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    Ex-viciada em comida, levantadora de peso recordista diz que esporte a salvou

    Atividade física deu a Tamara Walcott propósito e autoconfiança, ajudando-a a superar depressão e manter hábitos alimentares mais saudáveis

    George Ramsayda CNN

    Tamara Walcott ainda se lembra da primeira vez em que pôs os pés em uma academia de levantamento de peso: as mãos brancas de giz, os pulsos enfaixados e os gritos enquanto os levantadores erguiam pesos do chão.

    Ao ver a cena, o espírito competitivo de Walcott a fez tentar por si mesma. Logo depois, ela estava com um peso nas costas e se preparava para realizar seu primeiro agachamento. E a conexão foi instantânea.

    “Quando senti aquele peso nas costas, o primeiro agachamento, […] simplesmente me apaixonei, porque estava fazendo isso por mim”, diz Walcott.

    Isso foi em 2017 e, na época, Walcott já treinava com halteres havia um ano, em uma tentativa desesperada de perder peso. Depois de ter filhos e passar por um divórcio, ela pesava 188,2 quilos e rotineiramente comia de forma compulsiva até tarde da noite.

    O treinamento com halteres e hábitos alimentares mais saudáveis fizeram com que ela já perdesse 45,3 quilos, mas o levantamento de peso tornou-se a salvação de Walcott em um momento em que sua saúde mental havia se deteriorado muito.

    “O levantamento de peso salvou minha vida”, disse Walcott à CNN. “Isso me salvou de mim mesma, me salvou do vício em comida; foi minha terapia, me salvou da depressão e mudou minha vida”.

    O significado particular e profundamente enraizado que o levantamento de peso assumiu em sua vida talvez explique de alguma forma o sucesso de Walcott no esporte.

    Em julho, ela quebrou o recorde da World Raw Powerlifting Federation (WRPF) para o levantamento cumulativo mais pesado para agachamento e supino, registrando um total de 734,9 quilos (1.620,4 libras) no agachamento, supino e levantamento terra na competição American Pro, na Virgínia.

    Na mesma competição, Walcott quebrou seu próprio recorde de levantamento terra da WRPF com um peso de 289,8 quilos (639 libras). Para se ter uma ideia, isso é aproximadamente o peso de uma vaca Dexter ou de um piano de cauda.

    Mas anos antes que ela pudesse sequer pensar em levantar esses pesos, Walcott teve que encontrar uma maneira de ser aceita no mundo dominado pelos homens do levantamento de peso.

    Quando ela começou a praticar o esporte, normalmente era a única mulher na sala de musculação, e por vezes o motivo de olhares tortos e risadinhas.

    “Lembro-me de rapazes me dizendo: ‘não faça supino porque as mulheres não devem fazer supino. Vai mudar a forma como seu peito é'”, diz Walcott.

    “Eu podia ouvir as pessoas dizendo que eu não estava fazendo certo. Lembro-me de ouvir uma pessoa dizer: ‘Por que ela está aqui e não na esteira?’ […] Eu me agarrei a isso e meio que continuei”.

    Hoje, no entanto, Walcott notou uma mudança de atitude e diz que as mulheres estão “tomando conta da comunidade de levantamento de peso”. Ela fundou a Women in Powerlifting em março deste ano, uma organização dedicada a aumentar a participação feminina no esporte e remover os estereótipos negativos em torno das mulheres levantadoras de peso.

    Para Walcott, que atende pelo apelido de “rainha fitness plus size” nas redes sociais, capacitar outras mulheres a praticar o esporte é uma de suas principais aspirações.

    “É por isso que uso meus brincos argolas, meus cílios, minhas joias quando levanto peso”, diz ela. “Às vezes, eu uso batom – porque está tudo bem ser bonita, está tudo bem ser sexy, está tudo bem ser mulher e levantar peso”, diz.

    “Para outras mulheres, eu diria a elas para fazerem o que quiserem fazer, inclusive entrar na academia. Isso me deu muito mais confiança”.

    ‘Pura dedicação’

    Uma figura feminina influente continua a inspirar a carreira de levantamento de peso de Walcott. Sua avó, que era chef na ilha caribenha de St. Croix, onde Walcott cresceu, e faleceu em 2019. Walcott fica emocionada ao relembrar o espírito grandioso e a generosidade de sua avó.

