Fifa ameaça suspender CBF em carta, mas não deve fazê-lo; entenda
Em conjunto com a Conmebol, texto lembrou que pode haver punição à confederação caso entes de fora do futebol interfiram no comando; Fifa quer acompanhar a eleição
As direções da Fifa e da Conmebol enviaram uma carta em conjunto à CBF, nesta quinta-feira (14), em que pedem para que a nova eleição na Confederação Brasileira seja feita apenas após uma visita de dirigentes das entidades internacionais ao Brasil, no início de janeiro.
Na terça-feira (12), o presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), José Perdiz de Jesus, assumiu interinamente a presidência da CBF, por determinação do Tribunal de Justiça do Rio, com a missão de convocar a eleição em até 30 dias úteis, o que seria até a semana de 25 de janeiro. No dia 7 de dezembro Ednaldo Rodrigues, que comandava a confederação desde 2022, foi afastado do cargo.
A carta da Fifa e da Conmebol, e endereçada não a Perdiz, mas ao secretário-geral da CBF, Alcino Reis Rocha, que se mantém no posto, foi uma resposta a um documento enviado pela direção afastada da CBF, em 7 de dezembro, em que comunicava a ação da Justiça Comum no comando da confederação. A informação foi revelada pelo Globo Esporte, e confirmada pela Itatiaia.
“É com satisfação e respeito que recebemos a carta da Fifa. Vejo como um sinal positivo termos a entidade acompanhando o processo eleitoral na CBF. Conforme determinação da Justiça brasileira, confirmada pelo STJ, vou convocar em 30 dias as eleições, dentro da transparência e da lisura exigidas”, disse Perdiz.
No texto, além de solicitar acompanhamento do processo eleitoral determinado pelo TJ-RJ, Fifa e Conmebol lembraram que por seus estatutos é proibido que entes fora do futebol interfiram politicamente nos filiados, com risco de suspensão, o que ocasionaria a proibição do Brasil de participar de torneios organizados internacionalmente, como Copa do Mundo e Copa Libertadores.
CBF não será suspensa
O risco disso acontecer, entretanto, é mínimo. A Itatiaia apurou que internamente nem Fifa, e nem Conmebol, pensam seriamente em punir o Brasil, um de seus principais filiados. No caso da confederação sul-americana, por exemplo, não ter os clubes brasileiros na Libertadores e na Sul-Americana geraria perda de milhões de dólares com patrocinadores e detentores de direitos de transmissão.
Mas por que na carta as entidades citam o risco de punição? Porque não querem incentivar outros países a terem interferência no comando das confederações. Normalmente essas punições ocorrem para filiados menores, que sofrem ingerência política, de governos ditatoriais que depõem o presidente da federação eleito, teoricamente, de maneira justa para colocar algum apadrinhado na função.
Esse não é o caso da situação hoje do Brasil, que teve uma decisão judicial imposta por um problema no processo eleitoral.
Na carta, Fifa e Conmebol pedem para que os contatos oficiais com as entidades seja feito exclusivamente pelo diretor mais idoso da CBF, como manda o estatuto. No caso seria Hélio Santos Menezes Junior, que comanda a área de governança e conformidade e, desde o meio do ano, também interinamente a diretoria jurídica.
Ainda não há data que a eleição ocorra, mas Ednaldo Rodrigues, se conseguir o apoio de oito federações estaduais e de cinco clubes, como manda o estatuto, pode concorrer.
Entenda o afastamento de Ednaldo
O processo que causou o afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF está ativo desde 2018, por iniciativa do Ministério Público do Rio de Janeiro, ainda referente à eleição de Rogério Caboclo, antecessor de Ednaldo.
O MP questiona o estatuto da confederação por estar em desacordo com a Lei Pelé porque prevê pesos diferentes para clubes nas votações para a escolha dos presidentes. Os dirigentes das 27 federações estaduais têm peso 3 na votação, contra peso 2 dos 20 clubes da Série A e peso 1 dos 20 da B.
A Justiça anulou em 2021 a eleição de Rogério Caboclo e determinou uma intervenção na CBF, nomeando Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), como os interventores. Essa decisão foi cassada pouco tempo depois.
A CBF e o Ministério Público fizeram um acordo extrajudicial e assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). O estatuto mudou e os pesos nos votos dos times das séries A e B ficaram iguais. Na nova eleição, em 2022, Ednaldo Rodrigues, que estava como presidente interino, foi eleito para um mandato completo de quatro anos, até março de 2026.
Gustavo Feijó, que era vice na época de Caboclo, acionou a 2ª instância. O pedido era que o TAC fosse anulado, e Ednaldo afastado, alegando que o juiz de 1ª instância não tinha atribuição para homologar o documento. Foi isso que foi acatado em 7 de dezembro pelo TJ-RJ.