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    “Foi uma sensação de terror”, afirma jogador brasileiro que atuava na Ucrânia

    Ex-jogador do Fluminense, Marlon Santos chegou ao Rio de Janeiro acompanhado da família e de outro atleta brasileiro nesta terça-feira (1º)

    Rafaela Cascardoda CNN , no Rio de Janeiro

    Depois de três dias de tensão para sair da Ucrânia, os jogadores de futebol Marlon Santos, do Shakhtar Donetsk, e Bruno Ernandes, do Gornyak Sport, chegaram ao Brasil nesta terça-feira. Os dois atletas vieram juntos de Paris, capital da França, mas enfrentaram um longo e complexo caminho até o reencontro emocionante com a família no saguão do Aeroporto Tom Jobim (Galeão), na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio.

    “Foi uma sensação de terror, de desespero cada momento, cada dia. Você escuta barulho de (avião de) caça passando por cima do seu prédio, você escuta barulho de bomba, você vê o terror que está vivendo a cidade, o país. Aí começou a faltar alimento, mas tiveram pessoas que se dispuseram a sair pra buscar. Foi dali que a gente começou a se unir e a tentar manter a calma. Agora é um alívio, uma emoção. Agora a ficha começa a cair. Foi muito triste, muito intenso. Agora é respirar fundo e orar pelas pessoas que lá estão”, desabafou Marlon, que estava dentro de um bunker na tentativa de fugir dos conflitos.

    Marlon vive na capital da Ucrânia, Kiev, desde julho do ano passado, quando chegou para compor o time. Para deixar o local, ele pegou um trem até a cidade de Chernivsti, no Oeste do país. Depois ele pegou outro transporte e cruzou a fronteira até Bucareste, na Romênia. De lá, Marlon Santos pegou um voo para Paris, na França. Por fim, ele embarcou para o Rio.

    “O trajeto até o trem era um trajeto um pouco mais tranquilo, então a gente conseguiu sair e chegou até a estação de trem, onde estava um caos. Aí nós seguimos a viagem com tensão e medo, lógico. A gente via algumas coisas, mas não muito nítidas. O exército passava correndo, passava de helicóptero também”, complementou Marlon.

    Já o centroavante Bruno Ernandes vive, desde julho do ano passado, em Horishnni Plavni, cidade que fica a 345 km da capital Kiev. Atleta do Gornyak Sport, que disputa a segunda divisão do campeonato ucraniano, ele não chegou a ver de perto os ataques, mas também passou por dificuldades até chegar ao Brasil.

    “Foi uma viagem muito tensa, agoniante, angustiante porque a todo tempo a gente pensa que talvez não vá voltar. A gente sabe que no Rio também tem conflitos, não é tão seguro, mas lá é uma guerra, uma coisa extremamente diferente. Só vejo isso no vídeo game. É difícil, a ficha ainda não caiu direito. Graças a Deus eu estou com a minha família, que é o que eu mais quero”, afirmou Bruno.

    O atleta começou a viagem na madrugada deste domingo (27), quando pegou um trem para a cidade de Odessa, ainda em solo ucraniano. De lá seguiu de carro para a fronteira, onde passou para Moldávia. De lá conseguiu chegar a França, para seguir para o Brasil.

    “A gente não sabia o que ia encontrar pela rua à noite. Tudo escuro, estava tendo toque de recolher. A qualquer momento podia acontecer alguma coisa, mas graças a Deus, não aconteceu nada”, desabafou o centroavante.

    Os jogadores de futebol brasileiro Marlon Santos, do time ucraniano Shakhtar Donetsk e Bruno Ernandes, do Gornyak-Sport desembarcam no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro / Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

    A noiva de Bruno, Kamila Amaral, mora no Brasil e esteve no aeroporto junto com a família para recepcionar o jogador. Ela conta que viveu grandes momentos de preocupação à distância. A intenção dela era se mudar para a Ucrânia em agosto, mas agora não sabe mais se o plano será possível.

    “O dia mais tenso foi quando começou. Ele estava dormindo ainda, mas eu já estava acordada aqui. Então quando eu fiquei sabendo da guerra, eu não sabia se a cidade dele tinha sido atingida ou não. A sensação é muito ruim de saber que ele estava sozinho lá. Então eu preferia estar lá com ele pra ele não passar por isso sozinho. A sensação de acompanhar de longe foi muito complicada, muito difícil”, relatou.

    Depois do susto, Bruno só quer ter paz e aproveitar os momentos ao lado da família. “Meu desejo agora é comer a comida da minha mãe, descansar um pouco e ficar com a minha família o tempo que eu puder. A gente não sabe agora o que vai ser de futebol lá. Agora é aguardar e descansar”, complementou Bruno.

    Mais jogadores desembarcam no Brasil

    Os jogadores Vitão, Vinícius Tobias e Pedrinho do Shakhtar Donetsk, além do fisioterapeuta da equipe, Luciano Rosa, também desembarcaram nesta terça-feira no Brasil.

    Para Vitão, a parte mais complicada de ficar no bunker, foi saber que estava acontecendo uma guerra e muita gente estava morrendo. “Escutávamos bombas e gritos. Eu acordei decidido que iria sair na madrugada de quarta. Quando fui pegar meu carro para sair com destino à fronteira da Polônia, eu ouvi muitos tiros e tive que voltar correndo para o hotel, que era mais seguro”

    Vinícius Tobias declarou que “um momento que não vai apagar da minha memória, foi ver todos os meus companheiros brasileiros chorando, foi muito difícil para mim.”

    Luciano Rosa afirmou que faltando quinze minutos para saída do hotel chegou a informação que a federação ucraniana iria oferecer suporte. “Eles arrumaram veículos para gente ir até a estação. E esse momento foi muito tenso, porque não sabíamos o que iriamos encontrar lá fora, porque estávamos presos no bunker. Esse trajeto não tinha nada bombardeado ainda, porque eles sabiam o caminho que poderiam fazer, era esse suporte que a gente queria”

    Pedrinho disse que nunca houve uma decisão concreta, por cuidado com as crianças. “Chegou um momento que ficamos três dias no hotel e eu não pensava que podia sair de lá, mas sim que minha mulher, minha filha e todas as crianças pudessem sair bem. Pegamos um trem no último dia, teve um alerta que iria piorar muito. Se não saíssemos em cinco minutos, não poderíamos sair.”

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