Adams também disse que o Comitê Olímpico Nacional de Belarus apresentou um relatório escrito sobre a situação.
Na terça-feira, o COI lançou uma investigação formal sobre o incidente. O comitê belorrusa disse que Tsimanouskaya foi retirada dos Jogos devido a seu “estado emocional e psicológico”.
No entanto, Tsimanouskaya refuta essa afirmação, dizendo que nenhum médico a examinou e que ela não tinha problemas de saúde ou problemas mentais.
Tsimanouskaya disse à CNN que percebeu que poderia estar em perigo quando ligou para a avó antes de ser levada ao aeroporto pelos funcionários da equipe.
“Ela disse que eu não deveria voltar para Belarus porque não era seguro para mim lá. Ela disse que eles estavam falando mal de mim na televisão (estatal), que eu estava doente; que tinha problemas psicológicos”, disse Tsimanouskaya.
“Meus pais entenderam que, se disseram esse tipo de coisa sobre mim na TV, eu provavelmente não poderia voltar para minha casa em Belarus… Não sei para onde eles me levariam. Talvez para a prisão, ou talvez, mais provavelmente, para um hospital psiquiátrico.”
Pedido de ajuda
No aeroporto, Tsimanouskaya disse que usou um aplicativo de tradução em seu telefone para digitar que precisava de ajuda e mostrou a um policial japonês.
Atletas belarrussos enfrentaram retaliação, foram detidos e excluídos das seleções por criticarem o governo após protestos em massa no ano passado contra o presidente Alexander Lukashenko, que governa o país do leste europeu desde 1994.
Milhares de pessoas foram presas nos protestos, que foram brutalmente reprimidos pelas autoridades em meio a relatos generalizados de abuso e tortura.
Enquanto o caso de Tsimanouskaya se desenrolava, um ativista belarrusso foi encontrado morto em um parque na terça-feira na capital ucraniana, Kiev. Vitaliy Shishov chefiava uma organização sediada em Kiev que ajuda os belarrussos que fogem da perseguição.
Na terça-feira, o ativista foi encontrado enforcado em uma área florestal de um parque perto de sua casa. A polícia ucraniana abriu um processo criminal e disse que investigaria se a morte de Shishov foi um suicídio ou “assassinato premeditado que parece suicídio”.
O que vem a seguir para Tsimanouskaya?
Não está claro onde Tsimanouskaya vai parar, mas várias ofertas foram feitas à atleta. Seu marido, Arseni Zdanevich, deixou Belarus e entrou na Ucrânia na segunda-feira.
O primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, disse que conversou com Tsimanouskaya e garantiu que ela poderia contar com o apoio da Polônia. O vice-ministro das Relações Exteriores, Marcin Przydacz, disse à Sky News que eles esperavam que ela visitasse a Polônia e “ficasse lá por pelo menos alguns dias”.
Ele disse que a Polônia ofereceu a ela oportunidades de seguir carreira esportiva no país, mas “é claro que depende dela”, disse ele.
“Sabemos que seu centro de treinamento é na Áustria, e seu treinador também está na Áustria. Ela está esperando que seu marido se junte a ela em Varsóvia. Portanto, provavelmente será sua decisão, se querem ficar na Polônia ou continuar em qualquer outro viajar para qualquer outro estado europeu e ela é muito bem-vinda para ficar na Polônia.”
Przydacz disse que foi “o mais importante” que a Polônia interveio e impediu Belarus de “sequestrar pessoas para as forçar contra a sua vontade” a voltar para casa. “Demos a eles a oportunidade de viver e vir para a Polônia, sãos e salvos”, disse ele.
A Polônia recebeu 120 mil pedidos de visto de Belarus desde a contestada vitória eleitoral do presidente Lukashenko em agosto do ano passado, disse Przydacz.
(Este texto foi traduzido do inglês; leia aqui o original)