Rússia permitiu que patinadora reprovada em antidoping participasse de Olimpíada
Kamila Valieva foi reprovada em um teste antidoping realizado em dezembro, antes da Olimpíada de Inverno de Pequim 2022, no qual foi identificada a substância trimetazidina
A patinadora artística adolescente russa Kamila Valieva foi reprovada em um teste antidoping realizado em dezembro, antes da Olimpíada de Inverno de Pequim 2022, informação que foi confirmada pela Agência Internacional de Testagem (ITA, na sigla em inglês) nesta sexta-feira (10).
Valieva, que tem 15 anos e ajudou o Comitê Olímpico Russo (ROC) a levar o ouro na patinação artística para casa na segunda-feira (7), teve a permissão para competir nos Jogos concedida, apesar de testar positivo para o remédio cardíaco proibido trimetazidina, geralmente usado no tratamento da angina, disse a ITA em nota.
O teste reprovado surgiu somente durante a Olimpíada de Inverno, e ainda não é claro se a controvérsia fará com que a medalha conquistada pela atleta será retirada.
O escândalo continua a atrasar o recebimento das medalhas para os três times no pódio, com a prata para os Estados Unidos e o bronze para o Japão.
“A decisão sobre os resultados do Comitê Russo na Patinação Artística pode ser tomada…apenas após uma decisão final sobre os méritos do caso”, disse a ITA.
O caso será ouvido pelo Tribunal Arbitral do Esporte (CAS), e a decisão precisa ser tomada antes do próximo evento olímpico da atleta, na terça-feira (15), no qual ela é a favorita ao ouro.
Na audiência, o Comitê Olímpico Internacional (COI) vai questionar a decisão da Agência Russa Antidoping para levantar uma suspensão provisória para a patinadora, segundo a ITA.
Respondendo à controvérsia, o ROC disse que Valieva passou em testes de doping repetidamente quando já estava em Pequim, acrescentando que está tomando medidas para manter o ouro “honestamente vencido” por Valieva.
“O teste antidoping de um atleta que testou positivo não se aplica ao período dos Jogos Olímpicos. Ao mesmo tempo, a atleta repetidamente passou nos testes antidoping antes e depois de 25 de dezembro de 2021, incluindo no período em que já estava em Pequim para o torneio de patinação artística. Todos os testes são negativos”, disse o ROC em nota.
“O Comitê Olímpico Russo está tomando medidas para proteger os direitos e interesses dos membros do time, e manter a medalha olímpica honestamente vencida”.
Por que Valieva pôde competir?
A ITA, que lidera o programa antidoping dos Jogos Olímpicos de Pequim, disse que a amostra de Valieva foi obtida no Campeonato Russo de Patinação Artística, em São Petesburgo, em 25 de dezembro.
No entanto, não foi até o dia 8 de fevereiro que um laboratório na Suécia reportou que detectou uma substância banida – um dia após o ROC ganhar o ouro em Pequim.
De acordo com a ITA, Valieva testou positivo para a trimetazidina, um medicamento usado para tratar a angina, um problema cardíaco que causa dores no peito devido ao fluxo sanguíneo baixo no coração. A substância está na lista de proibições da Agência Mundial Antidoping (AMA).
Moduladores hormonais e metabológicos são classes de medicamentos banidos pela Agência, devido a evidências de atletas usando-os para melhorar a performance, pois eles podem aumentar o fluxo sanguíneo e melhorar a resistência.
Valieva recebeu prontamente uma suspensão provisória da agência antidoping da Rússia, que automaticamente proíbe os atletas de participar de qualquer esporte.
A patinadora desafiou a suspensão em 9 de fevereiro, e, em uma audiência neste mesmo dia, a agência antidoping russa decidiu acabar com o impedimento provisório – permitindo que ela continue a competir na Olimpíada, disse a ITA.
Aos 15 anos, Valieva é menor de idade, e portanto considerada como “protegida” sob o Código Mundial Antidoping, o que significa que seu nome não precisa ser divulgado publicamente.
A ITA disse que revelou sua identidade após reportagens na mídia baseadas em “informações não-oficiais”, e que “reconhece a necessidade de informações oficiais devido ao alto interesse público”.
Comitê Olímpico Internacional está “olhando para a comitiva”
Atletas russos não podem competir nas Olimpíadas sob o nome de seu país devido a sanções do COI e da AMA, como resultado da “manipulação sistemática” do país de regras antidoping durante os Jogos de 2014, em Sochi.
Em declaração a jornalistas na sexta-feira (11), o porta-voz do COI Mark Adams disse que o órgão quer “acelerar” o caso.
“Esperamos que todo o problema possa ser acelerado no interesse de cada atleta, não somente os russos, mas também no interesse de todos os atletas competindo”, ele disse.
Enquanto o caso de Valieva continua em avaliação, Adams fez referência ao trabalho da “Comissão de Comitiva” do COI.
De acordo com o site da Olimpíada, a comissão “aconselha as sessões do COI, o conselho executivo e o presidente para apoiar e proteger os atletas limpos”.
“Percebemos há algum tempo atrás que é muito, muito importante que todas as pessoas, os técnicos, médicos, e todos em volta do atleta, tenham sua responsabilidade também”, disse Adams.
“E inclusive, não olhamos apenas para atletas envolvidos nos casos, olhamos para a comitiva. É muito importante, mas eu não quero falar muito mais sobre esse assunto, porque leva a discussões sobre o caso e eu temo que não posso fazer isso”.
A União Internacional de Patinação disse que irá exercer seu direito de apelar da decisão da RUSADA sobre a interrupção do banimento das competições e “pedirá que o Tribunal Arbitral do Esporte reinstaure a suspensão provisória”.
Na sexta-feira, o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov disse que houve um “mal-entendido” sobre o teste positivo de Valieva e ofereceu-se para apoiar a patinadora.
“Temos muito respeito pela AMA e pelo COI”, disse Peskov a repórteres em uma conferência.
“Eles estão lidando com a situação no momento. Não vamos nos apressar, vamos esperar a finalização dos processos e a decisão do COI. Por enquanto, apoiamos Kamila Valieva e a desejamos sucesso”.
Perguntado se o Kremlin tinha alguma pergunta para os oficiais esportivos da Rússia sobre a situação, Peskov disse: “O Kremlin não tem perguntas no momento. O Kremlin tem um apelo a todos: vamos aguardar. Nossos oficiais esportivos estão fazendo seu trabalho”.
“Estamos certos de que houve algum tipo de mal-entendido. Nossos oficiais esportivos tem perguntas sobre o momento da testagem das amostras de Valieva…mas não comentaremos e não queremos comentar a situação, estamos esperando a finalização dos processos.”