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    Opinião: Rubiales gabaritou a prova do abusador em discurso do “fico”

    Presidente da Federação Espanhola de Futebol age como quem sempre confiou na impunidade

    Luis Rubiales beija no rosto a melhor jogadora do mundo Alexia Putellas
    Luis Rubiales beija no rosto a melhor jogadora do mundo Alexia Putellas Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images

    Stephanie Alvesda CNN

    Com o fim da Copa do Mundo Feminina e o beijo de Luis Rubiales em Jenni Hermoso, percebemos que o esporte feminino dá um passo para frente, mas dois para trás.

    O ato em si é abjeto. O beijo não autorizado do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol em uma atleta no momento da coroação de sua carreira já deveria ser condenável. Uma demonstração pública de um sentimento de posse sobre vidas e corpos femininos que incontáveis vezes leva homens a cometerem crimes contra mulheres. Diante do mundo inteiro, o que ele afirma com esse gesto é que a conquista — a maior que uma jogadora de futebol sonha em ter — pode até ser da atleta, mas que a atleta é dele.

    Pior, porém, foi o que sucedeu o beijo. Os desdobramentos vão de uma tentativa pavorosa de convencê-la a participar de um vídeo com desculpas ao discurso do “não renunciarei”. Este, o ponto alto de um enredo que já estava ensaiado desde o princípio.

    Luis Rubiales age como quem sempre confiou na impunidade. E, se tinha alguma dúvida, as reações durante sua fala deixaram bem claro que não há motivo para preocupação. Um auditório cheio de homens (incluindo os técnicos das seleções feminina e masculina da Espanha) estava pronto para aplaudi-lo. Enquanto à maioria das mulheres presentes restou o constrangimento.

    No discurso, Rubiales citou um “falso feminismo” que tenta assassinar a trajetória de um gestor competente e liquididá-lo socialmente. Ele como vítima. Rubiales gabaritou a prova do abusador.

    O chefe de uma instituição que deveria atuar em prol do esporte atraiu para si dias e dias de noticiário.

    Esta não é uma discussão esportiva. Não é sobre Rubiales. E, definitivamente, não é sobre Jenni Hermoso. É sobre homens em posições de poder que usam os cargos para cometer abusos. E criam sistemas complexos de impunidade para perpetuar essas situações.

    Deveríamos estar falando de uma Copa do Mundo histórica em prêmios, patrocínio, audiência. Mas o debate foi sequestrado por atitudes machistas. E, mais uma vez, o debate se volta para a igualdade de gênero. Passado o Mundial, percebemos que demos um passo à frente. Mas dois para trás.

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