    “Quando ela cozinhava, não eram potes pequenos de comida. Era como se ela estivesse alimentando toda a comunidade”, diz Walcott.

    Ao longo de sua carreira de levantamento de peso, ela extraiu força das lembranças de sua avó, usando-a como combustível durante seus momentos mais desafiadores.

    “Eu estava perseguindo 225 quilos (496 libras) de levantamento terra por quase um ano, e eu não conseguia quebrá-lo”, lembra Walcott. “E então, alguns meses depois que ela faleceu, eu quebrei [o recorde] canalizando a energia dela, dizendo: ‘Vou fazer isso por você’, sabe? E finalmente consegui”.

    “Me lembro de ficar cheia de emoção. Eu estava chorando na academia. Todo mundo estava olhando para mim naquele momento – todo mundo estava torcendo, todo mundo estava batendo palmas […] É quase como se ela tivesse me dado sua energia ou algo assim, eu não sei como explicar”.

    O impacto que o levantamento de peso teve na vida de Walcott foi amplo, dando a ela propósito e autoconfiança quando ela mais precisava.

    Ponto central disso tem sido sua mudança na relação com a comida e hábitos alimentares mais saudáveis.

    “Serei completamente honesta – meu vício em comida acabou? Não, eu apenas troquei por outra coisa”, explica ela.

    “No início, quando comecei a levantar peso e treinar, lembro que tarde da noite eu costumava comer compulsivamente quando estava mais pesada, e disse a mim mesma: ‘sabe de uma coisa? Quando eu começar a ter esses desejos, vou descer e fazer 20 flexões ou 20 abdominais, ou vou beber um copo grande de água'”.

    O novo estilo de vida de Walcott também envolve beber um galão (cerca de 4,5 litros) de água por dia e garantir que ela durma o suficiente todas as noites – o que pode ser difícil ao equilibrar exercícios, ser mãe e ter um emprego em tempo integral no setor imobiliário.

    Às vezes, significa recorrer a sessões tarde da noite na academia – terminando quase à meia-noite – e recuperar o sono em qualquer oportunidade possível. Walcott até escureceu os vidros do carro para ajudar a dormir um pouco durante o dia.

    “Eu faço funcionar”, diz ela. “A motivação morreu há muito tempo para mim. Tudo isso agora, é pura dedicação”.

    Manifestando

    Walcott agora planeja fazer uma pausa no levantamento competitivo. Ela lutou contra a artrite nos joelhos no início deste ano – a ponto de mal conseguir agachar e seus exercícios foram reduzidos a subir e descer escadas mancando apenas algumas semanas antes de seu recorde no levantamento de peso em julho.

    Ela fala sobre talvez competir em um evento internacional no fim do próximo ano, mas, por enquanto, está comprometida com sua turnê “My Strength is My Sexy” (minha força é minha sensualidade, na tradução), onde ela está compartilhando sua jornada de levantamento de peso em academias em todos os Estados Unidos.

    Isso não quer dizer que ela perdeu de vista seus alvos competitivos. Ela conversou com seu treinador, Daniel Fox, sobre o objetivo de levantar “747” – um agachamento de 317,5 quilos (700 libras), supino de 181,4 quilos (400 libras) e levantamento terra de 317,5 quilos (700 libras).

    “Isso não soa bem?” diz Walcott. “Sou uma grande manifestante; sou grande em colocar as coisas na atmosfera, apenas deixar crescer e dizer em voz alta”.

    Definir – e superar – seus próprios objetivos tem sido o estilo de Walcott desde que ela entrou em uma academia de levantamento de peso, há cinco anos. Ela nunca olha para quem mais está na lista em competições e odeia que lhe digam o quão pesada é uma barra antes de tentar um levantamento.

    “Eu não quero ouvir tudo isso, isso vai entrar na minha mente”, diz Walcott. Ela compete por si mesma, todo o seu impulso vem de dentro.

    “Neste momento, é apenas eu contra mim”, diz ela. “Estou me desafiando a ser melhor a cada dia – acho que amo esse aspecto”.

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