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    Naomi Kawase promete filme olímpico diferente de tudo já visto anteriormente

    Diretora feminina mais famosa do Japão espera que seu registro da Olimpíada de Tóquio perdure mesmo depois de 50 ou 100 anos; lançamento está previsto para 2022

    Diretora japonesa Naomi Kawase promete que filme oficial da Olimpíada de Tóquio registrará sentimentos negativos e positivos
    Diretora japonesa Naomi Kawase promete que filme oficial da Olimpíada de Tóquio registrará sentimentos negativos e positivos Foto: Jun Sato - 21.jun.2021/WireImage

    Thomas Page, da CNN

    Naomi Kawase está ao telefone no banco de trás de um táxi, se espremendo nesta entrevista a caminho de outra sessão de fotos. Para uma diretora conhecida por seu estilo lírico de cinema, ela fala em um clipe; o tempo está pressionando, o que é compreensível à medida que a abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020 se aproxima.

    A diretora mais famosa do Japão está mergulhada na produção de seu filme oficial dos Jogos. Pelas suas contas, ela já gravou mais de 300 horas de filmagem, com pelo menos outras 100 pela frente. Apesar do formato familiar do evento, o que resta podem ser as horas mais imprevisíveis até agora – a incerteza que não está relacionada quem ganha e perde após o início dos Jogos.

    Falando à CNN no início de julho, antes de um estado de emergência ser estendido em Tóquio e da notícia de que os espectadores não compareceriam aos locais olímpicos na cidade, ela expôs sua visão. 

    É, pelos padrões do documentário olímpico, radical e já tão mergulhado na pandemia que mesmo essa última reviravolta no roteiro provavelmente enriquecerá em vez de inviabilizar seu filme. “Gostaria que fosse um trabalho que perdurasse, mesmo depois de 50 ou 100 anos”, disse ela. 

    ‘É muito importante manter o negativo e o positivo’

    Ao assumir a tarefa, Kawase se junta a nomes como Kon Ichikawa, Claude Lelouch, Milos Forman, Arthur Penn e Leni Riefenstahl como diretores aclamados que atenderam ao chamado olímpico. 

    Mas, apesar de sua fama, houve alguma incerteza quando Kawase foi escolhida em 2018. Como uma diretora ferozmente independente se sairia não apenas cobrindo, mas trabalhando com tais instituições colossais? A cineasta por trás dos ganhadores de prêmios íntimos “Radiance” e “Suzaku” seria forçada a ajustar seu estilo para acomodar um evento comercial extenso como as Olimpíadas?

    Os sinais sugerem que ela permanece firme, mesmo que a pandemia a tenha forçado a mudar a maneira como trabalha.

    Como diretores antes dela, ela está traçando o perfil de concorrentes de todo o mundo. É o compartilhamento de suas histórias, ela explicou, que diferencia os filmes das transmissões de televisão dos Jogos. 

    “Prefiro me concentrar em atletas mães, já que eu mesma sou mulher, e acessar as atletas que desenvolvem suas carreiras de ponta mesmo depois de se tornarem mães”, disse ela, acrescentando ser uma “abordagem relativamente única”.

    O diretor japonês Kon Ichikawa durante registro da Olimpíada de 1972, em Munique
    O diretor japonês Kon Ichikawa durante registro da Olimpíada de 1972, em Munique
    Foto: Rainer Binder – 1.set.1972/Ullstein Bild via Getty Images

    Para isso, ela precisou entrar em contato com uma rede de jovens diretores fora do Japão ligados ao Nara International Film Festival (onde ela é diretora-executiva) para realizar filmagens no exterior, enquanto entrevistava atletas remotamente.

    Juntamente com esse material, ela disse que tem uma equipe de 100 pessoas, “circulando por todo o Japão”, gravando as pessoas que se preparam para os Jogos “com sentimentos muito positivos e voltados para o futuro”.

    No entanto, a lente de Kawase vai muito além da variedade usual de atletas e organizadores que normalmente encontramos nesses filmes. As circunstâncias têm desempenhado um papel. A curiosidade também. 

    “Quais são os sentimentos dos trabalhadores médicos, principalmente em Tóquio e em todo o Japão, que trabalham contra o novo coronavírus, durante este período?”, questionou. A diretora tem visitado um hospital e sua ala de Covid-19 para saber mais.

