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    Entenda a nova regra que restringe mulheres trans das competições de natação

    À CNN Rádio, o professor de endocrinologia Leonardo Alves classificou a decisão como precoce e explicou o que diz a ciência, até o momento

    Amanda GarciaProduzido por Letícia Brito

     

    Uma decisão da FINA sobre atletas trans reacendeu o debate sobre o que diz a fisiologia do esporte a respeito do tema.

    Segundo a nova determinação, apenas atletas trans que fizeram a transição antes dos 12 anos – período em que começa a puberdade – podem competir com mulheres cis, com um nível de testosterona de 2.5 nmol/L no sangue.

    Para quem não se aplica a essa regra, será criada uma nova categoria, separada, para que possam competir. As regras, no entanto, não se aplicam a homens trans, que continuam competindo sem restrições.

    Em entrevista à CNN Rádio, no CNN No Plural+, o professor de endocrinologia da Universidade São Camilo, Leonardo Alvares, explicou que, até esta regra, as associações seguiam as orientações do Comitê Olímpico Internacional (COI).

    No entanto, o próprio COI recomendou que cada federação, dentro da sua categoria esportiva, crise suas próprias regulamentações para indivíduos trans.

    “É interessante porque essa orientação começa a mostrar uma necessidade de individualizar os esportes, cada um vai ter uma especificidade, levando em conta aspectos físicos diferentes das modalidades.”

    Ao mesmo tempo, porém, o endocrinologista acredita que a orientação estabelecida pela FINA é precoce.

    “Dentro da fisiologia do esporte, temos engatinhado nos estudos relacionados a indivíduos transgêneros submetidos à hormonioterapia e ao bloqueio puberal”, disse.

    Leonardo Alvares explica que os dados atualizados dão conta de que “a massa muscular de mulheres trans, que desenvolveram a puberdade masculina e depois iniciaram a hormonioterapia, tem queda, mas não chega a se comparar aos níveis de uma mulher cis.”

    Isso significa, portanto, que há um “nível intermediário” de atletas trans – tanto no que diz respeito à massa muscular, quanto à força e também à capacidade cardiopulmonar.

    “Do ponto de vista científico, mulheres trans tem capacidades esportivas intermediárias”, não chegam ao nível de um homem cis, mas também não estão no mesmo patamar de mulheres cis.

    Por outro lado, o próprio especialista traz um outro fator, de que, geralmente, uma equipe multidisciplinar faz a avaliação de uma criança e adolescente que pode ser trans – e isso não é simples.

    “Essa avaliação é muito difícil, ao final da adolescência, até 85% dos transgêneros na verdade não serão trans na vida adulta e não será feita a transição, o ponto de corte de idade a partir de 12 anos preocupa do ponto de vista médico porque antecipa a decisão importante e pode trazer consequências a longo prazo”, ponderou.

    O acesso a crianças e adolescentes a serviços de saúde antes dessa idade “é muito difícil”, segundo ele.

    A idade para o tratamento com hormônios no Brasil, por exemplo, é 18 anos – o que já deixaria atletas mulheres trans brasileiras de fora da regra da FINA.

    É por causa de todas essas nuances, que o médico defende que profissionais de bioética e de direitos humanos devem ser incluídos na decisão: “O ser humano tem que ser visto sob diversos aspectos.”

    “Do ponto de vista de pesquisa, todos os profissionais de saúde que trabalham com esporte têm a obrigação de desenvolver mais estudos para embasar a tomada de decisões das federações esportivas”, completou.

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