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    Quem é Rogério Caboclo, presidente afastado da CBF após denúncia de assédio

    Afastamento de 30 dias ocorreu por decisão da Comissão de Ética da confederação após denúncia de assédio sexual feita por uma funcionária

    Daniel Fernandes, da CNN, em São Paulo

    Quando assumiu a presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), em abril de 2019, Rogério Caboclo afirmou que sua gestão seria pautada sobre dois pilares: integridade e eficiência. “Não vamos tolerar nenhuma prática duvidosa”, afirmou o cartola na sua cerimônia de posse, na qual substituiu Antônio Carlos Nunes, conhecido como capitão Nunes, que interinamente comandava a entidade após o afastamento de Marco Polo Del Nero. 

    Antes do “mandato tampão” de Nunes, os três presidentes anteriores da confederação – Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero – tiveram problemas com a Justiça e acabaram banidos do futebol pela Fifa.

    Pouco mais de dois anos depois de chegar ao comando da confederação e prometer medidas para lidar com o desgaste em sua imagem, Caboclo se vê agora também envolvido em polêmica, depois de ser acusado de assédio sexual e moral por uma funcionária da entidade e afastado pelo Conselho de Ética da CBF.

    Rogério Langanke Caboclo durante cerimônia de posse na presidência da Confederaç
    Rogério Langanke Caboclo durante cerimônia de posse na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)
    Foto: Lucas Figueiredo/CBF

    Ascensão em meio à crise na CBF

    Filho de Carlos Caboclo, ex-dirigente do São Paulo, Rogério começou cedo sua trajetória nos bastidores do futebol. Advogado e administrador de empresas, aos 26 anos passou a integrar o conselho deliberativo do São Paulo e, dois anos depois, assumiu como diretor-executivo e financeiro do clube.

    Aos 30 anos Caboclo deixou os bastidores de um time e ingressou na política do futebol na Federação Paulista de Futebol (FPF), onde ficou de 2002 a 2015 e comandou as áreas administrativa e financeira da entidade, então presidida por Marco Polo Del Nero, de quem se tornou um “homem de confiança”. Na federação, ele assumiu também a vice-presidência.

    Além da vice-presidência da FPF, Caboclo foi também diretor de Relações Institucionais do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil. 

    Em 2015, quando Del Nero assumiu a presidência da CBF, Caboclo começou sua trajetória na entidade máxima do futebol brasileiro, onde foi diretor financeiro e diretor-executivo. 

    Depois de chegar à confederação, Caboclo foi diretor de relações institucionais do Comitê Olímpico Local da Rio 2016 e ocupou cargo semelhante no Comitê Organizador Local da Copa América de 2019. Além disso, foi escolhido pela entidade como o chefe da delegação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia, em 2018.

    Sua chegada ao topo da hierarquia na CBF ocorreu em meio à crise institucional que atingia a entidade e seu padrinho, Marco Polo Del Nero. 

    Del Nero começou a ser investigado em novembro de 2015, por suspeita de envolvimento em esquemas de recebimento de propina para beneficiar empresas de mídia e de marketing em torneios de futebol, como as copas América, Libertadores e do Brasil.

    No final de 2017 ele foi suspenso pela Fifa e afastado provisoriamente do cargo e, em abril de 2018, banido do futebol, em decisão que o impediu de continuar a exercer qualquer atividade tanto em nível nacional quanto internacional na modalidade. 

    Com a saída de Del Nero, o vice-presidente mais antigo da CBF, capitão Nunes, assumiu o comando da entidade em um mandato tampão. Eleito em 2018, Caboclo assumiu seu cargo em abril de 2019 prometendo lidar com o desgaste à imagem da entidade, com ações para aumentar o controle de governança, risco e conformidade, aplicando “com energia o código de ética”.

    Depois de pouco mais de dois anos, porém, ele mesmo tornou-se um ponto de crise dentro da entidade.

    Presidente da CBF, Rogério Caboclo
    Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

    Pressão de dirigentes e patrocinadores

    As investigações contra o ex-presidente da entidade devem começar já nesta segunda-feira (7). A denúncia foi protocolada na sexta-feira (4) e, de acordo com o Código de Ética da organização, os trâmites investigativos começam no próximo dia útil após o recebimento da notificação.

    Caboclo será investigado e julgado por duas câmaras diferentes, que fazem parte da comissão. A primeira é composta por cinco membros, e terá um relator escolhido pelo próprio presidente do conselho, Carlos Renato de Azevedo Ferreira. 

    O grupo é responsável por apurar indícios, ouvir testemunhas e analisar provas da denúncia. A Câmara de Julgamento irá analisar o relatório dos integrantes, e aplicar as medidas cabíveis caso decidam pela condenação.

    A CNN confirmou com fontes que o diretor de Governança e Conformidade da CBF, André Megale, enviou um e-mail na noite de sábado (5) sugerindo que Caboclo se licenciasse da função até que a investigação fosse concluída. Também justificou que, dessa forma, Caboclo conseguiria dedicar-se à própria defesa. O e-mail foi direcionado ao atual presidente e outros 22 dirigentes.

    De acordo com a apuração, a maioria concordou com o conselho de afastamento feito por Megale. Ainda segundo fontes, outros dirigentes, porém, estariam tentando convencer Caboclo a renunciar e teriam justificado que seria mais honroso para o então presidente da instituição comunicar sua saída do que ser afastado pela CBF.

    Mas Caboclo estaria resistindo à ideia e, até o momento, não teria reunido seus dirigentes para se explicar das acusações, o que estaria tornando sua situação cada vez mais delicada internamente.

    Fontes internas afirmaram também que até patrocinadores da Seleção já teriam manifestado incômodo com as acusações contra Rogério Caboclo.

    Com o afastamento de Caboclo, novamente por ser o vice-presidente mais velho na entidade, Nunes assume o comando da CBF, menos de dois anos e meio depois de ter passado o bastão para Rogério. 

    Rogério Caboclo, presidente da CBF
    Foto: Reprodução/CBF

    A denúncia

    Uma denúncia formal de assédio moral e sexual contra Caboclo foi enviada à Comissão de Ética da CBF e a Diretoria de Governança e Conformidade na última sexta-feira (4).

    A acusação foi feita por uma funcionária que ocupa um cargo de confiança e trabalha há cerca de nove anos na CBF. No documento apresentado pelo escritório Ideses Advogados, que representa a suposta vítima, a defesa afirma ter provas dos fatos narrados e pede que o dirigente seja investigado e afastado. Os advogados também pedem investigação na Justiça estadual.

    Desde então, a funcionária encontra-se afastada de suas funções após, supostamente, apresentar problemas de saúde.

    Em nota, a defesa de Rogério Caboclo informou “que ele nunca cometeu nenhum tipo de assédio. E vai provar isso na investigação da Comissão de Ética da CBF.” 

    (Com informações da Agência Brasil)

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