    Ela também está filmando a equipe de quarentena no Aeroporto Haneda, em Tóquio. Durante a pandemia, os trabalhadores da linha de frente trabalharam “mais do que (nunca) antes – mesmo sem descanso e comida suficientes”, acrescentou ela.

    “Acredito que as figuras que se esforçam dia e noite para tornar (os Jogos) o mais seguro e protegido possível representam uma parte verdadeiramente importante deste documentário.”

    Naomi Kawase durante as gravações do filme oficial dos Jogos Olímpicos de Tóquio
    Naomi Kawase durante as gravações do filme oficial dos Jogos Olímpicos de Tóquio
    Foto: Cortesia/Tóquio 2020

    Kawase até procurou aqueles que eram contra a realização dos Jogos em meio a uma pandemia e aqueles que se distanciavam dela, incluindo um voluntário que renunciou (ela não explica o motivo).

    “Acho muito importante manter os sentimentos negativos e positivos como registro desse período”, explicou ela. As Olimpíadas podem ser uma saída para a negatividade, ela sugere, em vez de sua fonte. “Os sentimentos são de ansiedade por nossa vida estar ameaçada pelo coronavírus e frustração; frustração com a quantidade insuficiente de informações do governo que levam a questionamentos sobre porque um evento tão grande deve ser realizado no Japão.”

    Seguindo os passos de uma lenda

    Essa busca pela verdade, por mais incômoda que seja, tem o potencial de irritar algumas pessoas (o Comitê Organizador de Tóquio 2020 escolheu Kawase, e o Comitê Olímpico Internacional deterá os direitos de seu filme depois de concluído).

    Ela não seria a primeira cineasta japonesa envolvida em uma Olimpíada a fazê-lo. O falecido Kon Ichikawa, que documentou os Jogos de 1964, teve seu filme detestado pelas pessoas que o encomendaram, que usaram sua filmagem para fazer outro filme.

    Enquanto o filme, “Sensação do Século” foi recebido educadamente, a impressionista e ousada “Olimpíada de Tóquio” de Ichikawa agora é saudada como um dos maiores filmes sobre esporte já feitos.

    Kawase, uma admiradora, o descreve como um “experimento muito desafiador”: um registro dos Jogos de 64 e uma narrativa contada pelos olhos de Ichikawa. Como ele, Kawase disse que quer focar na narrativa em seu documentário. 

    As Olimpíadas de 1964 e 2020 já têm muito em comum: ambas foram anunciadas como Jogos de “recuperação” para o Japão, a primeira em uma nação renascida após a Segunda Guerra Mundial, a última ligada ao ressurgimento de Fukushima após o desastre nuclear de 2011. 

    Kawase irá para a cidade antes da cerimônia de abertura para documentar o softball, que começa antes e retornará apenas para essa edição dos Jogos. Assim como Tóquio, Fukushima não terá espectadores.

    Quando os Jogos começarem em 23 de julho, ela estará nos bastidores do Estádio Nacional do Japão gravando cerca de 10.000 atletas entrando em uma arena quase vazia, “para capturar o que não pode ser visto na TV”. Após a cerimônia, o gramado será recolocado, pronto para o início do atletismo. Naturalmente, as câmeras de Kawase estarão lá durante a noite.

    “Este evento não pode se concretizar sem o apoio de quem está trabalhando em tarefas tão ingratas e estou pronta para filmar o fato, porque isso significa muito para mim”, explica.

    O filme deve ser concluído no início da primavera de 2022, com um lançamento japonês no mesmo verão. Ela admite que “o cronograma será bem apertado”, mas se tudo correr conforme o planejado, a estreia pode ocorrer no Festival de Cannes, em maio.

    “As próximas Olimpíadas serão realizadas em Paris. Eu gostaria muito de apresentar este filme no maior festival de cinema da França – claro, se for aceito em Cannes.” Ela não precisa se preocupar: o festival teve sete filmes olímpicos exibidos até agora.

    Uma Olimpíada como nenhuma outra terá um filme como nenhum outro. Teremos que esperar, mas todos os sinais sugerem que Kawase fornecerá uma perspectiva inestimável para os bilhões que não podem estar lá.

    (Texto traduzido; leia o original em inglês)