Opinião: Racismo contra Vini Jr sequestra o futebol e protege criminosos
Jogador é vítima de um "roteiro racista" que xinga e pune quem não endossa com prática criminosa
Racismo é crime no Brasil. Racismo é crime na Espanha. E ponto. Qualquer defesa para uma atitude criminosa é, simplesmente, endossar a prática criminosa. No caso de Vini Jr, a defesa para os criminosos é desproporcional em comparação às punições. As instituições, simplesmente, protegem criminosos e expõem o jogador à violência racial gratuita.
A novidade é zero. O brasileiro foi vítima, pelo menos, uma dezena de vezes na Espanha. O episódio no jogo do Real Madrid contra o Valencia é apenas a ponta de um iceberg de letargia. A falta de ações de um grupo permite a ação de outro.
Desde o primeiro caso registrado, em 2021, faltou uma posição enfática do Real Madrid. O principal clube da Espanha tem poder de cobrar e precisa proteger, enquanto empresa, o seu maior ativo. Faltou também uma posição do elenco em, simplesmente, sair de campo voluntariamente nos casos de racismo.
Daí pra frente, tudo piora. Parte da imprensa espanhola culpa Vini por ser vítima de racismo ao reagir. A La Liga faz o mesmo e alega ter limitações para agir contra este problema.
As autoridades espanholas, principalmente o Ministério Público, simplesmente fingiram não enxergar que um estrangeiro de 22 anos está sendo alvo de uma campanha organizada de crimes de ódio que variam do xingamentos a um “boneco enforcado”. Nada foi feito para punir. A diretoria da La Liga prefere acusar que defender. A diretoria do Valencia acha mais ofensiva a reação que o crime em si.
Porém, de repente, tudo virou urgente. O Real denunciou, o Valencia prometeu punir torcedores e as autoridades se manifestaram. Chegamos ao ponto do envolvimento diplomático com manifestações do governo brasileiro cobrando explicações das autoridades espanholas.
Afinal de contas, qual a garantia da segurança física, moral e psicológica de Vinicius? Agressões contra negros não são novidade (nem nunca foram, vide centenas de anos de escravidão). A mácula deixada por anos de escravidão promovida por espanhóis está em toda a América Latina. Parte daí o direito de achar que vale tudo contra um negro brasileiro.
O racismo sequestrou o futebol. Ninguém fala da partida, pouco interessa o resultado do jogo. Temos um dos melhores atletas do mundo querendo sair, um árbitro que, inicialmente, não tratou do crime na súmula do jogo e cobrança da Fifa pela aplicação de um protocolo que defende criminosos.
O estádio virou uma cena de crime
Já pensou na possibilidade de um documento oficial defender o direito de um agressor sexual receber uma “bronca” depois de cometer um estupro? Bizarro, mas é isso que o protocolo da Fifa defende. Duas interrupções e aviso aos criminosos para que parem. Só depois a partida é cancelada. O crime já foi feito. É tarde. Ali não há mais futebol. O estádio virou uma cena de crime. Crime que, depois, não tem sequência em investigação e punição.
Em campo, preferiu-se a expulsão do jogador e oferecer a ele uma possível punição pesada por reclamar pelo direito de ser respeitado. E claro que não faltou um mata-leão. Vini foi tratado como um escravizado do século XVIII.
Em resumo, este episódio, assim como todos os outros, apresenta o que eu chamo de “roteiro racista”. Primeiro, pratica-se o crime. O tempero está na animalização de um ser humano chamando de “macaco”, pois na cabeça de um racista um homem negro não pensa e nem é gente. O roteiro continua com a indiferença. Ninguém toma providência, nada é feito e o reclamante é tratado como um “exagerado” ou incapaz de perceber uma piada ou uma atitude cotidiana. A terceira parte do roteiro racista é a negação.
É uma atitude cruel e covarde, mas real e organizada. A culpa, dali para frente, é da vítima. A reação dele é desproporcional, errática e, no fundo, todos reconhecem que o racismo existe, publicam hashtags por aí, mas ninguém é racista. É um crime sem criminosos. E, por fim, temos o “ato de fênix”, ou seja, o renascimento dos racistas protegidos por instituições e acordos não escritos. Moralmente, os racistas se defendem por direitos de liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, as instituições não punem devidamente.
O racismo parece ser uma máquina muito bem lubrificada. Funciona muito bem do começo ao fim moendo a carne mais barata que existe: a carne negra. E quanto ao futebol? Se ele devolver lucro para os envolvidos, não importa a que preço, então o futebol que se dane!