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    “Fica, Pelé!”: relembre as partidas de despedida do Rei do Futebol

    Última partida pela Seleção Brasileira, a última pelo Santos, a última como jogador profissional: foram algumas "despedidas" até que enfim Pelé entrasse em campo pela última vez.

    Pelé em sua última partida como jogador de futebol profissional, pelo New York Cosmos, em 1º de outubro de 1977, em partida justamente contra o Santos.
    Pelé em sua última partida como jogador de futebol profissional, pelo New York Cosmos, em 1º de outubro de 1977, em partida justamente contra o Santos. NY Cosmos / Reprodução

    Léo Lopesda CNN

    em São Paulo

    Os registros históricos são imprecisos para a grandeza do Rei do Futebol Pelé, morto aos 82 anos em São Paulo por complicações de um câncer de cólon.

    Pelo que indicam os números da CBF, Fifa, Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS), Guinness até os cálculos extraoficiais, o maior jogador de futebol da história disputou algo entre 1363 e 1375 partidas ao longo de sua extensa carreira.

    Última partida pela Seleção Brasileira, a última pelo Santos, a última como jogador profissional. Foram algumas “despedidas” até que enfim Pelé entrasse em campo pela última vez.

    O primeiro adeus veio relativamente cedo, quando o craque tinha 30 anos de idade. Em duas partidas, disputadas no estádio do Morumbi, em São Paulo, e no Maracanã, no Rio de Janeiro, em julho de 1971, Pelé deu seu adeus à amarelinha.

    No dia 11 de julho, para um Morumbi lotado com mais de 110 mil pessoas, Pelé entrou em campo pelo Brasil em partida contra a Áustria. Aos 32 minutos do primeiro tempo, anotou seu último gol em jogos oficiais pela Seleção Brasileira.

    Em um cruzamento rasteiro do ponta Zequinha, Tostão deixou a bola passar para chegar livre para Pelé tocar no canto esquerdo do goleiro.

    Na semana seguinte, no dia 18 de julho de 1971, no mesmo Maracanã onde marcou seu histórico milésimo gol, Pelé vestiu a camisa 10 brasileira pela última vez.

    De acordo com os registros do acervo do jornal O Globo, 138.575 pessoas emocionadas assistiram à volta olímpica do Rei ao final do primeiro tempo. Das arquibancadas, se ouvia o apelo: “Fica, Pelé, fica Pelé!”

    Manchete do jornal O Globo sobre a despedida de Pelé da Seleção Brasileira em 1974.
    Manchete do jornal O Globo sobre a despedida de Pelé da Seleção Brasileira em 1974. / Acervo O Globo

    Em 2010, em uma entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, Pelé contou que o regime militar, que já governa o país há 5 anos naquela altura, tentou persuadi-lo a voltar a vestir a camisa da Seleção para a Copa do Mundo de 1974.

    “Eles tentaram me persuadir a voltar a jogar, porque havia um interesse grande em que o Brasil fosse bem na Copa do Mundo de 1974,na Alemanha. Nós estávamos numa fase política muito difícil, no Brasil”, disse Pelé na entrevista.

    Eu me lembro de que tinha dado uma entrevista para Ziraldo, em que eu dizia que tinha ficado sabendo das barbaridades e das torturas que tinham sido feitas naquele tempo – de 1971 a 1973. Indignado com aquilo, uma das decisões que tomei foi a de não apoiar e não esconder o que estava acontecendo. Porque, cada vez que o Brasil ganha uma Copa do Mundo, esconde tudo: a fome, o desemprego, a saúde, a falta de moradia. O povo se envolve na alegria, naquela coisa de “Brasil” – e esquece de tudo.
    Eu não queria aquilo porque eu já tinha conhecimento de muita coisa: já tinha conversado com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Chico Buarque. Já tinha me encontrado com eles; sabia de coisas que estavam acontecendo. Tomei realmente esta decisão. Como eu ainda estava em grande forma – afinal, o Santos foi campeão em 1973 e fui artilheiro do campeonato – , houve uma procura da filha do general Ernesto Geisel, e políticos como Pratini de Moraes e Jarbas Passarinho. Falei com vários políticos na época: todos achavam que eu tinha de jogar. Mas minha decisão foi a de não jogar.

