Primeira mulher secretária-geral da Fifa antecipa saída; interino assume cargo
Fatma Samoura deixa função após sete anos, mas inicialmente ficaria até dezembro; novo secretário atuou na costura das sedes das próximas Copas
A senegalesa Fatma Samoura, 61 anos, antecipou sua saída, anunciada em 14 de junho para o fim de dezembro, e não é mais a secretária-geral da Fifa. Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo, mas não só isso: foi a primeira pessoa não europeia a ter um dos cargos mais importantes do esporte mundial.
Em comunicado às 211 associações filiadas, com data de 5 der outubro, Samoura anunciou que deixou a função no dia anterior, 4 de outubro, e que Mattias Grafström, o secretário-geral adjunto para o futebol, assumiu interinamente o cargo. Há possibilidade de ele ser efetivado, apurou a Itatiaia.
O sueco Grafström é um executivo de carreira da entidade e que, nos últimos anos, atuou como braço direito de Infantino como chefe de escritório do cartola. Sua promoção, em janeiro de 2021, a secretário-geral adjunto já mostrava que o presidente teria forte participação nas decisões referentes às competições da entidade, já que o cargo do sueco era comandar os preparativos para a realização dos eventos da Fifa, incluindo, claro, as Copas do Mundo.
Foi sob a regência Grafström que foi costurado para que a Copa do Mundo de 2030 fosse entregue à candidatura europeia e africana com Portugal, Espanha e Marrocos. E que a concorrente América do Sul ganhasse um prêmio de consolação com três jogos inaugurais da competição, chamados de celebração pelos 100 anos do Mundial, que começou em 1930 no Uruguai.
O sueco também esteve à frente da antecipação do envio das candidaturas para Copa de 2034, processo que será feito junto com à de 2030, com término previsto para o fim de 2024. Há críticas sobre esse procedimento, que tende a beneficiar a candidatura da Arábia Saudita, que já está mais adiantada do que outros pretendentes, como a Austrália.
A saída de Samoura
Fatma Samoura assumiu como secretária-geral da Fifa em junho de 2016, logo depois de Gianni Infantino ser eleito presidente em meio ao maior escândalo de corrupção do futebol, o chamado Fifagate.
Dezenas de dirigentes esportivos, principalmente das Américas, foram presos acusados de receber propina para vender a agências os direitos comerciais de campeonatos que organizavam. José Maria Marin, ex-presidente da CBF, estava entre os envolvidos.
O então presidente da Fifa, Joseph Blatter, foi obrigado a renunciar, e Infantino assumiu com o discurso de renovação. Colocar Samoura, uma diplomata da África que trabalhou por anos, em diferentes cargos, na ONU (Organização das Nações Unidas) como secretária-geral foi considerado um movimento estratégico de Infantino para aqueles que duvidavam que a Fifa pudesse renovar seus quadros.
Nos sete anos na função, Samoura atuou mais como uma embaixadora, representando a Fifa mundo afora, perfil um pouco diferente dos secretários-gerais anteriores, que participavam ativamente de negociações políticas para as escolhas das sedes das Copas do Mundo, por exemplo. Para questões mais burocráticas a Fifa criou as funções para dois secretários-gerais adjuntos, que a auxiliavam no dia a dia.
Samoura foi importante no passo dado pela Fifa de profissionalizar de uma vez o futebol feminino, que encerrou em agosto mais uma edição da Copa do Mundo, na Oceania, com o maior número de participantes da história, 32, e provavelmente também a maior receita.
Internamente, Samoura era bem vista por todos os membros do Conselho da Fifa, 32 ao total, incluindo os presidentes das confederações continentais. Mas sua saída, apurou a Itatiaia, não foi vista com surpresa por alguns membros: há conhecimento de que Infantino quer como sucessor da senegalesa alguém que divida com ele as negociações políticas com clubes, federações e confederações em um momento em que a Copa do Mundo masculina passará a ter 48 participantes e um Mundial de Clubes novo, para 32 participantes, será organizado a partir de 2025.
Esta pessoa pode ser Mattias Grafström.