Mestre de xadrez nega “categoricamente” ter usado vibrador para trapacear
Hans Niemann foi acusado em 2022 de usar o brinquedo sexual em um jogo contra o campeão Magnus Carlsen
Se Hans Niemann esperava deixar para trás um suposto escândalo de trapaça, a entrevista do grande mestre do xadrez com Piers Morgan nesta segunda-feira (25) pode ter simplesmente frustrado esse desejo.
Niemann negou repetidamente ter trapaceado no xadrez, mas falando ao programa “Piers Morgan Uncensored”, o jovem de 20 anos abordou acusações específicas de que ele trapaceou usando brinquedos sexuais vibratórios, alegações que surgiram nas redes sociais, embora não esteja claro quem originalmente fez as acusações.
Quando foi pressionado por Morgan se ele havia usado esses brinquedos “enquanto jogava xadrez”, Niemann respondeu: “Bem, sua curiosidade é um pouco preocupante, você sabe — talvez você esteja pessoalmente interessado, mas posso dizer que não. Categoricamente, não, claro que não.”
Após sua vitória sobre o pentacampeão mundial Magnus Carlsen no ano passado, o New York Times noticiou que Niemann disse: “Eles querem que eu fique totalmente nu, eu farei isso. Não me importo, porque sei que estou limpo. Você quer que eu jogue em um camarote fechado e sem transmissão eletrônica? Eu não me importo, sabe? Digam o que quiserem.”
https://twitter.com/PiersUncensored/status/1706393505398985111
Niemann, um prodígio do xadrez americano, foi acusado de trapaça por Carlsen depois de ser derrotado na Sinquefield Cup de 2022. Embora Carlsen não tenha fornecido detalhes sobre o que ele alegou que Niemann fez durante a partida, as mídias sociais estavam repletas de acusações de que o americano usou brinquedos sexuais vibratórios para receber sinais sobre quais movimentos fazer.
As acusações de trapaça dirigidas a Niemann evoluíram para um escândalo que tomou conta do mundo do xadrez no ano passado. Logo após seu jogo contra Carlsen em 2022, Niemann disse que nunca havia trapaceado em jogos over-the-board, embora tenha admitido ter trapaceado em “jogos aleatórios no Chess.com” quando mais jovem, o que ele chamou de “o maior erro da minha vida”.
No entanto, um relatório de 72 páginas do Chess.com — a plataforma de xadrez online — alegou que Niemann “provavelmente trapaceou” em mais de 100 partidas online entre julho de 2015 e agosto de 2020, “incluindo vários eventos com premiação em dinheiro”.
O relatório afirma que Niemann confessou privadamente a trapaça ao diretor de xadrez do site em 2020, o que levou o jovem de 20 anos a ser temporariamente banido da plataforma. Niemann então abriu um processo por difamação de US$ 100 milhões (R$ 498 milhões) contra o Chess.com, Carlsen e o popular streamer e jogador Hikaru Nakamura.
O processo de Niemann descreveu as alegações de trapaça, bem como a alegação do Chess.com de que ele havia confessado trapaça duas vezes, como “falsas”.
Em junho, um juiz rejeitou o processo, com Niemann publicando nas redes sociais que estava satisfeito pelo fato de o seu “processo contra Magnus Carlsen e o Chess.com ter sido resolvido de uma forma mutuamente aceitável, e que voltarei ao Chess.com. Estou ansioso para competir contra Magnus no xadrez, e não no tribunal.”
Ele continuou: “Esses tempos difíceis apenas fortaleceram minha determinação e caráter e apenas me revigoraram ainda mais para chegar ao topo do xadrez. Haverá um dia em que serei o melhor jogador de xadrez do mundo, e acho que é a hora deixar meu xadrez falar por si.”
Hans Niemann foi reintegrado pouco depois no Chess.com, que se autodenomina a maior plataforma online de xadrez do mundo e afirma que hospeda mais de 10 milhões de jogos todos os dias.
Niemann — que estava sentado ao lado de seu advogado durante sua aparição na TV na segunda-feira — disse que todo o caso o afetou muito. “É muito desanimador ser acusado de trapaça depois dessa vitória”, disse ele.
“Essas coisas aconteceram e aprendi muito com aquela época e isso realmente me ensinou muitas lições importantes sobre a vida e o xadrez.”
Ele passou a descrever Carlsen como um “valentão”. “Ele [Carlsen] usou todo o seu império, usou suas conexões no Chess.com. Ele aproveitou o fato de que há uma fusão acontecendo e fez com que todas essas pessoas me atacassem.”
A CNN tentou contato com Carlsen e Chess.com.
Ganhar vantagem
Trapacear no xadrez tornou-se mais comum na era da tecnologia, com mais jogadores optando por batalhar em computadores devido à conectividade que ele oferece. Desde então, com melhorias no hardware e software dos computadores, os chamados motores de xadrez ajudaram a transformar o esporte em um jogo do século 21.
Conforme definido pelo Chess.com, um motor de xadrez é um programa que “analisa as posições do xadrez e retorna o que calcula serem as melhores opções de movimento”.
Os motores de xadrez tornaram-se muito mais fortes do que os humanos nos últimos anos, com muitos ultrapassando a classificação Elo de 3.000 – o sistema de classificação Elo mede a força de um jogador de xadrez em relação aos seus oponentes.
Para contextualizar, Carlsen detém o recorde da classificação Elo mais alta já alcançada por um jogador humano quando atingiu 2.882 em 2014.
Stockfish é um dos motores de xadrez mais avançados com uma classificação de mais de 3.500, o que significa que tem 98% de probabilidade de vencer Carlsen em uma partida — e 2% de chance de empatar o pentacampeão mundial, essencialmente tornando impossível uma vitória de Carlsen.
Embora os motores de xadrez tenham ajudado os jogadores a aprimorarem suas habilidades — treinando contra os movimentos perfeitos para se prepararem para cada eventualidade — eles também permitiram que alguns jogadores trapaceassem com mais facilidade.
Como resultado, sites de xadrez online, como o Chess.com, desenvolveram tecnologias anti-trapaça para detectar quando os jogadores estão usando software de computador externo durante os jogos, na tentativa de conter o jogo sujo. Enquanto a FIDE (Federação Internacional de Xadrez) luta para combater a trapaça online, tem havido um nível de pureza no xadrez over-the-board, com a trapaça provando ser muito mais difícil.
Andy Howie, árbitro e membro da comissão anti-trapaça da FIDE, descreveu à CNN no ano passado algumas das medidas em vigor para evitar fraudes exageradas, como detectores de metal, scanners de sinal, scanners não lineares e imagens térmicas. Mas as medidas de segurança não impediram as pessoas de tentarem trapacear e a história do jogo está repleta de escândalos.