    Pelé, em entrevista a Geneton Moraes Neto
    O jogador Pelé dá a volta olímpica no estádio do Maracanã no jogo contra a Iugoslávia, que marcou sua despedida da Seleção Brasileira de Futebol, em 19 de julho de 1971.
    O jogador Pelé dá a volta olímpica no estádio do Maracanã no jogo contra a Iugoslávia, que marcou sua despedida da Seleção Brasileira de Futebol, em 19 de julho de 1971. / Estadão Conteúdo

    Três anos depois, no ano da Copa de 1974, Pelé fez sua despedida do Santos. O último gol pelo alvinegro praiano aconteceu em um jogo no dia 22 de setembro daquele ano, contra o Guarani pelo Campeonato Paulista.

    Pelé fez os dois gols do Santos na partida que acabou empatada em 2 a 2, no Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas. Curiosamente, o último jogo pelo Santos aconteceu alguns dias depois, em 2 de outubro, contra outro time campineiro, a Ponte Preta.

    De acordo com os registros do portal Acervo Santista, às 21h32, quando o relógio do juiz marcava 20 minutos e 10 segundos de jogo, o Rei do Futebol pegou a bola com as mãos, se ajoelhou no centro do gramado e abriu os braços para os mais de 20 mil pagantes.

    Chorando, Pelé tirou a camisa e deu uma volta olímpica enquanto era aplaudido de pé por toda a Vila Belmiro. Ele chegou a vestir a camisa santista outra vez, por exemplo, em 1975, na arena Fonte Nova contra o Bahia durante um torneio amistoso, mas a despedida oficial é a de 2 de outubro de 1974.

    Manchete do jornal Folha de S. Paulo no dia 3 de outubro de 1974 sobre a última partida de Pelé como jogador do Santos FC.
    Manchete do jornal Folha de S. Paulo no dia 3 de outubro de 1974 sobre a última partida de Pelé como jogador do Santos FC. / Acervo Folha

    No ano seguinte, Pelé desistiu de sua aposentadoria para assinar com o clube americano New York Cosmos.

    O futebol nos Estados Unidos ainda era amplamente desconhecido, com a então recém-nascida liga semiprofissional ainda povoada por times estranhos formados por zeladores latino-americanos, estudantes universitários e europeus trabalhadores do setor de construção civil.

    A chegada de Pelé a Nova York mudou isso, trazendo torcedores, visibilidade e glamour por um período efêmero em que o “soccer” – e não a versão norte-americana do futebol – se tornou a atração mais badalada da cidade.

    No dia 1º de outubro de 1977, Pelé fez sua última partida como jogador profissional, vestindo a camisa do NY Cosmos justamente contra o Santos.

    Na plateia de mais de 75 mil espectadores, nomes importantes como o então presidente americano Jimmy Carter e a lenda do boxe Muhammad Ali.

    O time americano venceu o jogo por 2 a 1, com direito a um gol de falta de Pelé, que, ao final da partida, deu mais uma volta olímpica de adeus aos gramados – dessa vez, de fato sua última partida como atleta profissional.

    Manchete do jornal O Estado de São Paulo em 2 de outubro de 1977 sobre o último jogo de Pelé como jogador profissional de futebol.
    Manchete do jornal O Estado de São Paulo em 2 de outubro de 1977 sobre o último jogo de Pelé como jogador profissional de futebol. / Acervo Estadão

    Apesar da emoção do momento, Pelé ainda entraria em campo algumas outras vezes para partidas amistosas.

    Em 1990, já com 50 anos, no dia 31 de outubro, ele pisou nos gramados pela última vez para uma partida realizada especialmente pela ocasião de seu aniversário de meio século.

    O jogo aconteceu em Milão, na Itália, no tradicional estádio Giuseppe Meazza, entre a Seleção Brasileira e uma seleção de craques do “Resto do Mundo”.

    O Brasil entrou em campo com Sérgio (Santos); Gil Baiano (Bragantino), Paulão (Cruzeiro), Adílson (Cruzeiro) e Leonardo (São Paulo); César Sampaio (Santos), Donizete Oliveira (Grêmio), Cafu (São Paulo) e Pelé; Charles (Bahia) e Rinaldo (Fluminense).

    Na equipe adversária, nomes como Carlo Ancelotti, Marco Van Basten e Higuita, com o treinador Beckenbauer.

    Pelé jogou 42 minutos da partida festiva sem algum lance de destaque. Ele foi substituído pelo jogador do Corinthians, Neto, que entrou e fez um gol de falta. O Brasil perdeu a partida por 2 a 1.